Coiotes tomam carro de famílias para pagar dívida
Preço cobrado pelos "atravessadores" para levar imigrantes ilegais da fronteira do México para os Estados Unidos é superior a R$ 53 mil
Escute essa reportagem

O preço cobrado pelos coiotes (atravessadores) para levar os imigrantes ilegais da fronteira do México para os Estados Unidos pode variar de US$ 10 mil (R$ 53 mil) a US$ 20 mil (R$ 106 mil).
A informação é do delegado Guilherme Helmer, chefe da Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal no Espírito Santo.
Segundo o delegado, as informações foram obtidas em depoimentos dados durante investigações de quadrilhas que exploram a imigração ilegal e chegam a tomar bens, como carros, de familiares que ficam no Brasil.
“Acredito que não existe quem pague todo o valor. O imigrante fica com a obrigação de pagar mês a mês. E, mesmo que percam o contato com as quadrilhas, o coiote cerca a família no Brasil. Temos esse tipo de registro. Por exemplo, (o imigrante) deixa um carro. O coiote faz isso para garantir que seja dada continuidade ao pagamento”.
A advogada Anita Mignone, da Mignone Law Firm, destaca outros riscos da travessia.
“O índice de mortes que é reportado não chega nem perto da realidade. Sem contar o de abuso sexual e os crimes envolvendo as crianças. A questão humanitária é bem pesada nesses processos”.
De acordo com o delegado Guilherme Helmer, chefe da Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal no Espírito Santo, os objetivos de quem imigra para os Estados Unidos variam, conforme diversos fatores, não somente os econômicos.
“Tem pessoas com laços muito fortes com a família que acabam voltando para o Brasil. Há casos em que se insere na comunidade local e permanece no outro país. Depende do vínculo”, afirmou o delegado.
Sobre a realidade atual, o delegado acredita que há muito menos imigrantes voltando por livre e espontânea vontade. “Há casos dos que não se adaptam. Mas é mais raro esse retorno espontâneo”.
Preso com mandado do Estado
Uma solicitação da Polícia Federal capixaba, feita à 2ª Vara Federal Criminal de Vitória, fez com que um coiote fosse preso ao desembarcar em San Diego, na Califórnia, nos Estados Unidos, no último dia 19 de agosto.
“O acusado era um 'faz tudo' do coiote. Emprestava a conta no banco para depósitos e atendia a parte dos clientes. Ele queria imigrar ilegalmente e isso ele disse em depoimento: 'Não tenho dinheiro, mas tenho serviço'”, afirmou o delegado Guilherme Helmer, chefe da Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal no Espírito Santo.
Até carro comprado no próprio nome, com dinheiro do coiote, o acusado tinha como forma de custear sua imigração ilegal.
Segundo o delegado, o coiote é mineiro, mas atuava também em terras capixabas.
“Já havia o pedido de prisão dele e, assim que foi identificado que ele iria sair do Brasil, foi emitido o alerta para a Interpol, a polícia internacional”, afirmou Helmer.
O acusado desembarcou no Aeroporto de Confins (MG) e encontra-se preso naquele estado.
“O patrão dele, que também está preso, fez isso de mandar pessoas ilegalmente para os Estados Unidos por 40 anos”.
Comentários