O lado bom dos sentimentos ruins
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Tristeza, medo, raiva, culpa. Quem nunca se paralisou diante desses sentimentos e só desejou que eles desaparecessem? Porém, embora incômodas, essas emoções podem ser um poderoso sinal de proteção e alerta.
Isso é o que esclarece o psiquiatra e escritor Daniel Martins de Barros em seu livro “O Lado Bom do Lado Ruim”, lançado em fevereiro.
Para o autor, algumas emoções negativas assemelham-se, à primeira vista, aos pernilongos: incomodam bastante e parecem não ter qualquer função. Mas, diferente dos mosquitos, elas trazem ensinamentos.
“Toda emoção, negativa ou positiva, traz uma mensagem. E, quando a expressamos, ela nos transmite algo: recebemos um sinal de perigo, alerta, algo ameaçador. Precisamos entender esse lado bom dela. Afinal, ela nos avisa de situações que são importantes”, explica.
Segundo o especialista, há uma supervalorização das sensações positivas, como a euforia e, por isso, as emoções negativas são vistas apenas como um problema que deve ser resolvido.
“A tristeza sinaliza o valor das coisas. O medo mostra perigo e existe para nos proteger. Às vezes, ele fica exagerado e temos que ver o que está acontecendo. Isso ajuda a antevermos ameaças para qualquer evento que seja importante. Se ficamos muito tranquilos, não nos preparamos para os desafios que vamos enfrentar”, afirma o psicanalista, que também é autor de “Pílulas de Bem-Estar”.
Equilíbrio
Para a psicóloga e especialista em Neuropsicologia Bia Sant’Anna, embora seja necessário o entendimento de que as emoções negativas chegam como um sinal de alerta, é preciso observar se esses sentimentos estão em equilíbrio.
“Se, em todas as situações, a nossa resposta automática é medo, isso é muito ruim, porque é um sinal de que estamos enxergando perigo em todos os lugares de forma indiscriminada. O natural é sentirmos todas as emoções e sabermos lidar com elas, de forma a aprendermos mais sobre nós mesmos”, explica Bia.
“Hoje me sinto mais bonita e empoderada”

Tristeza, baixa autoestima e até o início de uma depressão já fizeram parte de uma época da vida da estudante Izadora Rosa, 18. Ela, que hoje também é modelo, disse que chegou a sofrer bullying por ser “muito magra”.
“Tudo parecia dar errado. Até que chegou um ponto em que eu olhei para a situação e decidi que eu iria me cuidar mais”, contou ao AT2.
Usando essas emoções como trampolim, ela começou a fazer academia, a se maquiar mais e a sair com as amigas.
“Hoje me sinto mais bonita e empoderada”, disse a jovem.
Da angústia à força

Em 2015, a analista administrativo Mariana de Souza Rodrigues, 36, recebeu um diagnóstico que foi um baque em sua vida. Mesmo sem histórico familiar, ela estava com câncer de mama.
“Era um sentimento de angústia e inconformismo por estar passando por aquilo. Com o tratamento, perdi todo aquele cabelão que não cortava por nada nessa vida”, contou.
Para ela, esses sentimentos serviram para mostrar o quanto ela era forte. “A força e a fé que tive fizeram que aquela situação passasse de uma maneira mais leve”.
Emoções e como aprender com elas
Tristeza
Culpa, pesar, desapontamento ou luto podem surgir quando as coisas não saem como a gente quer. Todas rodeiam a tristeza, que, embora seja incômoda, tem sua importância.
Ela sinaliza o valor das coisas, demonstrando que algo que é importante se perdeu ou está em via de se perder. “A tristeza faz parte da alegria, porque você só fica triste em perder algo que gostava. Se você passar indiferente, não ficará triste”, explica o autor e psiquiatra Daniel Barros.
Medo
Embora pareça contraditório, o psiquiatra Daniel Barros explica que o sentir medo pode ter um efeito calmante. Para ele, após o ser humano passar por tanto medo, as preocupações do dia a dia parecem menores.
“Sabe aquela sensação que temos quando resolvemos sair da piscina porque estamos com frio, mas o vento gela a nossa pele e então corremos de volta para a água, que agora parece até agradável? É mais ou menos a mesma coisa”, afirma.
Raiva
Uma pesquisa realizada em oito países mostrou as situações mais comuns em que antecedem um episódio de raiva. São elas: problemas de relacionamento, interação com estranhos, injustiça e inconveniências.
Para Barros, a raiva, normalmente, surge quando o ser humano se sente ameaçado de perder algo ou de sofrer algum tipo de prejuízo. “Assim como o medo, a raiva é uma forma de proteção contra aquelas ameaças que precisamos enfrentar”, conta.
Nojo
Para o escritor Daniel Barros, o nojo, por ser uma reação tão automática, muitas vezes acontece sem a necessidade de pensar. Porém, ele não é algo que nasce com a pessoa, mas que se aprende e é extremamente influenciado pela cultura.
“O mal-estar que ele produz serve não apenas para nos proteger o tempo todo. Ele também ajuda a sinalizar limites sociais entre o permitido e o proibido. Mostra que algo está fora do lugar, é inadequado”, explica.
Fontes: Psiquiatra Daniel Martins de Barros e seu livro “O Lado Bom do Lado Ruim”.
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