Falta de exercício vai causar “explosão de doenças”
Relatório foi feito pela Organização Mundial de Saúde. Custos de tratamentos devem ultrapassar 300 bilhões de dólares até 2030
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Dados de um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) ligaram um alerta assustador para as consequências do sedentarismo e da prática de atividade física insuficiente.
De 2020 a 2030, quase 500 milhões de pessoas serão acometidas por enfermidades como diabetes, obesidade e doenças cardíacas, devido à falta de exercícios.
Para o nutrólogo e professor Roger Bongestab, os números são resultado do sedentarismo associado aos maus hábitos alimentares.
“Hoje em dia, temos um número maior de diagnosticados. Ao mesmo tempo, também tem aumentado o consumo de produtos industrializados, que vão favorecer o aparecimento dessas doenças”.
Publicado na última quarta-feira, o estudo contemplou 194 países, entre eles, o Brasil. O impacto, para além da saúde, também se estende à economia dos países.
A organização global estima que os custos de tratamentos dessas doenças devem ultrapassar US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão) até 2030.
O médico destaca que as projeções para os próximos anos são elaboradas tendo em vista a saúde das crianças nos dias de hoje. “A obesidade infantil tem crescido, e isso é preocupante”, alertou Bongestab.
O cardiologista Emilio Júnior compartilha da mesma preocupação. Para ele, este é mais um motivo para estimular o cuidado especial com a saúde dos pequenos.
“O trabalho na educação de base é importante justamente para formar adultos conscientes sobre a própria saúde”, disse.
Nas crianças, o crescimento ósseo, por exemplo, depende das atividades físicas. “As aulas de Educação Física e as brincadeiras ao ar livre são importantes nessa fase e também na adolescência”, enfatizou Júnior.
O médico ainda lembra que a maioria das doenças citadas pela OMS são evitáveis. “Além da mudança de hábito individual, cabe aos governos fornecer ciclovias, facilitar o acesso a bicicletas e promover campanhas de saúde em massa para relembrar a importância da atividade física”, pontuou.
Sobre o tema das políticas públicas, o relatório da organização indicou que apenas 40% dos países têm padrões de estradas que favorecem a prática da caminhada e do ciclismo.
Prática de 150 minutos por semana
Para os médicos, a falta de tempo não é motivo para desculpas. A Organização Mundial da Saúde, inclusive, recomenda 300 minutos de atividade física por semana (uma hora de exercícios por cinco dias ou 40 minutos por sete dias) ou ainda 150 minutos de exercícios ao longo da semana.
O nutrólogo Roger Bongestab faz as contas e assegura que o esforço vale a pena.
“Se você se exercita 30 minutos do seu dia, isso representa apenas 2% do tempo de todo o dia. É um investimento mínimo que você ganha em longevidade e qualidade de vida”, ressaltou.
Da criança ao idoso, a recomendação do tempo de atividade vale para todas as faixas etárias. Com o envelhecimento da população, as orientações são ainda mais necessárias.
“Com o avanço da idade, é natural que o corpo tenha uma perda muscular progressiva, que é inevitável. Por isso, os exercícios de fortalecimento muscular, como a musculação, são os mais indicados”, contou Bongestab, que salienta a importância do idoso viver de maneira independente.
Para quem ainda não se convenceu, o cardiologista Emilio Júnior dá outras dicas: o início de uma vida saudável pode começar por pequenas mudanças no dia a dia.
“Usar as escadas ao invés do elevador, descer do ônibus um ponto antes, dar preferência a locomoção por meio de bicicleta. São pequenas atitudes que proporcionam inúmeros benefícios”, orientou.
“Tenho mais qualidade de vida”
A preocupação com a saúde faz parte da vida do fisioterapeuta Matheus Campos, 24, desde a infância.
Diagnosticado com obesidade infantil aos 11 anos, ele iniciou a rotina de atividades físicas com o futebol de areia.
Desde então, ele mantém hábitos saudáveis, que incluem a prática de crossfit e musculação por uma hora e meia, quatro vezes por semana, e de futebol com os amigos, uma vez por semana. “A atividade física fez toda a diferença nesse processo. Trabalho o dia todo em pé e percebo que tenho uma capacidade física melhor. Também tenho mais disposição e qualidade de vida”, contou.
superação
Diagnosticado com depressão no ano passado, o adestrador de cães Carlos Emir, 38, engordou 37 kg, teve apneia do sono e arritmia cardíaca.
Ele conta que a atividade física transformou sua vida. Durante a semana, Carlos pratica, no mínimo, uma hora de corrida e natação, além de dedicar cerca de 40 minutos à academia.
“Vivo uma luta diária, que não é por um pódio. Luto para dar o melhor de mim e sentir a satisfação de dever cumprido”, afirmou.
fique por dentro
> A falta de exercícios ou a prática insuficiente são os motivos.
> Os custos de tratamentos dessas doenças devem ultrapassar US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão).
> Apenas 40% dos países têm padrões de estradas que favorecem a prática de caminhada e ciclismo.
> Relatório foi realizado com base nos dados de 194 países.
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