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Política

“Juiz negro surpreende as pessoas”, afirmou o primeiro desembargador negro do Estado


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Imagem ilustrativa da imagem “Juiz negro surpreende as pessoas”, afirmou o primeiro desembargador negro do Estado
Desembargador também abordou sobre a relação entre os negros e cargos públicos. |  Foto: Beto Morais/AT

O primeiro desembargador negro do Espírito Santo, Willian Silva, recebeu a reportagem de A Tribuna em seu gabinete e conversou sobre as dificuldades que passou na infância, os preconceitos que já enfrentou em sua carreira e como ele faz no dia a dia para combater o racismo.
Ele também abordou sobre a relação entre os negros e cargos públicos. “Juiz negro surpreende as pessoas”, afirmou o desembargador.

A Tribuna - Durante sua trajetória de vida, se deparou com preconceito por ser negro?
Willian Silva - Algumas vezes, mas é um preconceito velado, covarde, oculto. Você sabe que está sendo discriminado pelo fato de ser preto, porque, em virtude da cor, as pessoas te tratam de forma diferente. Nunca me deixei quedar por preconceito. Na universidade, eu era o único negro da minha turma.

E essa é uma dívida que o Brasil tem com os negros. Porque os negros construíram esse País, e quando foi abolida a escravatura, foi uma abolição formal. Quando ocorreu, nós negros fomos arremessados em uma sociedade sem qualquer suporte econômico, de educação, de saúde. E isso até hoje repercute na vida do negro.

E é por isso que eu defendo cotas. Não eternas, mas cotas para diminuir essa desigualdade. Para se aproximar de uma isonomia que não se consegue. Isonomia é tratar com igualdade os desiguais. Vamos demorar um século ou outro para acabar com o racismo.

Pode relatar alguns preconceitos que já sofreu?

Já era advogado bem-sucedido, morava em Jardim da Penha e tinha uma mania de lavar o carro. Estava lavando o carro em frente ao prédio onde morava. Uma senhora parou e me perguntou quanto eu cobrava para lavar carro. Eu falei “agora estou com pouco tempo”, ela me perguntou se eu não estava precisando de dinheiro e eu falei que o carro era meu. Ela pediu desculpa mas a minha vontade era falar “só porque eu sou negro então não posso ter um carro?", mas não falei.

Algum caso de quando o senhor já era juiz?
Teve um evento de quando eu era juiz em Santa Teresa. Eu estava na porta do fórum, conversando com um oficial de Justiça, e veio pela rua um homem cambaleando. Nesses lugares frios, as pessoas costumam beber.

Ele olhou e falou “está bonito heim negão?”. O oficial falou “rapaz, é o juiz”, e ele respondeu “que juiz o quê, rapaz, estou acostumado a beber com ele”. Eu nunca tinha visto o homem. O oficial perguntou se ele queria ser preso e ele falou “ele não vai me prender não rapaz, é meu amigo de copo”. Então eu subi para o prédio.

Essa coisa de racismo é um problema de educação, de criação. Muitas vezes as pessoas são criadas aprendendo que um negro é um ser inferior. Que um negro só pode ser empregado, que um negro não pode ser o patrão, não pode ocupar determinados cargos.
Algumas vezes as pessoas chegavam no fórum e se surpreendiam. Juiz negro surpreende as pessoas.

Como autoridade, como o senhor combate o preconceito?
Como autoridade eu sempre sou formalista e severo com todos os crimes. Com relação ao crime de racismo, ou de injúria racial, continuo sendo rígido, sem paixões, porque não posso julgar com paixões, qualquer que seja o crime praticado. Com os crimes de racismo e injúria racial o sujeito vai encontrar os rigores da lei.

O mercado de trabalho ainda é mais resistente aos negros?
Continua sendo. Os negros são os que ganham menos. A maioria dos negros são desempregados ou subempregados. No funcionalismo público são poucos os negros que assumem cargo de destaque, no poder judiciário o percentual é pequeno, no legislativo é pequeno.

Por que são poucos os negros que assumem cargos de destaque no funcionalismo?
Por ausência de formação para chegar nesses cargos. Quantos magistrados negros temos no ES? De 350 magistrados não temos nem 5%, se tivermos 10, somos muitos. No tribunal só eu. Quanto tempo vamos ter que esperar para ter outro Joaquim Barbosa, para ter outro Willian Silva do Tribunal de Justiça do Estado? Isso não é certo.
Essa disparidade, essa diferença, não vai acabar tão cedo. É inconcebível que continuemos com isso.

Perfil

Atua como juiz desde 1988
Nome: Willian Silva;
Idade: 64 anos;
Formado em Direito na Universidade Federal do Espírito Santo;
Natural de Alegre;
Casado há 40 anos e tem dois filhos do matrimônio. Willian ainda tem uma filha que nasceu antes dele se casar;
É magistrado desde 1988;
Eleito desembargador em 2011.

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