OMS define que velhice agora é uma doença
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) tomou a decisão de incluir a velhice na lista de doenças, o que vem causando revolta de especialistas e setores ligados ao envelhecimento.
Os médicos garantem que a velhice não é uma doença, e essa iniciativa pode trazer diversos problemas, como o preconceito aos idosos e a interferência em diagnósticos, tratamento e pesquisas.
A inclusão está prevista para acontecer na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), mantida pela OMS e utilizada como regra pelos médicos.

Órgãos como a Federação Internacional do Envelhecimento e a Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria estão criticando a decisão.
“Ficamos perplexos, principalmente porque vem de um órgão importante e que tem várias ações para o envelhecimento ativo. É muito preocupante, um retrocesso. A velhice jamais pode ser vista como uma doença. É uma fase do ciclo de vida”, afirmou o geriatra Roni Mukamal.
O médico diz que a velhice traz alterações no funcionamento do organismo, mas é uma condição natural. “O que vai aumentar é o preconceito com a pessoa idosa”.
Além disso, os especialistas acreditam que a nova classificação pode atrapalhar diagnósticos de doenças reais, já que a velhice poderia ser colocada de forma equivocada para explicar problemas de saúde ou causa da morte.
Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no Estado, Alexandre Constantino diz que simplificar síndromes geriátricas em um simples diagnóstico pode empobrecer o cuidado ao idoso, que é “complexo e repleto de peculiaridades”.
“É uma fase especial da vida, da mesma forma que a infância e a gravidez, e não uma enfermidade”.
A psicóloga Thayse Espíndola faz um alerta para um outro problema: a saúde mental dos idosos e de quem se aproxima desta fase da vida com a ideia de que vão ficar doentes.
“Tratar a velhice como doença atinge desenfreadamente a saúde mental. Alardear a velhice, e vê-la como um problema, vai trazer mais sofrimento. A velhice deve ser vivida e almejada com serenidade, conforto e realizações”.
“Vou até os 120 anos dançando”
Professora de balé aos 70 anos, Cecília Hermeto é a prova viva – e muito viva! – de que a velhice pode ser saudável e está longe de ser uma doença.
“Apesar da idade grande, me sinto uma criança pela minha energia”, ressalta Cecília, que dança desde os quatro anos. “É uma eternidade, mas estou bem. Amo o que eu faço”.
A inspiração vem do pai, que acaba de completar 102 anos e está ativo. “Acho que eu vou até os 120 anos… e dançando”.
Saudáveis e ativos
A aposentada Maria Zulma Corsino e Freitas, 81 anos, garante: “Não tenho doença e nem sou doente por ser idosa”.
Ela conta que é ativa, assim como o marido, o aposentado Argentino Bento Freitas, também de 81 anos. “Idoso não é sinônimo de ser doente. Tem muito idoso saudável”.
ENTENDA
Atualização da CID
- A Organização Mundial da Saúde (OMS) está fazendo uma atualização da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).
- Essa classificação, em forma de documento, serve como principal base da medicina mundial para determinar doenças e dar diagnósticos.
Velhice
- Na nova CID, o termo “velhice” vai substituir o termo “senilidade”, que é o processo patológico de envelhecimento, caracterizado por desgaste celular e declínio gradual no funcionamento dos sistemas corporais.
- O termo antigo estava na Cid 10.
- Com isso, “velhice” passa a ser uma classificação da CID.
- Na interpretação geral, passaria a ser considerada uma doença, o que contraria a sociedade médica.
Problemas
- Para os médicos, a velhice é uma fase natural da vida, como a infância e a gravidez, e não pode ser considerada uma doença por si só.
- Com essa mudança, eles preveem diversos problemas, como aumento do preconceito aos idosos, interferência no tratamento e pesquisas, diagnóstico equivocado, enfraquecimento do cuidado ao idoso, aumento de problemas psicológicos e complicações no cálculo para seguro de vida.
Fonte: Pesquisa AT.
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