Banda capixaba na onda do rock anos 80
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Letras que se debruçam sobre amor, despedidas e outras nuances do cotidiano. São elas que dão forma a “Nenhum Sinal de Confusão”, novo álbum da banda capixaba Festina Lente.
Lançado no fim do ano passado, o segundo trabalho cheio dos caras conta com 10 faixas autorais.
Todas transitam pelo mesmo lugar: um pop rock que se une a elementos do pós-punk e do rock brasileiro feito nos anos 1980.
Houve também elementos modernos na produção do álbum, a exemplo do uso de sintetizadores.
“Nunca tínhamos usado sintetizadores antes, e, para enfatizar essa nova fase oitentista, trouxemos isso para o clipe”, explica o vocalista e guitarrista João Santos, ao se referir ao clipe de “Improvisando no Sofá”. Além dele, a banda é formada por Jean Dalfior (bateria) e Matheus Zanetti (guitarra).

Ainda segundo João, um dos grandes acertos da banda nesse álbum foi a escolha do produtor Jackson Pinheiro, do Supercombo. A masterização foi feita nos Estados Unidos pelo engenheiro de som Gavin Lurssen, que já trabalhou com Foo Fighters, Queens of The Stone Age e Chris Cornell.
“O Jackson conseguiu extrair de nós, enquanto banda, aquilo que a gente queria fazer, mas não conseguíamos”, fala ele sobre o músico, que tocou baixo no trabalho.
“Ele conseguiu extrair de nós três a sonoridade impregnada na nossa alma. E consegue colocar o frescor jovial daquilo que está sendo produzido no momento”, diz o vocalista de 44 anos.
E, quando fala sobre trabalhos produzidos no momento, João não quer comentar apenas sobre bandas novas. Mas também velhas conhecidas do público roqueiro.
“Percebi, no último ano, que grande parte das bandas que admiro lançou trabalhos com uma vibe oitentista, com sintetizadores. A mais surreal delas, para mim, foi Pearl Jam”, diz ele sobre “Gigaton” álbum da banda ícone do grunge de Seattle, nos EUA, liderada pelo vocalista Eddie Vedder.
A conexão sonora entre os grupos que admira e “Nenhum Sinal de Confusão” não passou despercebida pelo vocalista do Festina: “A arte tem dessas coisas. Qualquer campo artístico pode ter essa conexão. E a música é cíclica”.
“Estamos em nova fase”
AT2 O novo álbum do Festina Lente mostra uma nova fase da banda? Que caminho é esse que vocês decidiram seguir?
João Santos Sim, sem dúvida. Estamos vivendo uma nova fase. A gente está arriscando mais. Antes, era uma coisa muito limitada de fazer rock de guitarra. Agora não. Decidimos fazer algo diferente.
Isso tem a ver com o fato de terem trabalhado pela primeira vez com um produtor?
Pela primeira vez, aceitamos trabalhar com um produtor. Foi o primeiro passo para fazer um som novo e sair da zona de conforto. Tivemos a felicidade de encontrar o Jackson. Aí foi muito tranquilo. A repercussão está sendo legal.
É difícil ter um produtor interferindo nas suas músicas?
Há um tempo, seria difícil para mim. Todo artista tem algo do ego que fala mais alto. Você consegue acertar quando começa a controlar isso. Principalmente para quem compõe, é doloroso quando você cria e mostra para outra pessoa e ela não gosta.
Tinha coisas que eu mostrava pra o Jackson, e ele falava que não estava legal. E ele me mostrava um outro caminho! Se você não se despir desse ego, você não faz.
As letras da banda falam muito sobre o cotidiano. É atento ao que te rodeia?
Eu sou um cara bastante observador. O tempo todo estou observando as coisas. Queria ter estudado filosofia. Talvez ela explicasse algumas respostas das perguntas que eu faço.
O cotidiano me inspira bastante. Hoje em dia, há muitas bandas falando de questões sociais. Nós fizemos no nosso primeiro disco (homônimo, lançado em 2015). Do EP “Toda Forma de Amor Vale a Pena”, de 2017, para frente, passei a perceber as pequenas grandes coisas e pensar muito no que está ao meu redor.
É desafiador treinar o olhar para, como você disse, enxergar essas pequenas grandes coisas?
Acredito que não há um treinamento para isso. Com o passar do tempo, você acaba valorizando mais as coisas menores.
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Para você, “Nenhum Sinal de Confusão” é um álbum conceitual?
Podemos dizer que sim. É um disco que pensei para vinil. Pensei “Lado A” e “Lado B”. As primeiras canções relatam uma realidade mais dura. A partir da sexta faixa, que seria o “Lado B” do vinil que vai ser lançado ainda neste ano, as letras ficam mais leves.
Por que lançar um álbum em vinil?
O vinil é um item que está sendo bastante comercializado. É um fetiche de fazer algo que vai remeter à maneira que eu escutei música antigamente. Quando eu era garoto, meus pais colecionavam discos. Seria mais ou menos isso, mas que ainda tem um mercado para bandas alternativas, como nós.
Qual o planejamento da banda para este ano?
Planejamos lançar mais cinco clipes. Estamos trabalhando em dois no momento. Mas não decidimos quais serão as outras músicas. O próximo vídeo vai ser lançado em março e o outro, em maio.
Também preciso fazer uma música para a minha primeira filha, a Ana Paula, de 20 anos. Ela sempre me cobra. Comecei a escrever várias vezes, mas nunca concluí, porque achava que não estava à altura do sentimento que sinto por ela.
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