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Terezinha Bodart: “Presenciei os idosos voltarem às salas de aula”

Artista plástica e administradora de 85 anos conta que voltou à faculdade aos 70 para realizar o sonho de estudar Artes Plásticas


Imagem ilustrativa da imagem Terezinha Bodart: “Presenciei os idosos voltarem às salas de aula”
Terezinha Bodart mostra algumas pinturas que fez durante o curso de Artes Plásticas na Ufes |  Foto: Leone Iglesias / AT

“Nos meus 85 anos de vida, percebo uma transformação no imaginário popular sobre os idosos. Para muitas pessoas, a terceira idade é a fase de realização dos sonhos da juventude. Eu presenciei os idosos voltarem às salas de aula para estudarem o que amam. Aliás, não só vi: eu vivi isso.

Quando jovem, eu tive a oportunidade de ser uma das únicas mulheres do curso de Administração na Faesa. Era a terceira turma da faculdade. Lá, fiz amigos, aprendi a profissão e pude conquistar o diploma que me permitiu ascender no emprego que eu tinha como funcionária pública na Receita Federal.

Leia mais sobre O que eu vi e vivi

Meu coração, contudo, sempre pertenceu às artes. Lá pelos 70 anos, eu retornei à faculdade para estudar Artes Plásticas, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e vivi os quatro anos mais felizes da minha vida. Para a pequena Terezinha Bodart, que perdeu a mãe para a tuberculose quando tinha apenas 6 anos, esse não era um sonho possível.

Amazônia brasileira

Nasci no centro de Vitória, em uma família de sete irmãos. Meu pai trabalhava como assistente administrativo e, como éramos uma grande família, não tivemos muitas facilidades na vida.

Com a Segunda Guerra Mundial, houve um grande pico na produção de borracha e meu pai foi ser seringueiro no extremo oeste da Amazônia brasileira.

Foi um grande contraste: em Vitória, vivíamos perto do mar, em uma charmosa cidade perto da, então, capital nacional, o Rio de Janeiro. Lá, fomos para Fortaleza do Abunã, que hoje é um distrito de Porto Velho, em Rondônia. Vivíamos em meio à floresta amazônica, em uma casa simples e com pouquíssimos recursos.

Tínhamos uma vitrola e ouvíamos música todos os dias. Certo dia, deixamos um disco tocando e saímos de casa. Quando voltamos, lembro-me de um indígena dentro de casa, encantado com o instrumento e com uma expressão de surpresa ao ouvir o som. Certamente, ele nunca havia visto uma vitrola na vida.

Embora eu fosse muito pequena, tenho memórias de etnias indígenas que viviam em toda a região em que morávamos. Tínhamos dificuldade de comunicação com eles, já que eles não falavam português e nós falávamos as línguas indígenas. Não demorou muito para percebermos o sofrimento daquelas pessoas.

Naquela época, vivíamos um grande surto de febre amarela e de tuberculose. Vi essas doenças dizimarem os povos indígenas, que eram totalmente desamparados pelo Estado - como, até hoje, o são. As condições de vida eram muito ruins e, com as doenças, milhares morreram naquele momento histórico.

Doenças

Vivemos na pele o sofrimento dos seringueiros. Muitos não estavam preparados para aquele regime de trabalho. Fora que não tínhamos imunidade para enfrentar as doenças endêmicas da região amazônica. Toda a minha família contraiu a febre amarela e, infelizmente, minha mãe morreu de tuberculose.

Viver naquelas condições não era o sonho de um pai para a sua família. Após a doença de mamãe, decidimos voltar para Vitória. Aqui, vivemos momentos também difíceis para a família, mas pudemos ter acesso a condições para melhorar a vida.

Quando eu me tornei servidora pública da Receita Federal, percebi que precisava de uma graduação para crescer profissionalmente. Foi então que iniciei a administração. Embora eu fosse uma das únicas mulheres do curso, sempre me senti muito respeitada por todos os colegas.

Conquista

Estive recentemente nas salas de aula e agora o cenário é outro: nós, mulheres, estamos assumindo postos de liderança e conquistando nosso espaço. Vez ou outra, vejo pesquisas que constatam a desigualdade salarial entre homens e mulheres no mercado de trabalho e, sem dúvida, é uma das nossas maiores lutas, mas acredito em um futuro mais igualitário.

Estudar Artes Plásticas me deu novos sentidos à vida. Na minha casa, há diversas pinturas que realizei durante o curso, além de um livro, que foi o meu trabalho final de curso, com pinturas de pontos turísticos e de personalidades que marcaram a história de Vitória.

Hoje, já não pinto porque decidi buscar outras vivências, principalmente após a pandemia, um momento histórico que eu nunca imaginei que viveria. Quero viajar, conhecer o mundo, buscar novos hobbies e ser feliz. Já fiquei dois anos em casa, com medo de um vírus.

Acredito que o segredo da felicidade e da longevidade é buscar saber se adaptar e entender que o que buscamos está em nós mesmos. Enquanto buscarmos a felicidade no outro ou em qualquer coisa externa, estaremos distantes de encontrar aquilo que, em nós, traz-nos sentido para a vida”.

Quem é

Terezinha Bodart, de 85 anos, é artista plástica e administradora. Aos 70 anos, voltou às salas de aula para estudar o que ama: Artes Plásticas.

Na entrevista, Terezinha conta sua percepção sobre a mudança no imaginário popular em relação às pessoas idosas.

Durante um período da infância, a artista plástica morou na Amazônia brasileira e conta também os dramas vividos pelos povos indígenas e pelos seringueiros.

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