Por que MP faz perícia paralela no corpo de jovem morto em invasão do Bope à festa junina no Rio
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O Ministério Público do Rio de Janeiro fez uma perícia independente no corpo do jovem Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, baleado e morto durante durante operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar em uma festa junina, neste sábado, 7, na Comunidade Santo Amaro. O objetivo, segundo a promotoria, é garantir uma “apuração isenta”. Além do jovem morto, outras cinco pessoas foram feridas a tiros.
A ação policial é investigada também pela Corregedoria da Polícia Militar e pela Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ).
No domingo, 8, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), exonerou dos cargos os comandantes do Comando de Operações Policiais Especiais (COE) e do Bope. Castro determinou também o afastamento de 12 policiais que participaram da operação.
Em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira, 9, o secretário de Polícia Militar do Rio, Marcelo de Menezes, disse que “os responsáveis pela operação não observaram os protocolos e procedimentos operacionais da corporação”.
Os peritos do MPRJ que estiveram no Instituto Médico-Legal usaram recursos digitais avançados para elaborar laudos interativos que ajudarão a entender a dinâmica dos fatos. De acordo com o procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, o objetivo é garantir uma apuração técnica isenta, paralela à oficial.
O MP do Rio expediu ofício ao comando da Secretaria de Estado da Polícia Militar solicitando medidas para preservar as imagens das câmeras corporais usadas na ação. À Corregedoria da PM, os promotores pediram esclarecimentos sobre os objetivos, procedimentos e impactos da operação, além do envio de todo o material coletado, incluindo registros audiovisuais.
A PM do Rio informou que as equipes do Bope se deslocaram até o local para checar a presença de “criminosos fortemente armados” e teriam sido recebido a tiros. Eles teriam revidado.
Segundo a Quadrilha Balão Dourado, de São Gonçalo (RJ), que se apresentava na festa, o tiroteio teria começado após uma denúncia falsa, acatada pelo Bope. “Não era um baile funk, era festa junina, uma tragédia causada por uma denúncia falsa que o Bope acreditou”, diz, em comunicado.
Vídeos que circulam em redes sociais mostram que o local estava cheio de gente, inclusive crianças, em torno da apresentação dos dançarinos, quando começaram os tiros. As pessoas entraram em pânico, correram e logo apareceram os primeiros feridos, caídos no chão. Um integrante da quadrilha junina também foi atingido.
O corpo de Herus foi sepultado neste domingo, no Cemitério Batista, em Botafogo, zona sul do Rio. Após o enterro, um grupo de familiares e amigos se reuniu em um protesto, no Morro do Santo Amaro, no local onde o jovem foi moto pela PM. Cartazes com pedido de justiça foram exibidos.
Em gravação feita no local e reproduzida em redes sociais, a mãe de Herus, Mônica Guimarães Mendes, afirma que um agente do Bope arrastou seu filho por uma escada e impediu que ele fosse socorrido. “O policial arrastou o meu filho pela escada e gritou que meu filho era vigia (do tráfico)”, diz.
O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, do governo federal, pediu “imediata e rigorosa” apuração do caso para que os responsáveis sejam identificados e responsabilizados. “Este trágico episódio evidencia a urgência de repensarmos as práticas de segurança pública e o papel das forças estatais em territórios historicamente vulnerabilizados”, diz, em nota. “Não podemos aceitar que a presença do Estado signifique, para tantos, a ameaça constante à vida.”
A PCERJ informou que investigação está em andamento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). As armas dos policiais militares foram recolhidas e serão analisadas e a perícia foi feita no local. Agentes realizam diligências para apurar todos os fatos.
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