Laudo aponta que peixe do Rio Doce está contaminado
Estudo revelou que os peixes estão impróprios para consumo. Foram encontradas substâncias que podem causar doenças
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Um laudo solicitado pela Justiça apontou que os peixes do Rio Doce estão contaminados e impróprios para o consumo. Entre os metais pesados encontrados, estão mercúrio, metilmercúrio, arsênio inorgânico e bifenilas policloradas.
Segundo especialistas, essas substâncias podem causar doenças como câncer, além de intoxicações graves e até levar à morte.
O laudo solicitado pela 12ª Vara Federal Cível e Agrária da Seção Judiciária de Minas Gerais faz parte do processo sobre o rompimento da barragem de Mariana (MG), que despejou rejeito de minério no manancial, em 2015.
A coordenadora do Grupo de Trabalho de Reparação do Rio Doce do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Elaine Costa de Lima, afirma que o laudo ainda precisa de complementos.
“Pelo laudo, os peixes estão impróprios para consumo, devendo a análise ser complementada por profissionais da saúde, para esclarecerem sobre os riscos à segurança alimentar e à saúde humana”.
De acordo com o professor do Mestrado de Ecologia de Água Doce, Marcelo Moretti, ao entrar em contato com a água, as substâncias são incorporadas em algas e vegetais, atravessando a cadeia alimentar até chegar ao consumo humano.
“Ao entrar em contato com os organismos, elas alteram as atividades das células, gerando uma série de doenças. Dependendo da situação da pessoa, pode agravar doenças ou condições como a gravidez, causando graves riscos ao feto”.
O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Mário Sérgio Zen, alerta que cada substância demora meses para ser eliminada do organismo, caso seja consumida.
“Mesmo consumindo peixes ou a água em pequenas quantidades, ao longo do tempo essas substâncias podem levar a grandes consequências, como doenças de pele, câncer, intoxicações graves e até mesmo a morte”.
Os municípios de Aracruz, Baixo Guandu, Colatina, Linhares, Marilândia e São Mateus fizeram parte do laudo. Para o presidente da Colônia dos Pescadores de Linhares, Milton Jorge, o sentimento é de tristeza. “É mais uma tragédia na vida do trabalhador que está pegando peixe. Esperamos que a Justiça seja feita”.
A tentativa de acordo no processo reparatório acabou sem consenso. Segundo Elaine Costa de Lima, coordenadora do MPES, a proposta das empresas não seria suficiente, nem benéfica para estados e municípios atingidos.
“As empresas não reconhecem a reparação devida”, afirmou Elaine Costa.
O outro lado
A Fundação Renova, criada pelas empresas para o processo de reparação, não se manifestou sobre o laudo indicando que os peixes estão impróprios, justificando que o tema se encontra judicializado.
Com relação ao acordo de repactuação, que terminou sem consenso, a fundação afirma que segue empenhada na reparação e na compensação que, segundo a instituição, “se encontram em um momento de avanços e entregas consistentes”.
Saiba mais
Substâncias mortais encontradas
- Mercúrio
Utilizado na produção de equipamentos elétricos e baterias, pode causar úlceras no sistema digestivo, inflamação química no pulmão, além de sequelas em fetos.
- Metilmercúrio
Metal líquido que pode causar intoxicações, tremores, insuficiência renal, desidratação, depressão, delírios, ansiedade e perda de memória.
- Arsênio inorgânico
Usado na produção de vidro, pode levar a doenças de pele, fraqueza muscular, diabetes e alterações neurológicas.
- Bifenilas policloradas (PCB)
Usado em solventes, tinta e detergente industrial, pode causar leucemia, câncer e hepatites.
Fonte: Especialistas consultados.
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