Desafios do mercado de trabalho para os pacientes com câncer
Só quem recebe o diagnóstico do câncer sabe as dores de enfrentar a doença, que vem acompanhada de desafios e incertezas relacionadas, principalmente, ao tratamento. E diante de um diagnóstico como esse, muitos se perguntam: “Como fica o meu trabalho agora? E depois? Vou conseguir voltar às minhas atividades?” Conversar com seu médico e avaliar a importância da vida profissional nesse momento é muito válido, pois irá ajudar na busca por soluções e respostas.
É comum, durante o tratamento oncológico, o paciente precisar parar de trabalhar, pelo menos por um período. Essa mudança pode impactar diversas áreas da vida: financeira, social, familiar e pessoal.
Pesquisa realizada pelo IBGE mostrou que as mulheres são o grupo que menos consegue emprego, mesmo sendo o maior público em idade ativa para trabalhar.
Um estudo da oncologista Luciana Landeiro, da equipe do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), do Grupo Oncoclínicas, mostrou que mulheres com diagnóstico de câncer de mama, mesmo as que já enfrentaram a doença, têm menos chances nas empresas.
Um levantamento chamado “Como as empresas lidam com o câncer?”, realizado em 2018 pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), em parceria com o movimento sem fins lucrativos Go All, indicou que, de fato, do ponto de vista dos gestores, as preocupações mais comuns são a dificuldade de oferecer apoio ao funcionário enfermo (68%) e a reintegração dos pacientes com câncer ao local de trabalho (35%).
Esses dados confirmam a dificuldade de manutenção do indivíduo no emprego e a sua reinserção no mercado de trabalho.
Adaptações são necessárias para que pacientes possam lidar melhor com os efeitos adversos do tratamento ou ter tempo para a realização dos exames e consultas, por exemplo. A inflexibilidade e a ausência desses cuidados são os principais fatores para o abandono de seus empregos.
Além disso, ter uma ocupação pode significar conseguir arcar com o custo financeiro de um tratamento de saúde, como o do câncer.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Provokers, a pedido da farmacêutica Pfizer, os ganhos de mulheres que enfrentaram o câncer de mama diminuíram 38% entre as usuárias da rede pública de saúde. Entre as pacientes da rede privada, a queda foi de 15%.
Para aqueles que conseguem voltar ao mercado de trabalho, os benefícios são muitos. Pode não ser fácil no início, mas, com um planejamento cuidadoso, ter um serviço pode ser motivo de orgulho e espaço para socializar-se novamente e, principalmente, recuperar a sensação de estar levando uma vida normal, como antes do diagnóstico.
Encarar a doença e aceitar aos poucos as dificuldades e limitações do tratamento é descobrir novas facetas de si mesmo e possibilidades para enfrentar essa situação desafiadora, aprendendo, inclusive, a recomeçar funções importantes para manter a qualidade de vida.
VIRGÍNIA ALTOÉ SESSA é médica oncologista.