Maria Pavesi: “No passado, as pessoas eram mais elegantes”

A costureira aposentada Maria Matildes Pavesi, de 100 anos, explica a mudança no estilo ao longo das décadas

Jonathas Gomes, do jornal A Tribuna | 18/03/2024, 19:00 19:00 h | Atualizado em 18/03/2024, 17:13

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/Maria-Pavesi-No-passado-as-pessoas-eram-mais-elega0017225400202403181714/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FMaria-Pavesi-No-passado-as-pessoas-eram-mais-elega0017225400202403181714.jpg%3Fxid%3D758743&xid=758743 600w, Maria Matildes da Conceição Pavesi mostra seus álbuns de fotos: mineira se apaixonou por Vitória

“Desde nova, sinto que tenho afinidade com as artes. A música, a dança, o teatro e a pintura sempre estiveram presentes na minha vida. Para cuidar dos meus filhos, inclusive, tive de ter o domínio de uma arte cada vez mais rara nos dias de hoje: a costura à mão.

Quando unimos tecidos, construímos padrões e harmonizamos cores nas roupas, transformamos uma ideia da imaginação em realidade.

Nós, costureiras, realçamos a beleza das pessoas. Há um glamour em se vestir bem que, hoje, estamos perdendo. No passado, as pessoas eram mais elegantes.

Essa elegância não tinha relação com a classe social. Eu nasci em uma família humilde de Aimorés, em Minas Gerais, há 100 anos. Mesmo naquela época e no interior, havia um cuidado com a forma de se vestir, de se colocar no mundo e de se relacionar com os outros.

Meu marido, Bento Pavesi, e eu sempre prezamos por transmitir esses valores aos nossos filhos e filhas. Lembro-me que, quando levávamos eles para votar, vestíamos nossas melhores roupas. As pessoas faziam questão de se arrumar para ir às urnas e exercer o direito de escolher os representantes do povo.

O estilo de roupa era diferente, claro. Usávamos vestidos godê, bem rodados e com muitos babados. Já os homens vestiam o melhor terno, deixavam os rostos sempre lisos e tinham belos relógios nos pulsos. Em todos os lugares, essa era a moda, mas, claro, tudo é diferente nas maiores cidades.

Mudança

Foi o que percebemos quando viemos para Vitória. Eu já era casada e, aos 20 anos, fiz a mudança junto ao meu marido e à primeira de nossas filhas. Na época, ele assumiu um emprego em uma grande empresa de mineração, o que mudou o rumo de toda a nossa família.

Desde que vi pela primeira vez as belezas de Vitória, me apaixonei. Foi a primeira vez que vimos o mar, por exemplo. O Espírito Santo sempre foi um ótimo lugar para criar os filhos e construir uma família. Tanto que pudemos oferecer melhores condições de vida a todos os filhos.

Hoje, tenho netos formados nas diferentes áreas de atuação, como Administração e Moda, por exemplo. Há até alguns que construíram outros caminhos e foram morar na Europa, por exemplo.

Mesmo com as dificuldades que enfrentamos, lutamos por uma vida melhor. Sinto orgulho e felicidade em ver a prosperidade de todos que amo.

Transformações

Nos meus 100 anos, acompanhei os maiores acontecimentos do Brasil e do mundo. Acho que, olhando em perspectiva, não imaginaria que tanta coisa se transformaria. Lembro-me como a criação da televisão foi revolucionária para a informação. Era como o rádio, mas com imagem e em casa.

Depois, com a chegada da televisão a cores, pudemos nos aproximar de qualquer lugar do mundo e saber, em algum nível, como eram os outros países. Por muito tempo, eu consegui acompanhar essas transformações, mas, nos últimos anos, já não consigo acompanhar a internet. Com ela, tudo muda muito mais depressa.

Ainda assim, acho importante conhecer o mundo, se apropriar das mudanças, estar aberta ao novo e continuar aprendendo, mesmo na terceira idade. Talvez, esse seja um dos segredos da longevidade.

Orações

Nas minhas orações, peço a Deus anos e anos de vida. Viver é um presente. Quando me perguntam sobre o que eu fiz para viver tanto, costumo dizer que o principal é levar uma vida leve, se manter para cima e não deixar que a tristeza tome conta dos dias.

Eu me rodeio de coisas belas. Pelas manhãs, vou à praça do meu bairro tomar sol e ter contato com o mundo. Costumo ler, praticar jogos de tabuleiro, pintar, bordar e conversar. Minhas unhas e meus cabelos estão sempre bem pintados e cuidados. São hábitos simples, mas que me mantém feliz e me fazem sentir a vida”.

Quem é

- Maria Matildes da Conceição Pavesi, de 100 anos, é costureira aposentada. Natural de Aimorés, em Minas Gerais, a idosa vive no Espírito Santo há cerca de 80 anos.

- Apaixonada pelas artes, ela já praticou dança, teatro, pintura e se envolveu com a música. Na entrevista, Dona Matildes, como é conhecida, fala sobre as transformações comportamentais na moda e nos costumes ao longo das décadas.

Depoimento ao repórter Jonathas Gomes.

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