Especialistas explicam por que casamentos estão durando menos
Falta de diálogo, individualismo e uso excessivo das redes sociais estão entre os motivos apontados por especialistas
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Os casamentos estão durando menos. A média de duração passou de 15 para 12 anos no Brasil e também no Espírito Santo. É o que mostram os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, no Estado, o número de casamentos que termina com menos de 10 anos aumentou 41% entre 2010 e 2020. No Brasil, esse aumento é de 85%.
Falta de diálogo, individualismo, redes sociais e transformações sociais foram alguns dos motivos que especialistas em comportamentos e relacionamentos apontaram como causas do aumento de casamentos mais curtos.
“Acredito que um dos motivos seja a facilidade nas tecnologias, em especial as redes sociais. Dentro do diálogo dos casais, a maioria das discussões ou até mesmo a descoberta de alguma traição advém de fatos descobertos através das redes sociais”, observa a psicóloga Ana Carolina Souza.
Além da falta de conexão dos casais, com cada um se conectando mais virtualmente e se desconectando entre si, como aponta a sexóloga Cláudia Marriel, a falta de paciência também tem afetado as relações. “Antes as pessoas tinham mais tolerância. Hoje as pessoas estão mais imediatistas e individualistas”.
A atual geração tem uma tendência a soluções rápidas e isso também afeta os casamentos, segundo o psicólogo João de Oliveira. “Isso difere um pouco das gerações anteriores que namoravam cinco ou seis anos, ficavam noivos por dois ou três anos. Hoje em dia as pessoas se conhecem e já moram um tempo juntas e pronto”.
Já o psicólogo Breno Rosostolato acredita que a razão é porque as pessoas estão ressignificando suas relações.
“Acredito que as pessoas estão olhando para si mesmas de uma maneira muito singular e isso faz com que ressignifiquem suas relações. Esse processo inclui se perceber de maneiras diferentes e isso pode, ou não, ter influência diferente no casamento”.
O advogado Tomás Baldo, especialista em Direito de Famílias, afirma que não é possível indicar um fato isolado que justifique o aumento do número de casamentos de menor duração.
“Há, sim, alguns indicativos sociais que demonstram modificações no conceito de família. As pessoas passaram a compreender que não existe uma obrigação, social ou religiosa, em permanecer em um casamento infeliz”.
“Parceiros na vida e nos negócios”

O casal de empresários Adriane Langa, 51 anos, e Clóvis Luiz Sabino, 59 anos, está novamente vivendo a lua de mel. Depois de três anos separados, com brigas na Justiça para conseguir o divórcio, eles resolveram reatar o relacionamento.
“Nos divorciamos por causa de muitas brigas e depois ficou muita mágoa, pois foram anos de relacionamento”, contou Adriane.
A empresária afirma ainda que sofreu demais e não aceitava o fim do casamento.
“Depois que nós voltamos com nosso casamento, muita coisa mudou. Amadureci como mulher e ele como homem. Meu casamento hoje está bem melhor que antes e somos parceiros na vida e nos negócios”, revela Adriane.
SAIBA MAIS
Falta de diálogo
> Muitos casais chegam ao fim do relacionamento por falta de diálogo. Não falam o que gostam ou não gostam, o que querem e não querem, guardam mágoas e os problemas vão se avolumando, até que uma hora transbordam.
> Redes sociais e internet
Quanto mais avança o uso das redes sociais diminui a interação entre as pessoas pessoalmente e aumenta a interação por meio virtual, segundo os psicólogos. Isso pode prejudicar o casamento aumentando o distanciamento, a falta de diálogo e abrindo oportunidades para infidelidade.
Traição
> Segundo especialistas, muitas pessoas acham que a felicidade tem de ser um estado permanente, então trair está sendo banalizado. De acordo com especialistas, os casais precisam entender que a vida é feita de escolhas. Se escolhe ser casal, é necessário abrir mão da vida de solteiro.
Interferência de terceiros
> A interferência das famílias e de amigos no relacionamento traz muitos riscos. Às vezes, os filhos querem seguir as orientações dos pais e acabam não ouvindo ou não levando em consideração a opinião do parceiro. No casamento, as decisões têm de ser tomadas entre o casal.
Problemas sexuais
> A falta de interesse ou diminuição da atividade sexual é um dos primeiros sinais que o casal consegue perceber de que há algo errado na relação. A frequência regular de relações sexuais fortalece o vínculo de confiança e afetividade do casal. Se preciso, procurar ajuda para tentar solucionar.
Estresse
> Ter problemas no trabalho, no dia a dia, é normal, mas quando o estresse e a irritação prejudicam o relacionamento, isso pode levar ao desgaste e ao desrespeito.
> As dívidas, por exemplo, podem trazer estresse para a relação e atrapalhar o casal, não deixando espaço para diversão, além de ser também uma questão de confiança de ambos.
Mudança na lei
> Até 2010 só era possível o fim do casamento após os envolvidos requererem a separação por um ano ou caso fosse comprovado o fim da união por dois anos. Por ter que esperar este tempo, muitos casais não solicitavam o divórcio ou reatavam.
> Após julho de 2010, com a publicação da Emenda Constitucional 66, caiu em desuso o instituto da separação judicial. A medida terminou com o longo prazo que antecedia para que os cônjuges solicitassem o divórcio, tornando assim o processo mais rápido.
Fonte: Especialistas consultados.
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