Mobilidade urbana: Benefícios para a saúde e economia com mudanças
Especialistas garantem que investimento na mobilidade ativa incentiva caminhadas e ocupação de espaços de lazer e cultura
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As mudanças no trânsito, incentivando a mobilidade ativa com caminhadas e pedaladas, não trazem benefícios apenas para o deslocamento pela cidade, mas também trazem mais saúde, melhora a economia e também a segurança.
Isso é o que mostram os estudos, segundo a professora Patrícia Stelzer da Cruz, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faesa.
“O desenho urbano que inclui as pessoas, promove a segurança pública. Calçadas acessíveis e ciclovias iluminadas permitem o fluxo de pessoas durante o dia e à noite. Sendo mais utilizados, tornam o espaço mais seguro. O autor deste conceito é Bondaruk, que pesquisou a relação entre segurança pública e desenho urbano”.
A presença de pedestres e ciclistas circulando nos bairros e vias secundárias gera um movimento que dinamiza o comércio local, explica ainda a professora.
“Além disso, torna mais seguro o ambiente e quanto mais estes percursos estiverem na rota de acesso às escolas, áreas de trabalho e lazer, mais dinâmico o comércio”, destaca.
Para o cardiologista Schariff Moysés, as mudanças nas cidades para priorizar pedestres e ciclistas interferem na saúde ao incentivar a atividade física.
“O sedentarismo é um vilão para o organismo, mas que podemos combater com a ajuda de todos, inclusive do poder público. Cerca de 5 milhões de mortes por ano, como as por doenças cardiovasculares, poderiam ter sido evitadas se a população fosse mais ativa fisicamente. Caminhadas, corridas ou pedaladas, auxiliam no controle do peso, diabetes, pressão alta, além de melhorar a qualidade do sono e a saúde mental”.
Com o uso excessivo do carro, as pessoas deixaram de se movimentar e realizar exercícios físicos como parte dos deslocamentos do dia a dia, observa a educadora física Catiane Almeida, sócia-proprietária da SoulFit Studio Boutique.
“Se a pessoa utiliza bicicleta, caminha ou usa patins para se locomover, se mantém ativa. Isso, além do sedentarismo, reduz problemas respiratórios pela diminuição da poluição com a restrição do uso de equipamentos motorizados. Enfim, teremos melhora da saúde física e mental, inclusive retardando o envelhecimento e diminuindo problemas como a ansiedade e a depressão”, reflete.
Condomínios viram minibairros
Salas de home office, padarias, escritórios, academia e até ruas próprias.

Seja para evitar deslocamentos, dar conforto ou aproveitar os espaços, a disponibilidade de atividades e equipamentos dentro dos condomínios tem transformado os empreendimentos em minibairros, e quanto maior o padrão, mais equipamentos à disposição.
Situado entre as ruas São Paulo e Erothildes Penna Medina, na Praia da Costa, o empreendimento do grupo Apex, o Showa Nature Living, vai ter uma rua exclusiva.
“Entendemos que a rua São Paulo tem um grande fluxo, então a entrada pela rua Erothildes Penna Medina conta com uma rua interna exclusiva. Por ela, circularão moradores, visitantes, motoristas de aplicativos e delivery”, conta a arquiteta Janaína Lisieux Faria.
No Taj Home Resort, também em Vila Velha, terá até mesmo SPA, adega, piscina com mais de mil metros quadrados, sala de massagem privativa, entre outros equipamentos.
Outros empreendimentos usam parte do projeto para o aluguel de lojas, que também diminuem grandes deslocamentos dos moradores e vizinhos.
A professora do mestrado de Arquitetura e Cidade da UVV, Larissa Andara Ramos, diz que essa é uma tendência, mas que também é preciso entender o quanto isso reflete na vitalidade urbana em torno do empreendimento.
Frota aumenta 40% em 10 anos
A frota de carros na Grande Vitória aumentou mais de 40% em 10 anos, segundo os dados do Observatório de Trânsito do Espírito Santo. Em 2012, eram 1.559.228 veículos, mas, com o crescimento constante nos últimos anos, a frota do Estado este ano já conta com 2.190.709 veículos.
O automóvel começou a ganhar espaço, segundo o professor Tarcísio Bahia, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes, durante a revolução industrial.
“Foi quando houve uma priorização aos automóveis porque essa era a forma de locomoção. Trouxe uma sensação de liberdade, por poder andar longas distâncias de forma mais confortável, mas também tinha muita relação com status. Com isso, as cidades se tornaram reféns dos automóveis e são até hoje”, conta.
Para a professora Patricia Stelzer, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faesa, uma grande questão hoje no mundo é a falta de espaço. “Os automóveis ocupam muito espaço e a quantidade de veículos colocam em risco o ciclista e o pedestre”, observa.
O espaço e a infraestrutura viária não comportam essa demanda, enfatiza a professora Ramona Faitanin do curso de Arquitetura e Urbanismo da UCL.
“Precisamos de uma escolha coletiva de privilegiar o investimento público em outros modais. Uma forma eficiente de levar as pessoas a usarem o transporte coletivo é a redução do tempo”, analisa.
E continua: “enquanto o transporte particular for mais rápido e confortável, será difícil fazer essa mudança. Sem essa mudança de perspectiva, tanto o transporte público quanto o individual tendem a sofrer cada vez mais com longos engarrafamentos”, reflete.
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