Pesquisa aponta que crianças acessam até quatro redes sociais por dia

Tecnologia que pode auxiliar na aprendizagem, muitas vezes é utilizada de forma prejudicial à saúde das crianças

Jonathas Gomes, do jornal A Tribuna | 25/04/2024, 14:40 14:40 h | Atualizado em 25/04/2024, 13:52

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/Pesquisa-aponta-que-criancas-acessam-ate-quatro-re0017814100202404251353/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FPesquisa-aponta-que-criancas-acessam-ate-quatro-re0017814100202404251353.jpg%3Fxid%3D789976&xid=789976 600w, Ângela Baratella costuma conversar com os filhos João  e Joaquim sobre o lado bom e ruim das redes sociais

O acesso a uma plataforma de conteúdo digital pode ser uma porta de entrada para outras. Um questionário apontou que 57,2% das crianças acessam pelo menos quatro redes sociais, diariamente.

O YouTube (50,2%), o TikTok (42,1%) e o Instagram (42,1%) são as plataformas mais acessadas. Os dados são de um questionário aplicado pela Empresa Júnior da Universidade Vila Velha (EJUVV).

O professor da UVV Fabrício Azevedo, orientador do questionário, analisou que a navegação em uma rede social pode levar as crianças a utilizarem outras plataformas de conteúdo digital.

“Quando a criança acompanha um influenciador mirim, ela o busca em todas as plataformas, até porque, dentro de uma rede social, há diversas propagandas para instalação de aplicativos das outras redes. Às vezes, a criança só clica e vai navegando por todas. Os pais precisam checar como os filhos usam a internet”, observa.

Alerta

A neuropsicopedagoga Geovana Mascarenhas aponta pontos positivos do uso da tecnologia, mas alerta para cuidados no acesso de crianças e de adolescentes.

“A tecnologia ajuda a desenvolver o raciocínio lógico e pode ser uma excelente aliada na aprendizagem, mas precisa ser feita com muita cautela e responsabilidade, do contrário, acarreta um acúmulo de estímulos desnecessários e excessivos”.

24% usam antes dos 6 anos

A magia de brincar, de compartilhar brinquedos e de mergulhar em histórias divertidas de “faz de conta” já não domina os momentos de lazer de algumas crianças. Cerca de 24% delas começam a usar a internet antes dos seis anos.

Os dados são da pesquisa do Cetic.br, um centro de estudos ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, em parceria com a Unesco.

O excesso de exposição ao ambiente virtual provoca efeitos que prejudicam o desenvolvimento pleno das crianças, alerta a neuropsicopedagoga Geovana Mascarenhas.

“O excesso e a superexposição podem causar modificações na estrutura cerebral, afetando negativamente seu desenvolvimento cognitivo e emocional. As consequências vão desde a qualidade do sono e a socialização, até desregulação mental e física, como postura inadequada”.

A presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco, defende que a regulação das redes sociais é um passo necessário, mas as famílias precisam, antes de tudo, conscientizar as crianças sobre os perigos do ambiente virtual.

“Antes mesmo da regulação das redes sociais vir, precisamos ter cuidado e fazer autocrítica. O ambiente digital é muito rico, traz grandes oportunidades, mas também precisa ser entendido como um espaço de risco, onde crianças estão expostas a conteúdos inadequados. Antes de aprenderem a ler, as crianças já estão nos celulares”.

A casa da advogada e pedagoga Ângela Baratella, 47, é um exemplo positivo de diálogo sobre o acesso à internet e às redes sociais. Para ela, deixar os filhos João, 16, e Joaquim, 12, sozinhos na internet é como “deixá-los sozinhos em uma rua”.

A estratégia, então, é explicar de forma educativa os benefícios e os malefícios das redes sociais e plataformas digitais.

“Nenhuma forma de controle parental deve ser impositivo. Tudo o que é proibido é bom. Já fomos adolescentes e sabemos disso. Nós permitimos conversando. Proibimos, por exemplo, o TikTok em casa, mas com diálogo e explicando os malefícios”.

A advogada e pedagoga defende ainda que aplicativos de controle parental são úteis, mas são apenas ferramentas.

“O que dá segurança, hoje, é o diálogo e a parceria com os filhos. Às vezes, eu pergunto: ‘Posso jogar com você? Posso ouvir a sua playlist?’. Os pais têm uma falsa ideia de que o aplicativo de controle parental deixa tudo ‘sob controle’”.

Pais não controlam conteúdos

O comportamento das famílias capixabas em relação ao uso das redes sociais por crianças e adolescentes, revelado pelo questionário da EJUVV, aponta ainda outros dados preocupantes: 34% dos pais não controlam o conteúdo acessado pelos filhos.

Para o professor da UVV Fabrício Azevedo, o controle do conteúdo consumido pelos filhos nas redes sociais é um ponto sensível porque, com os responsáveis trabalhando em período integral, a criança pode ter acesso livre à internet.

“É uma forma de manter a criança focada em uma única coisa e não ter a responsabilidade de ficar o tempo inteiro fazendo interação com ela. Quando os responsáveis não estão por perto, os filhos podem gastar até duas ou três horas na internet”.

De acordo com o questionário, 23,9% dos pais entrevistados admitiram que os filhos chegam a usar as plataformas digitais por mais de três horas diariamente.


Saiba mais

Perigos

A superexposição às redes sociais pode causar modificações na estrutura cerebral das crianças e dos adolescentes, afetando negativamente o desenvolvimento cognitivo e emocional.

Entre os efeitos comuns do excesso das redes sociais estão a sensação de isolamento, a ansiedade, o esgotamento mental e a redução da qualidade do sono, por exemplo. Esses sintomas podem surgir de forma acompanhada ou isolada, a depender da gravidade da exposição da criança às redes sociais.

A irritabilidade e o desinteresse por atividades fora da vida virtual, como a pintura, o desenho, os jogos de tabuleiro e a socialização com outras crianças e com a família, são outros possíveis sintomas do excesso de redes sociais.

Os anos da adolescência são um período vulnerável para o desenvolvimento do cérebro. Pesquisas demonstram uma correlação entre o uso excessivo de redes sociais e a depressão e a ansiedade, bem como falta de sono, assédio on-line e baixa autoestima em adolescentes.

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Universidade de São Paulo (USP) e especialistas consultados.

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