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Polícia

Máfia colombiana emprestava dinheiro com até 40% de juros ao dia


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Imagem ilustrativa da imagem Máfia colombiana emprestava dinheiro com até 40% de juros ao dia
Cartão com dados da dívida: valor do empréstimo e número de parcelas constam no documento usado por agiotas |  Foto: Kananda Natielly

Os integrantes da máfia colombiana, que foram presos na manhã desta quinta-feira (10), estavam envolvidos em um esquema de extorsão, agiotagem e ameaças, na Grande Vitória. Segundo as vítimas, a máfia cobrava de 20% a 40% de juros ao dia, por conceder empréstimos a pequenos comerciantes que atuam em Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra.

Em janeiro deste ano, uma reportagem de A Tribuna denunciou o esquema criminoso, que estava tirando a paz de comerciantes da região.

“Eles (colombianos) emprestam de R$ 500 a R$ 5 mil e, no final do dia (todos os dias), passam em cada comércio cobrando os valores parcelados. A quantidade de parcelas é estipulada por eles e, se você não tiver o dinheiro naquele dia exato, o motoqueiro te xinga e ameaça”, afirmou um comerciante de Vila Velha, de 44 anos, que, na época, pediu para não ter a identidade revelada.

Na manhã desta quinta-feira (10), policiais civis conseguiram prender alguns integrantes da quadrilha e, segundo as autoridades, as investigações tiveram início há seis meses. Foram presos um equatoriano, apontado pela polícia como gerente da quadrilha, e outros três integrantes.

Ao todo, cerca de 50 agentes atuam na Operação Cartagena, com participação do secretário da Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho, e o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda.

“Não é fácil identificá-los porque são todos estrangeiros. Hoje nós desencadeamos a operação Cartagena justamente para fazer busca e apreensão, pegar todos os materiais, poder fazer as identificações e tínhamos nosso alvo principal, que era o gerente que a gente conseguiu prender”, disse Arruda.


Relembre o caso e entenda como funciona o esquema


De acordo com investigadores e policiais militares que participaram da investigação, a máfia é liderada por dois grandes grupos que estão instalados no município de Vila Velha.

“Uma quadrilha é composta por oito colombianos e a outra, por três. Só que, como muitos colombianos já passaram por essas duas gangues e ‘aprenderam’ o esquema, eles estão abrindo o seu próprio ‘escritório’”, contou um investigador de 43 anos, que só foi informado sobre o fato por ser amigo de uma das vítimas, que preferiu não registrar ocorrência em delegacia.

A maioria dos comerciantes não denuncia porque teme por suas vidas. Foi o que garantiu um vendedor de 59 anos, que teve de abandonar o próprio negócio depois que se viu endividado pelos agiotas.

“Depois que você termina de pagar o empréstimo, eles ficam te induzindo a pegar mais. Quem não tem nome na praça e precisa, pega de novo, só que a pessoa vai se afundando. Chega um momento em que você não tem o dinheiro e eles partem para a agressividade, colocando arma na sua cara.”

Uma outra vítima, dono de um hortifruti que fica na Serra, relata a experiência que viveu por não ter a parcela com o valor combinado.

“Num dia desses, um deles chegou já armado e começou a gritar: ‘você vai me dar esse dinheiro hoje. Não saio daqui enquanto não me pagar’.”

“Trabalho para pagar juros a eles”

Cansado de ser extorquido e ameaçado por agiotas colombianos, um comerciante de 53 anos, que teme perder o seu estabelecimento devido às dívidas acumuladas, resolveu conversar com a reportagem de A Tribuna e contou que foi induzido a se endividar e que já chegou a ser ameaçado de morte por não ter o dinheiro combinado.

“É um caminho sem volta”, disse a vítima que pediu para não ter a identidade revelada.

A Tribuna - Como funciona o esquema?
Comerciante - Eles (colombianos) te emprestam um valor que varia de R$ 500 a R$ 5 mil e cobram de 20% a 40% de juros sobre esse valor, só que a quantidade de parcelas são estipuladas por eles. No caso dos colombianos com quem eu pego, são sempre 20 ou 24 vezes, e são cobradas por dia e não por mês.

Como conheceu eles?
Geralmente, quem aborda os clientes é uma moça bonita, bem vestida, que entrega um panfleto. No papel está escrito: ‘Precisa de dinheiro? Nós temos a solução!’ Daí você liga e pede uma visita.

Qual foi o limite de empréstimo que já fez com eles?
Já peguei R$ 5 mil. Isso só com um. Já cheguei a dever a oito deles. Hoje, devo a seis.

Já foi ameaçado?
Sim. Se a gente não tiver o dinheiro para pagar no dia, eles ameaçam você e sua família também. Um deles já entrou armado na loja e disse que queria o dinheiro naquele momento.

O senhor tem medo de morrer na mão deles?
Muito. Não ando tranquilo na rua, tenho medo de emboscadas. Não consigo dormir direito e me arrependo de ter entrado nisso. Já até tentei sair fora, mas vira um vício, porque eles vão te induzindo a pegar mais e quando você percebe, já está todo endividado. Hoje, eu trabalho para pagar os juros deles.

Vítima fechou lanchonete após agiotas levarem tudo

Após sofrer várias extorsões nas mãos da máfia colombiana, um ex-comerciante de 59 anos, morador de um bairro de Vitória, precisou tomar uma decisão drástica que implicou na vida de sua família: a de fechar a lanchonete que ele mantinha há mais de 40 anos.

“Tive que fechar meu comércio. Eles (colombianos) sugaram tudo o que eu tinha e hoje trabalho como vendedor em um shopping”, contou a vítima que pediu para não ser identificada, com medo de represálias.

O vendedor contou que começou a buscar os empréstimos após passar por um período de dívidas.

“Não tinha mais nome na praça e eles (colombianos) chegaram apresentando essa proposta. Como eu estava desesperado e com medo de perder minha lanchonete, eu peguei”.

Ele afirma que a partir da segunda proposta que recebeu dos agiotas, os empréstimos foram se tornando comuns em seu comércio.

“Eu pagava um e pegava outro. Minha mulher foi pegando também. Teve uma época que eu cheguei a dever para seis agiotas. Virou um círculo vicioso na verdade, porque eles nos induziam a pegar o dinheiro sempre que eu falava que ia parar de pegar”.

Foi por firmar vários empréstimos e não conseguir pagar, que a vítima foi perdendo aos poucos todos os objetos de seu estabelecimento.

“Eu não tinha mais dinheiro e daí eles (colombianos) começaram a pegar minhas máquinas e até as cadeiras e mesas do local. Fiquei sem nada e não tinha como manter o comércio aberto.”

Imagem ilustrativa da imagem Máfia colombiana emprestava dinheiro com até 40% de juros ao dia

Força-tarefa vai investigar esquema, disse ex-secretário

Imagem ilustrativa da imagem Máfia colombiana emprestava dinheiro com até 40% de juros ao dia

Surpreso com a denúncia feita pela reportagem de A Tribuna, o então secretário de Estado da Segurança Pública, Roberto Sá, determinou, durante uma coletiva de imprensa na Chefatura da Polícia Civil, que o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, providenciasse o mais rápido possível a abertura das investigações.

“Se a gente não tolera brasileiro praticando extorsão, imagine pessoas de outros países cometendo esse tipo de crime. As nossas polícias vão se empenhar para identificar esses suspeitos”, disse o secretário Roberto Sá.

Ao ter a demanda solicitada pelo secretário, o delegado-chefe da PC disse que não estava ciente dos crimes cometidos pela máfia colombiana e que a partir da informação da reportagem irá designar à equipe da Delegacia de Polícia Civil de Defesa do Consumidor (Decon), a tarefa de investigação do caso. Ele também informou que irá solicitar o auxílio da Polícia Federal.

“Vou encaminhar essa denúncia para a delegacia que apura crimes contra a economia popular, porque nesse caso, eles também estão cometendo o crime de agiotagem. Também vamos acionar a Polícia Federal, já que esses colombianos podem estar irregulares no País. Nós vamos fazer esse trabalho em conjunto, PC e PF. Vamos desenvolver isso juntos”, explicou.

Além da Decon e PF, Arruda disse ainda que pretende colocar outras delegacias especializadas para ajudar nas apurações, já que há indícios de que os estrangeiros possam estar envolvidos com o tráfico de drogas.

“Vou colocar o Decon para se relacionar com os departamentos adequados, tanto os que investigam tráfico de drogas, quanto os que investigam outros crimes, para a gente colocar um fim nisso”.

Arruda ainda fez questão de mencionar a importância das denúncias anônimas. “É muito importante que a comunidade e as vítimas façam a denúncia por meio do 181. É um canal que nós temos na Secretaria da Segurança e que as pessoas não precisam se identificar”.

Trecho da conversa com um agiota colombiano

Informações só pelo WhatsApp
A reportagem de A Tribuna entrou em contato com um dos agiotas colombianos, se passando por cliente. O suspeito se mostrou desconfiado e exigiu que a conversa fosse pelo WhatsApp. Para não levantar suspeitas, a reportagem usou até erros ortográficos na conversa.

Reportagem: Tenho um comércio pequeno e fui informada que você trabalha com um esquema de empréstimo...
Agiota colombiano: Quem te falou?
Reportagem: Me deixaram um cartão do senhor aqui.
Agiota: Quem deixou?
Reportagem: Uma pessoa.
Agiota: Você tem uma loja de quê?
Reportagem: Um quilão.
Agiota: Preciso avaliar sua estrutura.
Reportagem: Existe algum limite de valor que vocês emprestam?
Agiota: Preciso avaliar a estrutura da sua loja. Me manda a foto do seu comércio para eu mandar para o escritório olhar.
Reportagem: Quem é que vai aprovar o empréstimo?
Agiota: É o escritório, amiga! Me manda uma foto que a gente continua falando pelo whatsApp.
Reportagem: Só queria saber qual o limite de valor que vocês emprestam?
Agiota: Me manda uma foto que eu continuo conversando com você.
Reportagem: Por que só pelo aplicativo?
Agiota: A foto, manda a foto! Lá, a gente continua a conversa! [ligação encerrada por ele]

Colombiano é alvo de tiros em Vila Velha

Um colombiano que não teve o nome e nem a idade revelados pela polícia foi baleado ao passar de moto em uma rua do bairro Ataíde, em Vila Velha, no dia 7 de janeiro.

Um policial civil, que também não teve a identidade revelada e que passava pelo local onde aconteceu o fato, tentou socorrer o estrangeiro e também acabou baleado com dois tiros no braço, pelos mesmos suspeitos que atiraram no colombiano. Eles foram socorridos por familiares do policial e levados a um hospital da região.

Segundo a polícia, a motivação do crime estaria relacionada com a agiotagem praticada pelo colombiano, vítima dos disparos. Ele pertenceria a um dos grupos de agiotagem que cobram altos juros de comerciantes da Grande Vitória e que fazem ameaças.

As apurações dão conta de que os dois grandes grupos, cada um deles liderado por duas pessoas que residem em um apartamento de luxo em Itaparica, Vila Velha, estariam em atrito devido a disputa pelos pontos onde eles implantam o esquema de agiotagem. Disputa essa que estaria causando pequenas discussões entre os próprios motoqueiros, causando até tiroteios e mortes.

A Polícia Civil já apura o caso.

Reportagem flagra cobrança

Foi durante a apuração do caso, em um bairro do município de Cariacica, que a reportagem de A Tribuna flagrou a ação de pelo menos três agiotas colombianos.

Em duas abordagens feitas pelos estrangeiros aos comerciantes, eles chegaram em uma moto e, sem tirar o capacete, entraram no estabelecimento para receber a “parcela do dia”.

Na outra, o “motoqueiro”, assim chamado pelas vítimas, não saiu do veículo e ficou do lado de fora aguardando o recebimento.

Com praticamente os mesmos modos de agir, os colombianos são rápidos e objetivos em receber o valor emprestado.

“Ele só me pediu o cartão onde são anotados os valores do empréstimo e a quantidade de parcelas e riscou a parcela de hoje”, contou uma das vítimas que recebeu a “visita” do agiota, presenciada pela reportagem.

Perfil

Com base nas três abordagens flagradas pela reportagem, foi possível traçar um perfil dos cobradores: eles usam camiseta comum, calça jeans e tênis de marcas esportivas. São desconfiados e não tiram o capacete quando entram nos estabelecimentos. Agem muito rápido para não despertar atenção de pessoas que não conheçam o esquema.

“Quando eles entram em algum estabelecimento, ficam olhando para todos os cantos para ver se tem algum policial ou alguém que possa denunciá-los”, contou uma das vítimas, que não quer ser identificada.

ANÁLISE

“Estão aplicando a verdadeira lei do terror e do medo”

Imagem ilustrativa da imagem Máfia colombiana emprestava dinheiro com até 40% de juros ao dia

“Ao estabelecer relações afinadas entre milícias, traficantes e organizações criminosas, o resultado de insegurança, principalmente nos subúrbios e nas comunidades de baixo poder aquisitivo, desenvolve o ambiente ideal para que novas facetas de criminalidade se desenvolvam no Estado.

Prova disso é que criminosos internacionais estão praticando ações ilegais, ilícitas e altamente violentas, principalmente contra comerciantes e pequenos empresários dessas regiões, promovendo o nascimento de uma nova realidade mafiosa. Estão aplicando a verdadeira 'lei do terror e do medo'.

A agiotagem é apenas o primeiro passo dessa nova 'espécie de bandidagem'.

Aproveitando-se dos efeitos da crise que assola o País, do desemprego, da ausência do Estado e da tremenda necessidade financeira, empréstimos com juros escorchantes são oferecidos aos mais desesperados que acabam entregando não apenas dinheiro, mas também os negócios e, em vários casos, colocando em risco suas próprias vidas na tentativa de pagar esses privilegiados empréstimos.

A truculência, o banditismo e a violência já se tornaram marca registrada dessa máfia! Caso não sejam duramente combatidos, esses crimes irão criar guetos e novas forças criminosas, sitiando ainda mais as comunidades atingidas.”

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