Maioria das vítimas de apendicite tem até 20 anos
A apendicite é a causa mais comum de dor abdominal aguda que requer tratamento cirúrgico no mundo ocidental. A doença é mais frequente na segunda década da vida, entre os 11 e os 20 anos.
Porém, afeta pessoas de todas as faixas etárias, tendo maior gravidade principalmente em crianças, idosos, grávidas e obesos.
Mesmo quem não está nesse grupo de risco deve procurar atendimento médico imediato, já que a doença pode levar à morte se não for tratada a tempo.
José Tarcísio Zovico, cirurgião do aparelho digestivo e mestre do Capítulo Espírito Santo do Colégio de Cirurgiões, explicou em quais casos a inflamação do apêndice evolui com gravidade.
AT em Família – O sintoma da doença surge apenas quando o tratamento é urgente ou dá para identificar precocemente?
José Tarcísio Zovico – Nem sempre o quadro clínico é típico. Até 30% dos pacientes podem apresentar sintomas não habituais, o que dificulta o diagnóstico. Diarreia e sinais urinários são exemplos não habituais.
Exames complementares e acompanhamento da evolução do paciente por um cirurgião experiente são fundamentais para a conclusão diagnóstica.
A automedicação, o retardo na procura por assistência médica, algumas situações específicas e o uso indevido de antibióticos podem retardar ou agravar o quadro.
Quais são os sinais mais comuns da doença?
A apendicite é a causa mais comum de dor abdominal aguda que requer tratamento cirúrgico no mundo ocidental.
A presença de dor abdominal de início difusa, que se localiza no lado inferior direito do abdômen, acompanhada de perda de apetite, febre baixa e com uma descompressão brusca do abdômen dolorosa corresponde a um quadro clínico clássico de apendicite.
Muitas vezes, apenas a história clínica e o exame físico bastam para definir o diagnóstico.
Após o tratamento é preciso seguir um estilo de vida com alimentação própria?
Após a liberação de seu cirurgião, a vida segue normalmente. Lembrando sempre de manter hábitos alimentares saudáveis.
Quem já teve apendicite pode ter novamente?
O tratamento da apendicite aguda é a apendicectomia, que é a retirada do apêndice. Portanto, não há recidiva do quadro.
Em quais casos a apendicite evolui com gravidade?
Crianças muito pequenas não conseguem informar bem suas queixas e possuem um epíplon mais curto. O epíplon é como se fosse um avental de gordura intra-abdominal que ajuda a “bloquear” inflamações.
Em grávidas, o exame físico fica prejudicado, pois o crescimento do útero pode deslocar o apêndice promovendo dor em locais não habituais, além de estar mais limitado o uso da tomografia computadorizada devido à radiação.
Idosos podem ter doenças coexistentes que aumentam os riscos da cirurgia, além de terem, em geral, menos defesa contra infecções.
Em obesos, que também têm doenças associadas, é mais difícil fazer o exame físico. Os exames complementares são prejudicados e a cirurgia é tecnicamente mais complexa.
Pacientes imunossuprimidos, seja por medicações ou por doenças, têm maior risco de infecções.
E, por fim, o retardo no diagnóstico. Todas essas situações acima impõem maior gravidade.
A infecção no apêndice pode afetar outros órgãos?
O agravamento pode levar a uma evolução de um processo infeccioso, inicialmente restrito ao apêndice, para abscessos intra-abdominais localizados ou difusos pelo abdômen, com consequente infecção generalizada de grande gravidade.
Por que existe o risco de morte por apendicite?
Pelo risco de infecção generalizada. O diagnóstico precoce e o tratamento cirúrgico são fundamentais para diminuir a mortalidade da doença e o período de internação. Em época de pandemia, quanto menor o tempo de hospitalização, melhor.
Fique por dentro
- Apendicite aguda é a inflamação do apêndice, órgão localizado na transição do intestino delgado para o intestino grosso, do lado direito do umbigo.
- Geralmente é causada por fezes que obstruem seu interior promovendo proliferação bacteriana. Ou então, menos frequentemente, por corpos estranhos, por tecido linfático aumentado no local e até por tumor.
- Dor abdominal de início difuso, localizada no lado inferior direito do abdômen, acompanhada de perda de apetite, febre baixa e com descompressão brusca do abdômen dolorosa são indicativos de apendicite.
Perguntas dos leitores
O tratamento é apenas cirúrgico com a remoção do apêndice ou há alternativas?
Olívia Gujanwski Campos, 32 anos, profissional de Recursos Humanos
Uma vez feita a suspeição clínica de uma apendicite aguda, o tratamento é cirúrgico. Preferencialmente por videolaparoscopia, que permite uma recuperação mais rápida e diminui significativamente a incidência de infecção na ferida cirúrgica.
Qual a função do apêndice no organismo? Retirá-lo pode causar problemas de saúde?
Felipe Fermiano, 23 anos, estudante
O apêndice é um órgão imunitário, como as amígdalas que possuímos na orofaringe. Cumpre seu papel ajudando na defesa do organismo, mas não é imprescindível.
A retirada do apêndice por inflamação aguda somente traz benefícios.