PM evita briga de galeras em Olinda: entenda o que motiva a formação desses grupos
Para quem não faz parte desse contexto, o medo é palpável, e a necessidade de fugir ou se proteger é imediata
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A Polícia Militar conseguiu evitar que confrontos entre grupos rivais causassem distúrbios nas ruas da cidade neste último domingo (17). Informações apontaram que duas galeras haviam agendado um encontro nas ladeiras do Sítio Histórico, em Olinda. O local é um dos principais pontos de encontro de foliões locais e turistas.
Um dos grupos foi avistado na Avenida Perimetral, já provocando transtornos, e rapidamente a equipe da Ciatur, com o apoio do 1º BPM, se deslocou para o local.
A ação da polícia resultou na prisão de 23 suspeitos, que foram conduzidos à Delegacia do Varadouro. No entanto, o clima de tensão não durou muito. Pouco tempo depois, foliões relataram que outro grupo estava causando desordem na Rua Prudente de Moraes, no bairro do Carmo.
Segundo a assessoria da PM, novas equipes seguiram para o endereço e conseguiram identificar e prender oito indivíduos, que também foram levados à Delegacia de Plantão. “Graças à atuação eficiente das forças de segurança, o Carnaval em Olinda pôde seguir com tranquilidade, sem maiores episódios de violência”, diz trecho de nota enviada pela PM à imprensa.
No Brasil, instituições como a USP, UFRJ, UFPE e FGV já produziram estudos sobre juventude, comportamento coletivo e violência urbana em grandes eventos. A formação de “galeras”, ou seja, grupos urbanos associados a conflitos, vandalismo e até criminalidade, é influenciada por diversos fatores sociais, psicológicos e ambientais. Entre as principais causas, especialistas apontam:
📌 1. Identidade e pertencimento
Muitos jovens entram para esses grupos em busca de identidade e aceitação. Em contextos de vulnerabilidade social, fazer parte de uma “galera” pode oferecer proteção, status e reconhecimento.
🔥 2. Rivalidade territorial
A competição entre bairros, torcidas organizadas e grupos musicais pode alimentar conflitos. Muitas dessas "galeras" têm histórico de rixas e enfrentamentos, intensificados por redes sociais e encontros em grandes eventos.
🚨 3. Falta de oportunidades e desigualdade social
A ausência de acesso a educação, emprego e lazer pode levar jovens a se envolverem com grupos que oferecem sensação de poder e pertencimento. O sentimento de exclusão e a falta de perspectivas podem favorecer comportamentos violentos.
🍻 4. Álcool e drogas
O consumo de substâncias pode intensificar comportamentos impulsivos e agressivos. Durante festas e eventos, onde o consumo é alto, brigas e atos de vandalismo tornam-se mais frequentes.
👀 5. Efeito manada e anonimato
Em grandes eventos, o anonimato e a sensação de estar em grupo podem levar indivíduos a agir de forma mais agressiva do que fariam sozinhos. Esse efeito psicológico pode estimular vandalismo e confrontos.
❌ 6. Falta de mediação de conflitos
A ausência de estratégias eficazes de mediação de conflitos pode permitir que pequenos confrontos escalem para situações mais graves.
Mistura de adrenalina, excitação e forte senso de pertencimento
Especialistas apontam que, ao se dirigirem para confrontos, os integrantes dessas "galeras" podem experimentar uma mistura intensa de adrenalina, excitação e um forte senso de pertencimento.
Muitos afirmam que, nesse embate, há uma sensação de afirmação pessoal e coletiva, onde a coragem e a disposição para enfrentar o rival reforçam sua identidade e status dentro do grupo. Esse sentimento, alimentado pelo efeito manada, pode levar a comportamentos impulsivos e, por vezes, a uma falsa sensação de invulnerabilidade.
Quanto à formação desses grupos rivais, fatores sociais e culturais têm papel central. Estudos de sociologia e psicologia social – desenvolvidos em instituições como a USP, UFPE e FGV – sugerem que a busca por identidade, a exclusão social e as rivalidades territoriais são determinantes.
Jovens, em contextos de vulnerabilidade, podem se agrupar para encontrar proteção, reconhecimento e uma forma de se posicionar frente a desafios do cotidiano. Esse ambiente competitivo, muitas vezes exacerbado pela influência de redes sociais e rivalidades históricas entre bairros ou torcidas, contribui para a criação e perpetuação desses grupos.
Em resumo, o que motiva esses jovens vai além do mero desejo de confronto: trata-se de uma busca por pertencimento, validação e afirmação em um contexto de desafios sociais e econômicos.
“É na Região Metropolitana que ocorrem com maior intensidade as desigualdades sociais e, devido à maior densidade demográfica, os conflitos interpessoais e a formação de galeras, ou grupos de jovens que se reúnem com o objetivo de praticar atos lícitos (esportes, artes ou outra atividade social ou religiosa) ou ilícitos (roubos, furtos, consumo de drogas e outras infrações ou crimes). Às vezes esses grupos competem com outros de áreas diferentes, como uma forma de resguardar sua atuação em um determinado território”, diz um trecho do estudo Conglomerados de violência em Pernambuco, Brasil.
Violência à espreita
A ação desses grupos muitas vezes é imprevisível. O fato de que o conflito pode explodir a qualquer momento faz com que os transeuntes sintam que a violência está à espreita.
A sensação de anonimato que esses grupos possuem — dentro do coletivo, ninguém se sente responsável pelos atos — torna a situação ainda mais ameaçadora. Para quem não faz parte desse contexto, o medo é palpável, e a necessidade de fugir ou se proteger é imediata. Não há muito o que fazer, a não ser esperar que a situação passe sem mais danos.
Esse "terror" se alimenta não só do risco físico, mas também da sensação de impotência diante de uma dinâmica que está além do controle das pessoas comuns, que apenas querem seguir sua rotina, sem se envolver nas disputas e rivalidades alheias.
A presença dessas "galeras" nas ruas é, para quem não pertence a elas, uma constante lembrança da fragilidade e da imprevisibilidade da segurança urbana.
A escolha de grandes palcos
A escolha de grandes eventos como palco para essas disputas, como festas populares, shows ou aglomerações, tem várias razões. Primeiramente, esses eventos oferecem um grande público, o que amplifica a sensação de poder.
Quando se confrontam em locais de grande visibilidade, como as ruas de Olinda ou durante o carnaval, as "galeras" não estão apenas buscando um enfrentamento físico com rivais, mas também uma exibição pública de força e domínio.
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