“Ando na rua com muito medo de ser deportada”, diz capixaba que mora nos EUA
Faxineira chegou no estado de Massachusetts em março de 2022, juntamente com a filha de 15 anos
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No dia 4 de março de 2022, uma capixaba, que naquela data tinha 47 anos e morava em Vila Velha, chegou no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, cheia de sonhos, junto com a filha de 15 anos.
A sua minha irmã esteve nos EUA três anos antes, com visto de turista e depois de seis meses ela começou a incentivá-la a ir embora também.
A faxineira conta que conseguiu visto de turista para o México. Lá, contratou os serviços dos coiotes (espécies de guias da travessia ilegal) para levá-las até a divisa da travessia com os Estados Unidos.
À reportagem, ela revelou como foi a experiência até chegar em solo americano e como tem sido os seus dias desde de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tomou posse e anunciou medidas anti-imigração.
A Tribuna - Quando deixou o Espírito Santo e quanto pagou para os coiotes?
Faxineira capixaba - Eu vim no final de fevereiro de 2022 com a minha filha que hoje está com 18 anos. Na época, eu paguei quase R$ 3 mil para que eles (coiotes) nos levassem até a fronteira dos Estados Unidos, mas hoje é muito mais. Eu conheço gente que pagou mais de R$ 100 mil.
Quando atravessamos, a polícia americana nos pegou e levou para a imigração. Eu fiquei 14 dias com a minha filha, mas teve gente que ficou muito menos.
Como vocês estão?
Eu estou com muito medo porque o negócio aqui não está brincadeira. Está uma coisa de louco! Todos os brasileiros que eu conheço não querem nem tocar no assunto porque o coração está angustiado.
A gente sai para trabalhar aqui pensando no que pode acontecer, porque a gente ouve coisas verdadeiras e muitas fakes news.
Você trabalha com quê?
Eu trabalho com limpeza de casa, de hospitais, escritórios e escolas. Mas eu não vou negar: o medo é grande. Se eu tiver no lugar errado, na hora errada e eles tiverem fazendo a abordagem, eu sou levada sem direito a um advogado.
Pretende ficar por quanto tempo nos Estados Unidos?
Mais uns seis anos aqui.
Vocês andam normalmente pelas ruas?
Eu ando na rua sempre atenta, com muito medo, com muito receio, ainda mais porque a maioria aqui não fala inglês, não sabe. Nem entende o inglês. É muito complicado. Você tem que andar com um olho no padre e outro na missa.
Fala inglês?
Eu não falo inglês. Eu entendo muita pouca coisa de inglês. Quando eu ando na rua, eu ando sempre com a minha filha, ela fala inglês, português e espanhol.
Viu algum brasileiro sendo abordado? Conhece algum brasileiro que foi deportado?
Até agora não. É muito raro ver abordagem deles em rua.
Eu fui trabalhar na sexta-feira e vi abordagem no trânsito, mandando encostar. E se pega algum imigrante ilegal, sem documentos, acaba levando.
Quando você decidiu ir embora do Espírito Santo em busca de um sonho, imaginou que pudesse acontecer isso?
Eu não imaginava isso, essa tristeza que estou vendo nos olhos dos brasileiros. Hoje (segunda-feira), eu fui trabalhar com uma pessoa que é mineira. Ela disse: 'Eu não demonstro, mas estou morrendo (de medo) por dentro só de imaginar de voltar para o Brasil sem concretizar os meus sonhos'. E ela tem uma filha americana de 2 aninhos, nasceu aqui.
Você vê o olhar de tristeza dos brasileiros, principalmente quem chegou há pouco tempo. Aqui, estamos vivendo com confiança em Deus.
“Comecem a fazer malas”, alerta novo 'czar da fronteira'
Escolhido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para comandar o processo de deportações, Thomas Homan, já havia deixado um recado: “Comecem a fazer malas”.
Como 'czar da fronteira' do novo governo, Homan afirmou já ter dado início às operações da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE, na sigla em inglês) em busca de imigrantes ilegais.
“Eles sabem exatamente quem eles estão procurando. Eles sabem muito bem onde encontrá-los”, disse em entrevista à emissora americana CNN.
Segundo o oficial, as operações têm como foco inicial imigrantes ilegais com condenações criminais, mas pode haver prisões “colaterais” de pessoas indocumentadas, mas que não possuem passagem pela polícia.
“O que está acontecendo na nossa fronteira é a maior vulnerabilidade de segurança nacional que já vi na minha carreira, e faço isso há mais de 35 anos”, disse Homan, em uma de suas primeiras entrevistas após assumir o cargo.
Em novembro de 2024, antes de assumir seu cargo atual, Homan disse que o público poderia esperar “choque e pavor” no primeiro dia do novo governo Trump.
Foi em julho do ano passado, durante a Convenção Nacional Republicana, que ele se dirigiu diretamente aos imigrantes ilegais: “É melhor vocês começarem a fazer as malas agora”.
Esclarecimento
Sobre o tratamento dado a brasileiros deportados pelos EUA, o encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, foi convocado ao Itamaraty para prestar esclarecimentos.
A medida ocorre após migrantes chegarem ao Brasil algemados e acorrentados em um voo fretado. Autoridades do governo brasileiro vêm pedindo tratamento digno e humano dos repatriados.
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