O que ex-aluno disse à polícia sobre o ataque em escola
A Tribuna teve acesso aos depoimentos prestados à polícia pelo jovem que invadiu escola com arco, flecha e facas na sexta-feira (19)
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O dia 19 de agosto, última sexta-feira, será uma data que ficará na lembrança de estudantes, pais e funcionários da escola Éber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, Vitória, instituição de ensino que foi palco de um ataque promovido por um ex-aluno, um jovem de 18 anos.
Mas o que pode estar por trás do ataque? O que disse o jovem H.L.T (seu nome não está sendo divulgado, pois foi decretado segredo de Justiça no caso) à polícia, sobre o ocorrido?
A reportagem de A Tribuna teve acesso aos depoimentos prestados à polícia pelo ex-aluno, por testemunhas e agentes da força de segurança que atenderam a ocorrência no dia do ataque.
Diferente do que foi narrado por alunos e funcionários, ele disse que não tentou atirar contra ninguém na escola. No entanto, durante depoimento à polícia, na sexta-feira, ele admitiu que “a balestra (arco e flecha) falhou”.
Ele disse que queria forçar um confronto com policiais militares e então ser morto no confronto.
O jovem, que mora em Jardim Camburi, Vitória, contou que chegou à escola, em Jardim da Penha, em um carro de aplicativo. Ele falou ainda que comprou gasolina em um posto de combustível e, as balestras e os dardos, em um site, sem mencioná-los.
Procurada pela reportagem para falar sobre o caso, a assessoria de imprensa da Polícia Civil emitiu uma nota, que diz: “O procedimento do flagrante será relatado à Justiça, que se entender necessário novas diligências mandará o caso para a Polícia Civil”.
Após ser preso, o jovem foi encaminhado para o Hospital Estadual de Atenção Clínica (HEAC). A reportagem também questionou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para saber se ele foi submetido a exame, qual foi o resultado ou quando o laudo ficará pronto.
A resposta da Sesa foi: “A Secretaria da Saúde esclarece que não fornece informações relacionadas ao prontuário de cidadãos ou pacientes submetidos a tratamento em hospitais da rede estadual, em observância à Lei Geral de Proteção de Dados bem como ao princípio da liberdade e da privacidade. As informações são repassadas exclusivamente para a família ou autoridades responsáveis em caso de investigação”.
O jovem teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. Ele foi levado para o Centro de Triagem de Viana.
O que ele disse
Forçar confronto
> À polícia, o jovem de 18 anos disse que a sua intenção era chegar na escola e parecer o mais ameaçador possível, a fim de forçar um confronto com policiais militares e então ser morto no confronto.
Chegada em carro de aplicativo
> Ele disse que na última sexta-feira foi até a escola, em Jardim da Penha, Vitória, de Uber e, ao chegar na calçada do colégio, colocou as balestras pequenas no cinto de utilidade.
Álibi para entrar
> Em seguida, pegou o resto das coisas e tentou forçar a entrada no portão principal do colégio.
> Que neste portão, ele viu o porteiro e disse que tinha uma reunião, mas o porteiro não permitiu a sua entrada, momento em que o jovem tentou abrir o portão apertando um botão, mas não conseguiu.
A invasão
> O jovem, então, caminhou até o portão lateral e pulou uma grade.
> Após entrar na escola, ele foi até a área da diretoria. Lá, interagiu com uma mulher, que estava na porta da sala dos professores.
> Assustada, a mulher, segundo o jovem, perguntou o que ele fazia.
> Ele admitiu, em depoimento, que a sua presença era ameaçadora, pois portava material bélico e usava máscara. Ele falou ainda que não atirou contra a mulher, a qual entrou na sala e trancou a porta. Em seguida, ele deu um chute na porta.
Assustar as pessoas
> Ele declarou ainda que a sua intenção era assustar as pessoas.
> Quando estava no primeiro andar, não atirou contra ninguém. Subiu as escadas e foi para o segundo andar, onde encontrou a diretora, mas a confundiu com a antiga diretora, que declarou que gostava muito dela. Que chegou a tirar a máscara e cumprimentá-la.
> Ele diz que tentou se locomover até a diretoria do segundo andar, mas foi rendido, sem oferecer resistência.
> O jovem disse que não interagiu com nenhuma criança e não chegou a atirar contra nenhum aluno. Ele disse que não entrou em nenhuma sala de aula e que ficou apenas na porta de uma das salas.
> Ele afirmou que não recordava se tentou manusear alguma balestra. Ele falou que fez um teatro, mas não feriu ninguém. Que desejava chamar a atenção e comoção, a fim de acionarem a polícia.
> Sobre os molotovs, ele respondeu que a sua intenção era atear fogo na quadra da escola, com os livros da biblioteca para chamar a atenção da polícia.
> Ele disse que a balestra falhou porque a arma falha sozinha, sem ser manuseada.
Planejamento do ataque
> Perguntado sobre quanto tempo planejou o ataque, ele não quis dizer e garantiu que executou todo o ataque sozinho.
> O jovem disse que estudou na escola por muitos anos, e saiu em 2019.
> Disse ainda que comprou a gasolina em um posto. Que as balestras e os dardos foram comprados em um site, sem mencioná-los.
> Ele afirmou ainda que o seu irmão gêmeo não teve nenhuma participação no crime e nem estudou na escola. Por fim, disse que não usa drogas e nem remédio controlado.
Fonte: Inquérito policial.
Entenda
1) Invasão
A escola municipal Éber Louzada Zippinotti, de Jardim da Penha, Vitória, foi invadida na última sexta-feira (19) por um jovem de 18 anos.
Segundo testemunhas, H. L. T. como foi identificado, chegou à escola por volta das 14h, com roupas pretas e várias armas como facas e bestas ou balestras (arco e flecha).
Ele tentou primeiro entrar pelo portão principal, dizendo ao porteiro que iria à uma reunião. Como foi impedido, pulou o muro lateral.
2) Abordagens
Dentro da escola, testemunhas contaram que ele chegou a atirar contra professores e alunos. Em alguns relatos, a besta travou em vários momentos. Uma professora chegou a ter um dos dardos atingindo a perna, mas não chegou a machucar.
Houve correria e pânico entre os estudantes e funcionários.
3) Imobilizado
O jovem foi imobilizado por um dos professores, contando com ajuda de outras pessoas do local. A PM chegou em seguida.
4) Versões
Para policiais militares, o ex-aluno contou que o plano era matar seis ou sete pessoas, depois entrar em confronto com a polícia e morrer.
Já em depoimento, ele negou a intenção de matar pessoas. Disse que queria chamar atenção para morrer em um confronto.
No local, estudantes e professores contaram que o jovem chegou a afirmar que uma segunda pessoa iria participar da ação, jogando os coquetéis molotov. A bolsa com os explosivos ficou do lado de fora, mas a polícia não confirmou que outra pessoa teria participado.
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