Polícia investiga cirurgião plástico suspeito de deformar nariz de pacientes
Grupo no Whatsapp chamado 'Pacientes do Alan' reúne cerca de 30 pessoas com complicações procedimentos de rinoplastia
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A Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) iniciaram investigações sobre um cirurgião plástico suspeito de deformar o nariz de cerca de 30 pacientes.
Os pacientes do renomado cirurgião plástico afirmaram ao G1 nesta quinta-feira (04) que não tiveram alta mesmo dois anos após o procedimento estético, já que seguem em tratamento, sem acesso a um prontuário que oriente os próximos passos e sem entender exatamente como um procedimento para trazer benefícios emocionais trouxe tantos danos.
Alan Landecker é especialista em rinoplastia, possui extenso currículo com passagens pelas universidades de São Paulo e do Texas, além da Clínica Ivo Pitanguy, atua em seu próprio estabelecimento no Jardim Paulistano, bairro nobre da Zona Sul da cidade de São Paulo, e compõe o corpo clínico dos hospitais Sírio Libanês, Albert Einstein e Vila Nova Star.
O médico repudiou as acusações e afirmou, por meio de nota, que pacientes tiveram infecções por conta de bactérias hospitalares (leia o posicionamento mais abaixo).
Dezenas de pacientes dele, contudo, denunciam que após os procedimentos foram acometidos por infecções bacterianas, que resultaram em deformações, perda olfato e perfuração devido ao apodrecimento da pele. O caso foi revelado pela Folha de São Paulo nesta quarta-feira (03).

A advogada Marília Frank no entanto, é uma das pacientes insatisfeitas do dr. Alan, que registrou boletim de ocorrência após o procedimento cirúrgico e que continua com pendências sobre o caso.
"Fiz a cirurgia em maio deste ano e, quando ele tirou o último curativo, viu que a cartilagem estava podre. Meu nariz estava estragado, eu estava toda torta e ele me mandando pra casa tomar analgésico", disse ela à reportagem.
"Foi meu infectologista quem o convenceu sobre uma segunda cirurgia, mas ele não tirou todo o tecido morto e a infecção tomou todo o meu rosto. Sigo em tratamento com um otorrino, que fez uma terceira cirurgia e prevê mais duas, sendo uma para reconstrução da columela porque ele retalhou meu nariz, e aí, sim, uma reparadora. Quero justiça. Ele me enrolou por dois meses e a impressão é de que estava lucrando com a infecção", continuou.
Marília registrou um dos boletins de ocorrência que orientam as investigações da polícia e, assim como os cerca de 30 pacientes que integram o grupo "Pacientes do Alan" no Whatsapp, teve complicações devido a uma grave infecção bacteriana.
Um dos casos mais graves é o do empresário Veraldino de Freitas Júnior, de 35 anos, que realizou a cirurgia com o médico em setembro de 2020, no Hospital Sírio Libanês em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta, tentando se curar de uma grave infecção.

"No pós-operatório, meu nariz não desinchou, com o passar dos dias começou a feder, com as pessoas do meu convívio percebendo o odor insuportável, até que no 15º dia abriu uma ferida", contou ao G1, acrescentando que foi o início de uma saga que já lhe custou R$ 300 mil, outras três cirurgias, o uso intravenoso de antibióticos duas vezes ao dia e sua saúde emocional.
"Não sabemos de quem é a responsabilidade pela infecção porque aconteceu no ambiente hospitalar, mas a grande falha comigo e com os outros foi a negligência de sempre amenizar a situação, dizendo que era normal e que ia passar, ou jogando a responsabilidade pra gente, dizendo que não cuidamos adequadamente do local. Meu infectologista explicou que a contaminação aconteceu no primeiro ato cirúrgico e que, desde então, o tratamento aconteceu de forma incorreta", continuou.

Após assistir a uma live em que a modelo Sarah Cardoso relatava o mesmo problema, Veraldino entrou em contato com ela, descobriu que o médico que a atendera também foi Landecker e que havia um grupo no Whatsapp chamado "Pacientes do Alan", com 30 pessoas com complicações semelhantes, embora as infecções sejam por diferentes tipos de bactérias.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que "os casos são investigados pelo 15º DP e pelo 34º DP. Foram solicitados exames de corpo de delito para as vítimas que já prestaram esclarecimento, sendo que os resultados estão em andamento e, assim que finalizados, serão analisados pela autoridade policial".
A SSP informou ainda que "oitiva do médico investigado será realizada no decorrer do andamento das investigações".
O que diz o cirurgião
A reportagem do G1 procurou o médico Alan Landecker e, em nota assinada pelos advogados Daniel Bialski e Fernando Lottenberg, repudiou as acusações, atribuiu os problemas ao descumprimento dos pacientes sobre as orientações e informou que está acionando a Justiça contra os ataques que têm sido feitos contra ele. Confira abaixo a íntegra do posicionamento.
"O Dr. Alan Landecker repudia com veemência as acusações formuladas. Em todas as fases do atendimento, prestou a necessária assistência, inclusive na pós-cirúrgica, não podendo ser responsabilizado naqueles casos em que os pacientes não cumpriram o necessário protocolo de cuidados recomendados, omitindo uso de medicamentos, como imunossupressores; abandonando o tratamento ou não seguindo as orientações médicas.
Dentre os pacientes que tiveram problemas de infecção após a cirurgia, os casos mais graves foram causados por bactérias tipicamente hospitalares, tais como Mycobacterium, Pseudomonas, Achromobacter, Burkholderia, Stenotrophomonas e Klebsiella.
Ressalte-se que, dentre os poucos pacientes que tiveram infecção, a ampla maioria cumpriu as orientações até o final do tratamento, estando totalmente satisfeitos, tanto com a estética como com a função nasal.
A rinoplastia é a cirurgia estética mais complexa da especialidade. Dentre as mais de 4 mil cirurgias que nosso cliente realizou nestes 20 anos (principalmente casos complexos de correções de pretéritas rinoplastias malsucedidas, realizadas por outros profissionais), raras foram as complicações infecciosas pós-operatórias, correspondendo a apenas 0,5% entre os pacientes do Dr. Landecker, referência nacional e internacional nessa especialidade.
Todos os pacientes são previamente orientados sobre os cuidados necessários e acompanhados por até três anos após os procedimentos.
A correção, seriedade e competência do profissional serão demonstradas por meio de exames e documentos, havendo prova induvidosa de que não incorreu em falta ou erro de qualquer esfera.
As imputações e ataques à honra, religião e reputação do Dr. Landecker, nas redes sociais, são alvo de representações, ações criminais e cíveis e seus autores serão devidamente responsabilizados."
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