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“Bondes eram o ponto de encontro dos apaixonados”, diz agitador cultural

Raimundo “Gentileza”, conhecido por levar cultura ao Morro dos Alagoanos, conta que sente saudades da antiga Vitória


Imagem ilustrativa da imagem “Bondes eram o ponto de encontro dos apaixonados”, diz agitador cultural
Raimundo de Oliveira e a Escada da Gentileza, criada por ele há 25 anos no Morro dos Alagoanos |  Foto: Fabio Nunes/AT

“Na vida, às vezes, muitos demoram a entender a própria missão. Para mim, isso nunca aconteceu.

Sou de família humilde, um capixaba de Vitória, com origem pernambucana, mas as barreiras físicas e invisíveis nunca me impediram de sonhar. Eu sempre soube da minha vocação cultural. Respiro cultura desde os 11 anos de idade.

Nós, capixabas, somos rodeados por tradições culturais. A nossa culinária é marcante e apreciada por todo o Brasil, por exemplo. Nosso modo de viver mudou muito nos últimos anos, admito, mas foi assim em todas as capitais.

Nostalgia

Tenho nostalgia da antiga Vitória, e, durante a minha trajetória, vejo alguns dos nossos ícones como verdadeiros personagens da cidade. O principal deles eram os bondes, por exemplo.

Os bondes eram o ponto de encontro dos casais apaixonados. Lembro-me de já ter ido a um encontro amoroso para fazer esse passeio.

Eles cruzavam toda a cidade para ligar o centro de Vitória à Praia do Canto e se integravam ao cotidiano capixaba.

Que saudade tenho dos bondes! Era o melhor transporte de Vitória, porque nos permitia conhecer gente, sentir a brisa do mar e ver a cidade por ângulos únicos, que não saem da memória. Era, sem dúvidas, a mais bela rota de bonde do País.

Transformações

Quando eu era criança, todos os morros em volta do Centro eram florestas e, conforme a população chegava de outros lugares em busca de trabalho, a ocupação vinha acompanhada da construção de uma cultura popular genuinamente capixaba, da união dos povos.

Vitória sempre foi uma cidade linda, charmosa e romântica, inclusive. A cultura era efervescente, se fazia presente e agitava o cenário local. Os cinemas de rua eram uma tradição no centro de Vitória, com filas que davam voltas nos quarteirões.

Preconceito

Não é novidade, contudo, que nós, do Morro dos Alagoanos e de outros morros, não recebíamos a atenção necessária do poder público, principalmente na área cultural. A cultura cria pertencimento, dá autoestima e combate a exclusão social. Quando se diz que mora no morro, lá embaixo, a rejeição ainda existe.

Eu não aceito, e, por isso, dediquei a minha vida a construir outras representações a nós, do Morro dos Alagoanos. Aqui, só passa gente bonita e educada. Moças lindas me abraçando, rapazes bonitos me cumprimentando, senhoras e senhores.

Eu rompi essa barreira e sou respeitado em qualquer lugar da cidade, mas não é a realidade de todos daqui.

Escada da Gentileza

Foi por isso que, há 25 anos, decidi fazer a Escada da Gentileza, e daí veio o apelido Raimundo “Gentileza”. Eu senti que precisava alegrar o dia a dia dos moradores. Pintei a escada, e, logo depois, percebi que faltava algo. Decidi escrever nela, e, assim, estimular os cumprimentos de “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”.

Com a velocidade da rotina, ninguém contempla a vida. A pressa substitui a contemplação, mas, com a arte, acredito que consigo aguçar a sensibilidade e a gentileza nas pessoas, apesar da correria.

Cultura

Nunca precisamos tanto de cultura e de arte para levar a vida. Hoje, há diversos editais e oportunidades para construir um projeto cultural, o que é um grande avanço para a sociedade capixaba. Vivemos, talvez, um dos melhores momentos da cultura no Estado.

Em relação à gentileza, no entanto, vivemos tempos melhores no passado. As pessoas eram mais educadas, tinham tempo, brigavam menos, se saudavam. Por isso, levar a arte e a cultura para o cotidiano é tão importante: elas são poderosas aliadas da gentileza, da inclusão, do respeito ao próximo e da identidade de um povo”.

PERFIL

> Raimundo de Oliveira da Silva, de 76 anos, conhecido popularmente como Raimundo “Gentileza”, é morador e agitador cultural do Morro dos Alagoanos, em Vitória.

> É criador do Festival de Música de Botequim (Femusquim) e promove diversas ações de gentileza no Morro dos Alagoanos, como a fundação da “Escadaria da Gentileza”, o plantio de árvores, a pintura de muros e a criação de uma biblioteca para a comunidade.

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