Dificuldade pode ser confundida com transtornos
Para diferenciar a dificuldade de aprendizado do transtorno, é preciso observar um grupo de sinais e sintomas
Escute essa reportagem
As dificuldades podem surgir no aprendizado e nos relacionamentos de crianças e adolescentes. Mas é preciso ficar atento, pois as dificuldades podem ser confundidas com transtornos.
“É importante acompanhar o processo de aprendizagem da criança para perceber se a dificuldade é pontual, em apenas em um conteúdo ou área do conhecimento, ou se é mais geral, em vários conteúdos. Outro ponto é o tempo que a criança 'carrega' essa dificuldade. A persistência pode ser um sinal de transtorno”, alerta a psicopedagoga Roselaine Almeida, diretora acadêmica do Instituto NeuroSaber.
Antes de pensar em transtornos, é preciso que a família avalie se não é sobrecarga de tarefas ou cobranças, como sugere a pediatra do Grupo Sabin Georgette Beatriz de Paula.
“O primeiro ponto importante é definir se a criança ou adolescente realmente apresenta uma dificuldade de aprendizado ou se existe uma cobrança desproporcional por parte dos pais, ou da escola, acerca do seu desempenho”.
Quando o caso é esse, a médica ressalta que é importante alinhar as expectativas da família.
“Se for observado que realmente há uma dificuldade, devemos levar em conta na investigação do quadro de transtornos. Nesses casos, o indivíduo apresenta uma performance significativamente abaixo do esperado para sua capacidade intelectual em áreas específicas”.
A pandemia também trouxe prejuízos emocionais para crianças e adolescentes e preocupação para os pais.
“A necessidade de adaptação pós-pandemia ocorreu para todas as crianças. Dificuldade nesse processo aconteceu para todos, mas para aquelas em que a dificuldade parece ser maior, vale a pena uma avaliação. Os transtornos não apresentam uma causa definida, podem ser resultado de fatores genéticos, ambientais, ou mesmo a soma deles”, ressalta a psiquiatra Karen Vasconcelos, coordenadora de Medicina do Unesc.
Então, para diferenciar a dificuldade de aprendizado do transtorno, é preciso observar um grupo de sinais e sintomas e o tempo que eles persistem, como conclui a neurologista infantil Francini Fonseca Sepulcri.
“Tem de observar se a intensidade dessa dificuldade é mais do que a gente espera. Se mesmo com o estímulo correto ela persiste, é importante procurar um especialista para uma avaliação”.
“Foi muito triste ver esse sofrimento”

A falta de atenção e o esquecimento da pequena Manuella Cristina Maia Lucena, 8 anos, com os exercícios da escola, preocuparam a mãe dela, a fisioterapeuta Marcia Cristina Camara Maia, 51 anos.
“Em 2021, começamos a perceber esse esquecimento, as dificuldades nas aulas online. Quando voltou ao presencial, as dificuldades aumentaram. Ela batia a cabeça e dizia que era burra, que não conseguia aprender. Foi muito triste ver esse sofrimento da minha filha, ela se sentia incapaz. Foi quando procurei uma especialista. Fizemos exames e descobrimos que foi uma questão comportamental. Hoje ela ainda está em acompanhamento, mas a melhora é significativa! Ela faz tudo sozinha, melhorou bastante!”, disse a mãe.
Saiba mais
Dificuldade
> A criança pode ter defasagens abrangentes que podem estar relacionadas a causas emocionais, culturais ou cognitivas. Podem ser resolvidas com estratégias psicopedagógicas.
Transtorno
> Está relacionado a um conjunto de dificuldades pontuais e específicas, na maioria das vezes está associado a uma disfunção neurológica.
Alguns transtornos
TOD
> O Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) é caracterizado como uma reação inadequada exacerbada e negativa a regras, a imposições sociais, a determinações de autoridades, seja na escola, em casa, seja no ambiente social em geral, e que persiste de forma frequente por pelo menos seis meses.
> As características do TOD podem aparecer em qualquer momento da vida, mas é mais comum entre os 6 e 12 anos. A associação com TDAH é frequente em cerca de 50% dos casos
TDAH
> O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pode estar presente em 3% a 6% da população infantil. É problema neuropsiquiátrico, caracterizado por hiperatividade e/ou desatenção/impulsividade acima do esperado para a faixa etária ou estágio de desenvolvimento. Tem origem biológica e hereditária.
Autismo
> O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos. Esses sintomas configuram o núcleo do transtorno, mas a gravidade de sua apresentação é variável. Não tem cura, mas a intervenção precoce pode suavizar os sintomas.
TDL
> A criança com Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL) tem dificuldade para se comunicar e se expressar com clareza, muitas vezes também tem problemas para entender o que as pessoas dizem. Estas dificuldades não são causadas por nenhum outro quadro, como problemas de audição, emocionais ou transtornos como TEA. A criança pode achar difícil encontrar palavras ou usar vocabulário simples.
Transtorno da Aprendizagem
> Transtorno Específico da Aprendizagem é um termo que abrange diferentes condições neurológicas que afetam a aprendizagem e o processamento de informações, como a dislexia (dificuldade de leitura) e a discalculia (dificuldade com números e operações matemáticas). O termo é usado para descrever dificuldades específicas para adquirir habilidades acadêmicas básicas.
TPAC
> O Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) é a alteração ou falta de habilidade na recepção, análise e processamento da informação que chega pela via auditiva. Ou seja, mesmo sem perda auditiva, sem problemas na audição, a criança não consegue analisar ou interpretar o que ouve em situações de vida diária, de aprendizagem e durante a aquisição de linguagem.
Transtorno de ansiedade
> O transtorno de ansiedade generalizada é um estado persistente de ansiedade e inquietação intensas caracterizado por excessiva preocupação, medo e temores. São os quadros psiquiátricos mais comuns na infância e na adolescência. De 10% a 15% da população nessa faixa etária tem algum transtorno – desde casos mais leves até casos mais graves e com grande prejuízo funcional. O problema é mais frequente em meninas.
Transtorno alimentar
> Os transtornos alimentares (TAs) são desordens psiquiátrica que geram comportamentos inadequados denominados desvios alimentares. As perturbações persistentes na alimentação geram consumo ou absorção alterada de alimentos, comprometendo a saúde física, emocional e funcional. São comuns a anorexia e bulimia.
Comentários