Golpes mais usados para tirar dinheiro de idosos
Escute essa reportagem
Em época de isolamento social e sabendo que aposentados e pensionistas estão evitando sair de casa por causa da pandemia do novo coronavírus, vigaristas têm investido nesse público para aplicar golpes.
Levantamento feito pela reportagem, ouvindo juristas e especialistas em crimes cibernéticos, revela que os vigaristas estão usando pelo menos 10 golpes, entre novos e repaginados.
O acesso aos idosos ocorre basicamente de duas maneiras, pelo telefone e também pelas redes sociais, uma vez que esse público têm ficado mais tempo conectado no mundo digital.
Eduardo Pinheiro, especialista em Tecnologia da Informação e colunista de A Tribuna, contou que são diversos novos golpes relacionados ao benefício que o aposentado ou pensionista tem direito.
“Os golpistas afirmam que as vítimas têm direito ao auxílio emergencial e solicitam dados pessoais e dados bancários. Em outros casos, eles inventam empréstimos com taxa de juros ínfimas afirmando se tratar de uma promoção bancária devido à crise do coronavírus”, contou Eduardo Pinheiro, destacando que as vítimas têm prejuízo entre R$ 2 e R$ 10 mil, em média.
Titular da Delegacia Especializada de Defraudações, a delegada Nicolle de Castro conta que o golpe da saidinha do banco e do bilhete premiado ficaram no passado. No Estado, segundo ela, chama atenção o “golpe do motoboy”.
“O que está em voga é o falso motoboy. O golpista liga para o idoso dizendo que é da administradora do cartão ou do banco - geralmente uma instituição estatal - e afirma que foi constatada uma compra fraudulenta com o cartão. O idoso questiona, fala que não fez a compra, e o golpista pergunta se ele quer bloquear o cartão. O idoso então passa os dados do cartão para seguir com o cancelamento”, conta Nicolle de Castro.
A delegada explica que a quadrilha diz que um motoboy vai até o domicílio do idoso buscar o cartão. “E ainda pedem que o aposentado faça uma carta de próprio punho. Como a vítima forneceu senha e o motoboy tem o cartão, eles podem fazer compras”.
“Queriam código de segurança do cartão”

Uma aposentada de 72 anos foi vítima de um golpe pelo telefone. Se passando por funcionário de um banco, uma mulher ligou dizendo que estavam efetuando uma compra suspeita com o cartão dela.
“Pediram o código de segurança do meu cartão. Eles tinham meu nome completo. Disseram que se eu fornecesse mais dados, conseguiriam resolver essa compra indevida. No começo da ligação, acabei fornecendo o código, mas fui desconfiando e não informei o restante dos dados”, conta, sem se identificar.
Para a sorte da aposentada, a falta de outras informações impossibilitou a conclusão do golpe. “Fui até o banco, que confirmou que era golpe. Troquei a senha e deu tudo certo”, disse, aliviada.
“Na pandemia, 15 casos no mês”
A Tribuna – As ocorrências mostram que as pessoas da terceira idade, sobretudo os beneficiários do INSS, seguem como alvo dos golpistas?
Nicolle de Castro – Existem alguns golpes específicos em que a população de terceira idade ainda é o principal alvo das quadrilhas de estelionatários. São os mais vulneráveis. E muitas vezes, por vergonha, não denunciam. Há subnotificação de ocorrências por medo. Dependendo do tipo do golpe, o bandido sabe onde o idoso mora. Então, ele não tem interesse em denunciar, teme pela vida e pela família.
A renda fixa da Previdência é o que atrai os bandidos?
Também. Mas muitos idosos acreditam que sempre tem alguma verba a receber ou por acreditarem que de fato possuem revisões do benefício. Esse tipo de situação ajuda o criminoso a elaborar uma falsa história.
Os golpistas são lobos solitários?
São quadrilhas especializadas, bem organizadas, que simulam escritórios, por exemplo. Criam centrais de atendimentos falsas. Sempre muito bem elaborado. Muito apto a enganar os idosos. Usam também pessoas interpostas com laranja participando dos crimes.
As quadrilhas são do Espírito Santo?
São muitas quadrilhas de fora, mas com participação de pessoas do Estado, sobretudo quando é preciso de uma ação presencial.
Na pandemia, os casos cresceram?
Aumentou o número de vítimas. No último mês, foram 15 casos.
Os golpes são elaborados?
É um modus operandi bem arquitetado. É bem pensado e elaborado. Não é amador.
O idoso que caiu num golpe deve reunir que tipos de provas para ajudar nas investigações?
Se tiver acontecido conversas pelo telefone, devem anotar os números que ligaram. Se foi feita transferência bancária, por exemplo, é preciso ir atrás dos comprovantes de transferência. Se foi cobrado valor indevido, os extratos são muito importantes. E, claro, sempre procurar a delegacia, registrar um Boletim de Ocorrência.
Os golpes mais comuns
1 Motoboy
Ligam fingindo que cobrança indevida foi feita no cartão. Para resolver, pedem senha e dizem que o motoboy vai buscar o cartão - para evitar o furo da quarentena - para cancelar a compra. Então, roubam e começam a fazer compras.
2 Empréstimo
Ligam oferecendo taxas baixas para empréstimo, com condição de um 1º depósito. Uma vez feito, o empréstimo não chega.
3 Funcionário falso
Golpista se passa por funcionário do banco, oferece ajuda e, no final da transação no caixa eletrônico, devolve outro cartão para a vítima.
4 Ressarcimento
Por telefone, inventam que há direito de um ressarcimento de diferenças ou atrasados acumulados do INSS para conseguir senha e dados.
5 Revisão de Benefícios
Inventam revisão de benefício do INSS fora de época. Ameaçando a perda do depósito mensal, pedem dados e o idoso, desesperado, fornece.
6 Isenção de IR
Falsos advogados ligam com a promessa de tirar o desconto do IR da aposentadoria, inclusive recebendo os retroativos. Pedem entrada de R$ 3 mil.
7 Auditoria
Fraudadores enviam documentos se passando por uma falsa “auditoria previdenciária”, convocando-os a uma “chamada para resgate”, pedindo dados e senha.
8 Taxa
Inventam que aposentado teria direito a receber valores atrasados de benefícios e solicitam o depósito de determinada quantia para liberar o “pagamento”.
9 Cerveja
Bandidos prometem quatro barris em nome da Heineken a quem estiver ficando em casa. Eles pedem para preencher cadastro e compartilhar oferta pelo WhatsApp. Tudo falso e ainda abre caminho para fraudes financeiras com os dados.
10 Auxílio emergencial
Via WhatsApp, golpista promete aprovação do auxílio de forma imediata. Vítima precisa fornecer informações pessoais e sigilosas
Senha do banco nunca deve ser entregue
Dicas
Para evitar que as pessoas caiam nas armadilhas de criminosos, a reportagem ouviu dicas de especialistas e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Cartão e senha
- O INSS alerta que o aposentado ou pensionista nunca deve entregar o cartão ou a senha do banco a terceiros, nem mesmo para parentes e amigos.
Denuncie
- O segurado que for vítima de algum golpe ou detectar irregularidades nos descontos em folha deve cadastrar imediatamente sua manifestação na Ouvidoria do INSS por meio da Central de Teleatendimento 135 ou pelo Portal.
- Em caso de perda, furto ou roubo, a pessoa deve fazer imediatamente um boletim de ocorrência, para se resguardar de eventuais fraudes no benefício.
- As denúncias sobre consignado serão apuradas pela Ouvidoria e repassadas a Dataprev, para o bloqueio imediato do desconto ou contato com a instituição financeira para solução do problema e, se for o caso, devolução dos valores.
- Além disso, a partir do momento da detecção das fraudes, os envolvidos serão alvo de apuração por parte do Governo Federal.
Cuidado com marketing
- O INSS destacou que nenhum órgão, empresa ou pessoa física tem autorização para efetuar qualquer atividade de marketing ativo, oferta comercial, propostas ou firmar contratos de empréstimo pessoal com pagamento mediante desconto direto no benefício em nome do INSS.
Sigilo
- O órgão ressaltou que os servidores não são autorizados a fornecer informações sobre os segurados a instituições financeiras”.
Empréstimo consignado
- Ao segurado, o INSS reforça que também disponibiliza Extrato de Empréstimos Consignados pela internet. Antes, o serviço que só podia ser retirado numa unidade do INSS, agora pode ser obtido por cadastro no Meu INSS — que também está disponível em aplicativos para smartphones e tablets através das lojas virtuais Apple Store e Google Play — para conseguir o documento e conferir mensalmente se há irregularidades no benefício.
- Por meio desse extrato é possível ao segurado conferir todo o histórico de créditos consignados realizado com desconto no benefício previdenciário, além de outras informações como a margem da consignação atual, valores de parcela e prazo.
- O cadastro ao Meu INSS é feito de três maneiras: pela internet, comparecendo a uma agência do INSS ou indo aos bancos autorizados, quando isso for possível.
Busque informações
- Para evitar cair em golpes o especialista em Tecnologia da Informação Eduardo Pinheiro alerta que é preciso primeiramente buscar se informar sobre esses crimes, em seguida, evitar clicar em links de mensagens eletrônicas e não recorrer a intermediários para tratar de questões que envolvam dinheiro ou outros bens.
- Se houver dificuldades, Eduardo Pinheiro recomenda que filhos, netos ou pessoas próximas (de confiança) auxiliem os idosos nessa missão.
- “A pessoa da terceira idade que não clica em links de mensagens, não preenche formulários online suspeitos e não alimenta conversas com estranhos no mundo virtual, merece até receber o certificado de Vovô e Vovó 4.0, aquele ou aquela que não cai em golpes na internet e pratica uma navegação segura”, finaliza Eduardo Pinheiro.
Fonte: INSS e especialistas entrevistados.
Comentários