Peritos ajudam empresas a checar mentiras em currículos
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Diante da concorrência cada vez maior na disputa por vagas de emprego, há candidatos que incluem mentiras no currículo na tentativa de levar vantagem sobre os concorrentes.
De olho nisso e para evitar serem enganadas, as empresas estão contratando especialistas em “background check” ou “checagem de antecedentes”. São peritos que investigam a veracidade de informações dos candidatos a emprego.
De acordo com o CEO da Heach Recursos Humanos, Elcio Paulo Teixeira, três em cada quatro concorrentes mentem no currículo. Em 25% dos casos, as mentiras são graves e incluem até falsificação de documentos.
“Já verifiquei as informações de um candidato que falsificou a carteira de trabalho. Descobri porque fiz contato com a empresa e me disseram que ele nunca havia trabalhado lá.”
Para Bruna Junquilho, diretora de Relacionamento com Associado da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES), a decisão de mentir acontece por insegurança e por causa do desemprego.
“Existe um aumento no número de pessoas que tentam omitir ou aumentar certas informações da sua trajetória profissional. Isso fez crescer a demanda de empresas especializadas em background check”.
Empresas dedicadas a esse tipo de serviço utilizam de telefonemas à inteligência artificial. É o caso da Heach. “O sistema faz o cruzamento de dados dos candidatos e incorpora varreduras em redes sociais e outras fontes para verificar inconsistências”, explicou Elcio.
A preocupação das empresas vai muito além de detectar uma mentira. “Elas estão preocupadas com a sua imagem no mercado e em garantir o candidato certo, que realmente atenda às exigências do cargo”, explicou Bruna.
Segundo a psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, ciência, tecnologia e psicologia ajudam muito. “Hoje conseguimos identificar tendências a comportamentos desonestos por meio de ferramentas científicas. Casos de corrupção, assédio e desvios, por exemplo, podem ser evitados com avaliações mais profundas de perfil do candidato a uma vaga.”
Mais segurança
Para o diretor da Interport, Paollo Silva, 44 anos, além de agilizar o processo seletivo, a empresa que oferece o serviço de “background check” traz mais segurança à contratação.
“Busquei uma empresa conceituada e estou satisfeito com o trabalho. Os profissionais que nos encaminharam não apresentam nenhum tipo de problema. Quem mente não ganha nada, pois lá na frente a mentira é descoberta. Verificar se as informações do candidato são verdadeiras é fundamental”, disse.
“Quanto mais alto o cargo, maior é a pesquisa”, diz especialista
Com experiência de 20 anos na checagem de antecedentes para cargos de alto escalão em grandes empresas no Espírito Santo e também em outros estados, a
, afirmou que “quanto mais alto o cargo, maior é a busca por inconsistências no currículo”.
“Faço consultoria nos processos de contratação de executivos há 20 anos, mas não adianta, as pessoas mentem no currículo. Isso é um fato com o qual temos de conviver, mas que faz o candidato perder uma vaga de emprego. Mentiu, já era. Perdeu a chance.”
Na varredura que a especialista faz sobre a vida profissional dos postulantes a uma vaga de emprego, ela utiliza diversas técnicas, mas o básico também é conferido.
Quando precisa checar se o candidato fez mestrado ou doutorado, por exemplo, Gisélia liga para a instituição de ensino. Isso porque, segunda ela, muitos mentem sobre seu nível de instrução técnica e a escolaridade para conquistar um emprego.
“Com a competitividade cada vez mais acirrada, o número de currículos com dados falsos dobrou. Tem muita gente que só começou a fazer uma pós-graduação, mas diz que já concluiu. Não tem jeito. Nós conseguimos pegar as mentiras”, destacou.
Também há, conforme Gisélia, quem afirme ter atuado num cargo, sem nunca ter tido a tal experiência. “Fazem isso pensando que vai 'dar peso' ao currículo. Mesmo se passar pela checagem, na prática a gente descobre.”
Ranking com os 10 maiores problemas
1 - Habilidades e responsabilidades em cargos anteriores
- Geralmente, os candidatos exageram, sinalizando que têm mais habilidades ou exerceram cargos de responsabilidades do que a realidade.
2 - Tempo de experiência
- Muitos candidatos acreditam que o tempo de experiência é um fator importante e, quando acham que precisam aumentar esse fator, arredondam ou ampliam o período verdadeiro em que exerceram determinada função.
3 - Qualificações de ensino
- Há candidatos que dizem ter feito uma especialização ou curso, antes mesmo de terem se formado, sendo que a qualificação ainda está no início.
4 - Habilidades técnicas
- Há quem minta sobre conhecimentos técnicos. Na área de saúde, por exemplo, esse tipo de mentira pode provocar risco de vida.
5 - Idiomas
- O candidato mente sobre o nível do idioma, dizendo que é fluente, mas não sabe falar, ler e escrever na língua estrangeira em questão.
6 - Motivo de demissões
- Muitos candidatos mentem por receio de falar o real motivo ou por vergonha das atitudes que geraram a perda do emprego.
7 - Palavras estrangeiras ou técnicas
- Acontece muito de o candidato não saber usar termos em inglês ou palavras técnicas e se enrolar ao tentar “causar uma boa impressão”.
8 - Salário
- O candidato mente sobre salários anteriores porque entende que pode conseguir uma remuneração maior.
9 - Flexibilidade de horário
- Candidatos dizem que são flexíveis para viagens e trabalhos no fim de semana, por exemplo, mas, quando são contratados, nunca estão disponíveis.
10 - Hobbies e horas de lazer
- Muitos dizem, por exemplo, que adoram vida social, mas na verdade preferem o sofá e ver filmes e séries.
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