"A democracia pode estar em mais risco do que imaginamos", alerta João Campos
Prefeito fala sobre o assunto ao receber membros da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos
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"A democracia pode estar em mais risco do que imaginamos", alertou o prefeito do Recife, João Campos, durante um encontro com membros da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, nesta quinta-feira (13).
O prefeito reforçou que a gestão municipal tem um compromisso firme com a preservação da memória histórica e com os direitos humanos, destacando a importância de ações para evitar retrocessos.
A reunião abordou os trabalhos realizados pela Prefeitura do Recife em parceria com a Comissão, que está no Recife desde terça-feira (11) para realizar diligências técnicas relacionadas a vítimas da ditadura militar.
"Sabemos, por mais que isso pareça algo inimaginável de se acontecer no dia de hoje, que a vida vem e mostra que se não tivermos a capacidade de estar lutando, cuidando, de regar essa semente e essa árvore que é a democracia, ela pode estar em mais risco do que imaginamos", afirmou João Campos.
João Campos também mencionou o histórico de perseguição política de sua própria família durante a ditadura militar. Seu bisavô, por exemplo, foi perseguido pela ditadura militar.
O encontro contou com a presença de Vera Paiva, integrante da CEMDP e filha do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido político durante a ditadura. O caso de Rubens Paiva é um dos mais emblemáticos do período, tendo sido relembrado recentemente no filme brasileiro indicado ao Oscar, Ainda Estou Aqui.
A visita da Comissão ao Recife faz parte de um esforço nacional para localizar e identificar vítimas da ditadura. No município, os trabalhos ocorrem nos cemitérios da Várzea e Santo Amaro, onde há suspeitas de inumações clandestinas.
COMISSÃO ESPECIAL CHEGOU A SER EXTINTA POR BOLSONARO
A equipe técnica atua com o apoio do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. O CEMDP foi recriado em 2024, após ter sido extinto no governo Bolsonaro.
O secretário de Direitos Humanos e Juventude do Recife, Marco Aurélio Filho, destacou a importância da retomada das investigações. "A exigência da retomada do trabalho da Comissão aqui, no Recife, é fundamental para que novos casos possam vir à tona", afirmou.
No fim do dia, os membros da Comissão participam da inauguração de um busto em homenagem à militante política Soledad Barret Viedma, desaparecida durante a ditadura. A escultura será instalada na Rua da Aurora, ao lado do Monumento Tortura Nunca Mais, em mais uma ação da Prefeitura do Recife para reforçar o compromisso com os direitos humanos e a memória histórica.
MIGUEL ARRAES, BISAVÔ DO PREFEITO DO RECIFE
Miguel Arraes, um dos mais emblemáticos políticos de Pernambuco e do Brasil, foi vítima de perseguição política durante o regime militar, especialmente após o golpe de 1964. Na época, Arraes era governador de Pernambuco e se posicionava contra a ditadura, defendendo os direitos sociais e a autonomia dos estados, o que fez com que fosse considerado um adversário pelo regime.
Após o golpe de 1964, Miguel Arraes foi deposto do cargo de governador e exilado. Ele foi preso e, em seguida, banido do Brasil. Durante o período de exílio, Arraes viveu na Argélia, França e, mais tarde, no México, onde se manteve ativo na oposição ao regime militar e lutou pela volta da democracia no Brasil. Ele foi alvo de várias ações de repressão, como escutas ilegais, monitoramento e tentativas de descreditá-lo publicamente.
Sua trajetória política é marcada por sua luta em defesa da justiça social e dos direitos dos trabalhadores, o que o tornou um líder de resistência durante a ditadura. O exílio de Miguel Arraes durou cerca de 14 anos, até que ele retornou ao Brasil em 1979, após a anistia política que começou a ser implementada no governo de João Figueiredo, o último presidente militar.
Miguel Arraes não só resistiu ao regime, mas também foi fundamental na formação de uma imagem de liderança popular, alinhado com as causas democráticas e progressistas, o que o tornou um ícone político no Brasil, especialmente no contexto de Pernambuco.
Sua história, marcada pela perseguição e exílio, é muitas vezes lembrada como parte do legado de resistência à ditadura militar, ao lado de outros líderes como os deputados Rubens Paiva e o próprio João Amazonas.
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