Ela desafia estereótipos de gênero no Vale do Silício e transformou angústia no xadrez em livro
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Kyla Zhao não tem, na função de autora, sua “profissão número 1?, mas foi por meio da escrita que ela encorajou outras garotas ao xadrez. E, inclusive, lidou com seus próprios sentimentos quanto ao esporte. O romance “May The Best Player Win” (Que Vença o Melhor Jogador), da escritora de Cingapura, desafia o domínio masculino, inspirado em sua própria experiência.
A obra, que ainda não está disponível em português, tem como protagonista May Li. A garota faz parte do time de xadrez da sua escola e classifica a equipe para um torneio nacional, mas colegas e até mesmo seu amigo, Ralph, questionam suas habilidades. Ela, então, reage com o ímpeto de querer vencer a todo custo, o que provoca a ansiedade e a faz questionar se há como se divertir quando se joga para ganhar.
Crianças são muito inteligentes e, quando percebem esse tipo de diferença, começam a se questionar: “Por que as meninas conseguem conquistar algo com requisitos mais baixos?” Isso pode fazer com que as meninas duvidem de si mesmas – e os meninos também comecem a duvidar das meninas. É um problema estrutural. Mas há muitos treinadores incríveis por aí que incentivam as jogadoras femininas e que sequer enxergam o gênero como uma barreira.
Essa questão de expectativa é algo que vemos muito aqui no Brasil no futebol.
Sim. Eu também jogo futebol. Não sei se vocês chamam de “football” ou “soccer” (risos).
Normalmente, ‘soccer’, no inglês, mas ‘futebol’ em português.
Eu venho de Cingapura, que foi uma colônia britânica, então lá chamamos de “football”. Mas agora moro nos Estados Unidos, e aqui todos chamam de “soccer”.
Jogo futebol e, na verdade, um dos personagens principais do meu livro, Mario, que se torna amigo da May, é o capitão do time de futebol. Foi muito interessante escrever sobre os dois esportes, porque eu jogo os dois e percebi que há muitas semelhanças entre xadrez e futebol. Conforme fui escrevendo, essas semelhanças ficaram ainda mais óbvias para mim.
Um ponto que você também toca é sobre a representatividade asiática. Como você avalia essa representatividade no Ocidente?
Essa é uma ótima pergunta. Acho que, no passado, as pessoas achavam que personagens asiáticos só podiam ter certos tipos de papel, como o do aluno exemplar ou o da mãe imigrante.
Mas, para mim, a representação asiática significa que não precisamos estar limitados a determinados perfis. Podemos ser qualquer coisa: um jogador de xadrez asiático, um dançarino asiático, um médico asiático. A ideia é que não devemos ficar presos a certos papéis ou histórias pré-determinadas.
No meu livro Made the Best Player Win, minha personagem principal é chinesa, mas isso é apenas um aspecto dela. Não define as decisões que ela toma, o que ela escolhe fazer ou seus interesses. É só uma parte dela, e todos ao seu redor aceitam isso naturalmente.
Além do xadrez, futebol e literatura, você tem uma carreira em tecnologia, certo?
Trabalho em uma empresa no Vale do Silício, e minha função envolve uma mistura de estratégia, comunicação e marketing.
Você acompanha futebol brasileiro?
Não acompanho o campeonato brasileiro, mas acompanho a La Liga e a Premier League. E, claro, há jogadores brasileiros nessas ligas.
Você torce para algum time?
Bem, na La Liga, sempre torci para o Real Madrid. Meu jogador favorito não joga mais lá, mas era o Sergio Ramos, porque ele era zagueiro e eu também jogo como zagueira.
Na Premier League, não sou torcedora fanática de nenhum time. Acho que, talvez, torça um pouco para o Manchester United, porque gosto da história do clube, mas não sou super apaixonada por nenhum time.
Qual o próximo plano para sua escrita? A ideia é ir além do esporte?
Meu próximo livro será lançado em 2026, pela mesma editora, Penguin Random House. Dessa vez, é uma ficção histórica para o público jovem adulto. A história se passa em Chinatown, em São Francisco, no ano de 1949, e trata da rivalidade entre duas gangues de lá.
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