Crimes que mais chocaram policiais, delegados e investigadores no ES
Maioria respondeu que os casos que envolvem crianças assassinadas são os que mais causam indignação e revolta
Escute essa reportagem
Dois crimes ocorridos este mês causaram grande comoção no Estado. No último dia 10, uma vendedora foi morta a facadas por um cliente em uma loja na Glória, em Vila Velha. Na madrugada de sábado, um jovem foi assinado com uma facada no peito, na Rua da Lama, em Vitória.
Diante desses e de outros crimes brutais que terminaram em assassinatos, a reportagem de A Tribuna fez um levantamento para saber quais casos mais impressionaram investigadores e delegados – profissionais que lidam diariamente com a violência.
Ressaltando que todos os crimes são igualmente investigados, a maioria respondeu que casos que envolvem crianças e o princípio da adolescência são os que mais causam comoção em uma investigação.
O delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, explica que, por conta do seu cargo, não pode investigar crimes, mas apoia os delegados com seu conhecimento, com auxílio de material e de tecnologia, quando é necessário.
“Chega um momento em que a gente fica um pouco embrutecido, pois são 33 anos de profissão, e já trabalhei investigando muitas chacinas. Mas quando é crime que envolve criança, o próprio governador Renato Casagrande cobra da gente uma resposta. Ele quer ver o criminoso preso e a gente também”, disse Arruda.
O delegado-geral adjunto José Lopes também afirma que crimes envolvendo crianças são os que mais impressionaram.
“Tenho 40 anos de serviço, e meu pai foi policial. Quando se trata de criança, você sabe que ela não provocou o criminoso e, mesmo se provocasse, nada justifica. Como você investiga um crime? Você traça o perfil da vítima. Quando se trata de uma criança e de um adolescente, que não tem problema com nada, incomoda muito porque você se depara com a crueldade”.
O superintendente Regional Norte, delegado Fabrício Dutra, observa que, por mais que existam crimes que acabem chocando até mesmo a polícia, os policiais são preparados.
“Há o preparo físico para participar das investigações e operações e o trabalho psicológico também, pois não podemos 'fazer justiça com as próprias mãos'. Nosso dever é colher o maior número de elementos para embasar a denúncia do Ministério Público e sustentar uma futura condenação do criminoso, por parte da Justiça”.
Caso Kauã e Joaquim: pena de 146 anos

O ex-pastor Georgeval Alves Gonçalves foi condenado a 146 anos e quatro meses de prisão por estuprar, torturar e matar o filho e o enteado, os irmãos Kauã e Joaquim, em Linhares, no Norte do Estado, na madrugada do dia 21 de abril de 2018.
O julgamento ocorreu em 2023, cinco anos após o crime. Georgeval foi condenado por abusar sexualmente e matar o filho e o enteado, os irmãos Kauã e Joaquim.
O delegado André Jaretta estava à frente da Delegacia Regional de Linhares e falou que esse crime foi o que mais chocou delegados, investigadores e todos os profissionais da segurança que atuaram no caso.
“Pesa aí o fato de ele se apresentar como líder religioso, por envolver crime brutal contra crianças, inclusive o próprio filho. Por ele ter tido a frieza de simular incêndio para apagar vestígios, se passar por pai e padrasto consternado”.
O delegado contou que, apesar da experiência das equipes e, depois, os laudos dos bombeiros mostrarem que o incêndio foi criminoso, ainda era difícil acreditar na autoria.

Mãe e filho assassinados a golpes de marreta

Priscila dos Santos de Ambrosio, de 36 anos, e o filho Higor Gabriel de Ambrosio Pinheiro, de 4 anos, foram mortos, na noite de 15 de julho de 2024 em Nova Carapina I, na Serra, com golpes de marreta. Os corpos foram encontrados pelo companheiro dela. Segundo ele, Priscila emprestava dinheiro a juros.
Ricardo Elias e a babá Noemia de Oliveira, de 35 anos, foram presos e confessaram o crime. Segundo a Polícia Civil, a motivação foi uma dívida de R$ 10 mil, que Ricardo teria com Priscila.

Sequestrada, estuprada e morta

A estudante Thayná Andressa de Jesus Prado, de 12 anos, desapareceu em 17 de outubro de 2017, no bairro Universal, Viana. Uma câmera registrou a menina entrando no carro de Ademir Lucio Ferreira de Araújo.
O delegado-geral adjunto da Polícia Civil, José Lopes, coordenou as investigações na ocasião. “Ele usou da inocência da Thayná, dizendo que conhecia a família dela”.
A ossada da menina foi encontrada num brejo. O acusado foi preso em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. A Justiça condenou Ademir a 34 anos de prisão por estupro de uma menina de 11 anos, três dias antes do sequestro de Thayná. Ademir morreu na prisão em 2020.

Rendido e executado ao ir a um baile funk

O adolescente Caíque Conceição Moreira, de 16 anos, foi assassinado em 31 de março do ano passado, em Jardim Bela Vista, Serra.
O corpo foi encontrado carbonizado na rodovia Audifax Barcellos, em 4 de abril, segundo o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra.
“Ele teve envolvimento com o tráfico em Jacaraípe e foi ao baile funk em Jardim Bela Vista. Foi rendido ao ir embora”.
Segundo o delegado, os criminosos bateram na vítima. “Dois adolescentes atiraram nele, que levou três golpes de enxada na cabeça, incendiaram o corpo e enterraram”.

Matou enteado que não quis tomar banho

A madrasta de Samuel Macedo Neves – de 3 anos, morto em julho de 2015, em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado – confessou que matou o enteado após o menino se recusar a tomar banho e fazer pirraça.
Juliana Vicente Pereira, de 35 anos, alegou que a morte não foi intencional, mas o laudo médico atestou asfixia mecânica, disse o delegado Guilherme Eugênio. Ela está presa.

Ataque em Aracruz e prisão do atirador

Um ataque a duas escolas deixou quatro mortos e outros 12 feridos em Aracruz, em novembro de 2022. O assassino, de 16 anos, usou duas armas do pai, um policial militar. Ele foi preso, confessou os crimes e foi internado desde o ataque, numa unidade do Instituto de Atendimento Socioeducativo (Iases).
O delegado Leandro Sperandio, titular da Delegacia de Polícia (DP) de Aracruz na ocasião, e atual titular da DP de Fundão, foi um dos delegados responsáveis pelo caso.
“Um PM me ligou e mal conseguia falar. Só dizia que foi uma tragédia, e aí caiu a ligação. Fomos ao local. Chegaram policiais de folga, de outras cidades. Dividimos as equipes. Entramos na escola e parecia cena de filme”.

Espancada até a morte pelo próprio pai

A estudante Paloma Fernandes, de 6 anos, foi espancada até a morte dentro de casa, com a mãe, na noite de 18 de junho de 2024, em Cariacica.
O corpo de Paloma foi encontrado ao lado da mãe Sônia Fernandes, 46 anos, que estava gravemente ferida. A mãe foi levada ao hospital e sobreviveu.
Oseas Marciel Soares, de 48 anos, pai de Paloma, principal suspeito, foi encontrado morto numa mata, três dias depois.
“Foi um caso que a delegacia trabalhou dia e noite, trouxe muito desgaste emocional. Foi um crime brutal”, afirmou a delegada Raffaella Aguiar, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM).

Ocultou o corpo e registrou desaparecimento

Em maio de 2017, o namorado de Graciele Santos Vieira, de 32 anos, procurou a delegacia para registrar o desaparecimento dela. Com o andamento das investigações, ele foi preso.
“Foi uma ousadia ele ir até a delegacia, registrar a ocorrência, chorar, pedir ajuda, dizer que a vítima se envolveu com um cara. Fez isso para desviar a atenção sobre ele”, disse o oficial investigador de polícia, Adriel Ludolfo Moreira, da Delegacia Especializada de Homicídio – Pessoas Desaparecidas (DEPD), que registrou o boletim de ocorrência.
O corpo da vítima foi encontrado enterrado e concretado em uma chácara em Praia Grande, Fundão, em dezembro de 2017. O acusado foi preso em 2017 e solto por alvará em abril de 2023.

Chacina por conta de latinhas de cerveja

Passaram-se 14 anos, desde que o agora Superintendente Regional Norte, delegado Fabrício Dutra, chegou à cena do crime que ficou conhecido como a “Chacina de Vila Cajueiro”.
“Lembro até hoje da cena. Os quatro jovens estavam amarrados em uma cerca, cada um com um tiro na cabeça. Eles eram moradores de rua, alguns usuários de drogas, e catavam latinhas da área de uma boate. O dono não gostou e ordenou o crime”. Segundo Dutra, eles foram pegos na boate, torturados, colocados num carro e executados numa área de pasto, em Cariacica.
Bartolomeu Ferreira Lima, Leandro Assis da Silva, Fábio Pinheiro Castias e Jeferson Luz da Ressurreição foram condenados a mais de 80 anos pelos crimes e permanecem presos.

MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários