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Cidades

A difícil vida de Jean, garotinho de 5 anos que morreu afogado no Rio Beberibe

Corpo da criança foi enterrado nesta sexta num ambiente de conflitos, algo comum na comunidade Burra Nua, em Sítio Novo


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Imagem ilustrativa da imagem A difícil vida de Jean, garotinho de 5 anos que morreu afogado no Rio Beberibe
O pequeno Jean foi encontrado na tarde do dia 2 de janeiro, um dia após desaparecer no rio |  Foto: Divulgação

Encontrado morto num trecho do Rio Beberibe, nas imediações da comunidade Burra Nua, em Sítio Novo, no município de Olinda, o pequeno Jean Francisco de Macedo, 5 anos, teve um enterro tão difícil, nesta sexta-feira (3), como foi sua vida. A mãe, conhecida como Nina, estava dopada, sendo amparada por duas pessoas enquanto o pai, Jacks Nascimento de Macedo, discutia com os vizinhos para se defender.

Enterro marcado por conflitos e gritos de justiça

O caixão da criança foi retirado do velório por moradores da comunidade e levado até uma pequena cova aberta no chão do Cemitério de Águas Compridas, em Olinda. Ele foi posto no local de forma abrupta, refletindo a tensão e a revolta que permeavam o ambiente durante o enterro.

Os pais estavam presentes, mas não seguraram o caixão. Por onde eles andavam, ouviam gritos e rostos conhecidos pedindo por justiça, viam cartazes escritos à mão com a mesma palavra. O caso dramático foi coberto pela repórter Simone Santos e exibido no Brasil Urgente, comandado por Moab Augusto.

Negligência e tragédia anunciada: o relato dos vizinhos

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O pai do menino, o motorista de aplicativo Jacks Nascimento, informou que Jean tinha transtorno do espectro autista e relatou à imprensa que o filho saiu de casa na manhã do dia 1º, correndo em direção ao canal |  Foto: Frame da TV Tribuna

Para quem acompanhou de perto o que aconteceu na comunidade, como os próprios moradores, a morte do menino não foi apenas um acidente. No dia 1º de janeiro, um vizinho teria pedido aos pais para tirar a criança da beira da maré, uma vez que ela tinha dificuldades de falar e andar. No local, inclusive, perto de onde ele estava, informaram ser comum aparecer jacarés e capivaras.

Outras pessoas da vizinhança relataram sinais de negligência por parte dos pais em relação à criança, incluindo questões alimentares e emocionais.

Jean vivia em condições de vulnerabilidade, marcadas pela pobreza e pela dependência química de seus pais, outras vítimas de um contexto que, muitas vezes, gera consequências trágicas. Ninguém viu seus últimos minutos de vida.

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Baldinho onde a criança brincava, à beira da maré, antes de falecer |  Foto: Frame da TV Tribuna

Segundo informou o próprio pai à TV Tribuna/Band, o motorista de aplicativo Jacks Nascimento, antes de morrer, o garoto passou parte da noite brincando com um pequeno baldinho de plástico, à beira do rio, que mais parece um canal de tão poluído, enquanto ele, a mãe e um amigo celebravam o Réveillon e bebiam perto.

O pai garantiu que vigiava a criança no baldinho, mas também admitiu que tanto ele quanto a mãe usaram drogas ilícitas na ocasião. A mãe cheirava cocaína; ele, loló. E a mãe teria ficado exaltada após a coca acabar, o que teria resultado em confusão até ela ouvir um hino de louvor e ser acalmada.

Contradições sobre o desaparecimento de Jean

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Mãe do garoto saiu do enterro amparada por duas pessoas |  Foto: Frame da TV Tribuna

Os vizinhos do casal acreditam que o caso foi marcado por contradições desde o momento em que a criança sumiu, especialmente por ninguém determinar o horário. Na primeira entrevista que concedeu à TV Tribuna, o pai relatou que Jean teria escapado de casa quando ele e a mulher já estavam se recolhendo para dormir, no início da manhã.

Segundo o pai, ele tinha acabado de botar uma nova fralda no menino, quando Jean saiu de casa para o local onde brincava no baldinho e desapareceu. 

O corpo da criança foi localizado nesta última quinta-feira (2) depois de dois dias de buscas pelo Corpo de Bombeiros e pela comunidade, em meio a galhos e detritos - um rio que está tão sujo e escuro que se parece canal. A fralda do garoto foi achada antes, enxuta.

Jacks garantiu que tanto ele quanto sua mulher estavam acordados no momento que o menino fugiu. Mas as versões foram muitas, segundo os vizinhos. Foi o que levou os moradores aos protestos no velório e na Avenida Luís Correia de Brito, fechada com pneus e objetos queimados. A cobrança era a mesma: “justiça”.

De acordo com Elizângela da Silva Alves, que mora na comunidade há 30 anos, ela mesma já retirou a criança três vezes da beira do canal e, numa das ocasiões, a mãe estava dormindo. Elizângela ainda contou ter livrado o garoto de um atropelamento de moto. “Como é que o pai pega uma criança e bota no balde na beira da maré? Tem que ter justiça, pelo amor dessa criança”.

Segundo outra moradora, identificada apenas como Silvania no meio do protesto, quem percebeu o desaparecimento da criança foi a sogra. Ela ainda contou que a mãe já tinha perdido uma filha por negligência. Essa menina, de idade e nome não revelados por Silvânia, teria morrido por causa de vermes, algo que hoje em dia tem tratamento. “Não é a primeira filha que ela perde”, disse. 

Investigação policial busca esclarecer a morte do menino

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Além de protestos no velório, comunidade tocou fogo em pneus na Avenida Avenida Luís Correia de Brito |  Foto: Frame da TV Tribuna

O pai voltou a dizer, nesta sexta-feira, que era um bom pai e que tinha uma boa esposa e uma boa sogra. A mãe da criança, dopada e com o semblante abatido, não conseguiu se pronunciar. “Minha justiça é Deus. Isso aconteceu e acontece com qualquer um outro. Ninguém quer ver um filho morto”, disse o pai.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, o caso está sendo investigado na Delegacia de Peixinhos, que considerou como “morte a esclarecer”. 

Veja a matéria completa da TV Tribuna/Band a partir de 5min18



"A droga matou o meu filho", disse o o pai na primeira entrevista do pai ao repórter Carlos Simões a partir de 6min30



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