Morros da Grande Vitória precisam de mil lojas, farmácias e restaurantes
Moradores, representantes de associações e lideranças comunitárias apontaram a falta de empreendimentos para atender necessidades básicas
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Ter de sair do bairro onde se mora para comprar produtos de que precisa ou se deseja é uma realidade de quem vive nos morros da Grande Vitória.
Segundo o presidente da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio), José Lino Sepulcri, seriam necessários, pelo menos, mais mil estabelecimentos comerciais nessas localidades para atender às necessidades da população.
A reportagem conversou com moradores, representantes de associações e lideranças comunitárias que apontaram que, embora tenha mercado consumidor, faltam empreendimentos para atender até necessidades básicas, como farmácia e mercados, por exemplo.
Wesley Ferreira, presidente do Movimento Comunitário de Santos Dumont, Vitória, contou que pedir uma pizza em domicílio ou chamar motorista por aplicativo é um problema. “Você passa seu endereço e não é atendido. Quer pizza e acaba tendo que fritar um ovo e comer no pão”, reclamou.
Apesar das dificuldades, alguns empreendedores estão tendo um olhar diferenciado para essas regiões. Em Jaburuna, Vila Velha, o jornalista Emerson Cabral, 50, e o administrador Ueber Moreira, 42, transformaram a própria casa em um restaurante.

O Modéstia às favas! tem vista deslumbrante de Vila Velha, que permite ao cliente apreciar não só o Convento da Penha, mas Praia da Costa, Itapuã e parte de Itaparica. “Se não fosse a ladeira, não teríamos essa vista”, disse Emerson.
Lá são realizados eventos sob demanda como jantares de casamento, aniversário, festas corporativas. Mas tudo começou com menu degustação de pizza. “A gente sabia que para alguém subir o morro para comer uma pizza, tinha que ser 'a pizza'”, contou.
Tanto ele quanto o companheiro cozinham. A massa utilizada é importada da Itália, os temperos vêm da própria horta, os frutos do mar são frescos e tudo sob medida. Por isso, as reservas são feitas com antecedência e a escolha do que vai comer também.
“Ser uma rua de pouco movimento, em um bairro de periferia, cria uma curiosidade, um atrativo a mais”, observou. E para quem se questiona se é perigoso, adiantou: “Você pode ser assaltado em qualquer lugar. Aqui é um bairro residencial, de classe média baixa e as pessoas se conhecem por nome”.

Visual e gastronomia
A farmacêutica Paula Da Ros, 33, e o médico Diego Cabral, 37, estão entre os clientes de restaurante em Jaburuna, Vila Velha. “O visual e a gastronomia são diferencidados”, destacou Paula.
O casal faz questão de compartilhar a experiência com amigos. Por sugestão deles, o encontro com 40 médicos do hospital onde Diego trabalha foi realizado no espaço, por exemplo.
Ele lembrou que é preciso quebrar o preconceito por ser no morro. “É preciso vir conhecer. Vale a pena”.
O Modéstia às Favas! trabalha com pizza napolitana, comida italiana e mediterrânea, por exemplo. Carnes não fazem parte do cardápio.

Moradores cobram melhora no acesso
Para melhorar a vida nos morros, moradores e lideranças apontam diversas necessidades. Entre elas estão melhoria na segurança pública, ampliação do acesso a ônibus e opções de lazer.
Em Itararé, na capital, o pedido é por mais segurança. “Os empreendedores que têm negócios aqui estão querendo sair por causa da violência”, apontou a presidente da Associação de Moradores do bairro, Maria Luciana Ribeiro da Silva.
Segundo ela, falta política pública para tornar o bairro um lugar seguro, além de opções de lazer. “A praça não é referência mais e não tem um lugar para o morador sair com um amigo para tomar um café, comer um pão de queijo e bater um papo”.
No Morro do Romão, também em Vitória, os moradores cobram a extensão dos horários das linhas de ônibus já existentes e novas linhas. Além disso, reclamam que para entrar no bairro é preciso fazer um retorno, que acaba elevando os gastos com gasolina.
A entrada dos morros também precisa de um olhar especial. Para a presidente do Conselho Popular de Vitória, Elza Costa, todo morro necessita de um gradil. “As ruas e os becos que dão acesso aos morros são muito degradantes. As escadas são irregulares, não tem corrimão. É preciso melhorar o acesso”.
Já em São Torquato, Vila Velha, a presidente da Associação de Moradores, Patrícia Crizando, frisou que o morro da Boa Vista ainda é de paralelepípedo. “As pessoas têm dificuldade de acesso”. Além disso, ela cobra iluminação adequada e corrimão em escadaria.
Em Cobi de Baixo, ainda no município, o presidente da Associação de Moradores, Renato de Matos, contou que é preciso sair do bairro para comprar remédio. “Não tem farmácia e nem posto de saúde”.
No morro de Jaburuna, também Vila Velha, o pedido é por drenagem, pavimentação, creche. “Qualquer comércio que vir para cá vai dar certo. A comunidade precisa”, destacou Roberto França, presidente da Associação de Moradores do bairro.
Em Cariacica, no bairro Presidente Médice, o morador Mário Rogério Barcelos apontou que faltam equipamentos de lazer.
A reportagem procurou as prefeituras e o governo do Estado para saber o que está sendo feito para melhorar a vida nesses bairros, conforme tabela abaixo.
SAIBA MAIS
Morros da Grande Vitória
- A reportagem conversou com moradores, presidentes de associações e líderes comunitários para saber quais são os tipos de comércio que faltam nos bairros e que teriam demanda, caso existissem.
O que mais apareceu
- A demanda por lotéricas foi uma das mais comuns nos morros. Segundo moradores, a falta desse equipamento faz com que moradores tenham que se deslocar para pagar suas contas. Além disso, a insegurança é apontada como um dos fatores para a ausência de casas lotéricas nos morros.
- Outra carência também comum é a de farmácias. Moradores reclamam que precisam sair do bairro para comprar remédios.
O que não precisa
- Já sobre bares, não há carência. Em alguns bairros, moradores apontam que há bares até demais. Eles revelam que existe uma carência por lazer e que os bares acabam se tornando o lugar que os adultos têm para se divertir.
Vitória
Morro da Penha
- O que falta: lojas de roupas (3), sapatos (2), produtos de beleza e de utilidades domésticas, restaurante, casa lotérica, Banesfácil, loja de eletrodomésticos e oficina para consertá-los, açougue, salão de beleza e sorveteria.
Morro do Bonfim
- O que falta: farmácia, sorveteria, casa lotérica ou Banesfácil.
Itararé
- O que falta: cafeteria, casa lotérica e padaria. Moradores reclamam da falta de segurança, que faz com que empreendedores não escolham o local para abrir comércio e, aqueles que estão lá, queiram sair.
São Benedito
- O que falta: casa Lotérica, Banesfácil, loja de eletrodomésticos, açougue, fábrica de confecção de peças íntimas e moda praia.
Santos Dumont
- O que falta: farmácia, consultório odontológico, açougue.
Jaburu
- O que falta: farmácia, açougue, lotérica, Banesfácil, loja de roupas.
Jesus de Nazareth
- O que falta: Banesfácil, casa lotérica, farmácia, açougue e loja de utilidades domésticas.
Morro do Romão
- O que falta: lotérica, açougue, mercadinho, mercearia, distribuidora de bebidas, distribuidora de gás, sorveteria, lanchonete.
Morro da Capixaba
- O que falta: mercadinho, loja de roupas, padaria, mercearia.
Bairro conquista
- O que falta: padaria, mercearia, hortifruti, farmácia, restaurante, sorveteria, distribuidora de gás.
Forte São João
- O que falta: farmácia, supermercado.
Vila Velha
Morro da Boa Vista
- O que falta: mercearia, loja de roupa, lanchonete, restaurante, farmácia.
Cobi de Baixo
- O que falta: farmácia, hortifruti, loja de roupa, restaurante, sorveteria e açaiteria.
Cobi de Cima
- O que falta: lanchonete, mercadinho, restaurante, farmácia, armarinho.
Jaburuna
- O que falta: lanchonete, padaria, salão de beleza, gráfica, confecção de uniformes, consultório odontológico, ótica.
Cariacica
Bairro Aparecida
- O que falta: farmácia, açougue, lojas de roupas e de sapatos.
Bairro Presidente Médice
- O que falta: casa lotérica.
Prefeituras dizem que têm projetos
Vitória
Investimento
- Desde fevereiro, a prefeitura está com um projeto em Jaburu, São Benedito, Itararé, Bairro da Penha e Bonfim. A ação envolve melhoria de acesso, com reforma de escadarias, implantação de corrimãos, adequação de degraus.
- Além construção de área de lazer. Em Jaburu está sendo construída uma quadra poliesportiva. No Bairro da Penha terá início a construção de uma quadra em janeiro de 2022. Investimento de R$ 14 milhões.
Projeto reconstrução
- Um total de 34 famílias que tiveram suas residências condenadas pela Defesa Civil tiveram seus lares reconstruídos, no mesmo local ou na mesma comunidade, por meio do projeto Reconstrução.
- A ação está sendo realizada nos bairros Conquista, Jaburu, São Benedito, Bairro da Penha.
Projeto Economia do Bem
- O Projeto oferece qualificação para empreendedores, por meio de oficinas como Gestão do Comércio, Formalização, Atendimento ao Cliente e Direitos do Consumidor.
- A iniciativa é voltada para os bairros São Benedito, Da Penha, Itararé, Bonfim, Consolação e Gurigica e as comunidades de Jaburu, Floresta e Engenharia.
Vila Velha
- A prefeitura foi procurada para falar sobre as melhorias que tem feito para os bairros, mas não respondeu até o fechamento da edição.
Cariacica
Infraestrutura
- A prefeitura informou que está fazendo melhorias nos bairros. Destacou que no Bairro Aparecida está sendo feita uma praça. Em Flexal II estão sendo construídas três escadarias, e no Flexal I está sendo construída uma escadaria.
- Ao todo, 12 escadarias passaram por reforma ou construção, com corrimão. Ainda estão sendo feitas intervenções como muro de contenção e taludes, por exemplo.
Governo do Estado
Programa Estado Presente
- O problema da segurança pública passou a ser observado por um prisma multisetorial. Essa nova perspectiva passou a exigir que a educação, a cultura, o esporte e o lazer fossem instrumentos de inclusão social e a promoção do desenvolvimento alcançou as regiões de maior vulnerabilidade, sem restringir-se apenas à distribuição de recursos públicos, mas incluindo a inserção no mundo do trabalho.
Gestão com foco no resultado
- O principal objetivo é avaliar a eficácia das ações desenvolvidas.
Trabalho integrado
- Polícia Civil e Polícia Militar passaram a compartilhar informações desenvolvendo ações conjuntas no combate à criminalidade.
Apreensão de armas de fogo
- Nos últimos três anos foram apreendidas 10.425 armas de fogo no Espírito Santo.
Melhoria na infraestrutura
- Criação de novas unidades policiais: 16ª Companhia Independente de Nova Rosa da Penha, 17ª Companhia Independente de São Torquato, 18ª Companhia Independente de Jaguaré e 19ª Companhia Independente de Pinheiros.
- Além da retomada dos concursos públicos para preenchimento de vagas nas Polícias Militar e Civil e Corpo de Bombeiros Militar, renovação da frota de viaturas, aquisição de armamento e coletes, investimento em inteligência e tecnologia.
Fonte: Instituições citadas.
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