Qualidade do ar: o que é e por que ela é importante
Pesquisar, monitorar, investir e fiscalizar são etapas fundamentais para alcançar melhorias e conquistar a boa qualidade do ar
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A partir do início da Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, a qualidade do ar passou a ser uma questão essencial para a humanidade, devido ao aumento crescente das atividades industriais, com consequente ampliação da queima de combustíveis fósseis e das emissões atmosféricas.
No início do século XX, já era possível perceber o agravamento nas condições do ar nas cidades, o que estimulou o desenvolvimento de pesquisas que confirmaram a relação entre a poluição do ar e efeitos negativos na saúde das pessoas e na qualidade ambiental.
Os resultados desses primeiros estudos levaram os governos a criarem legislações para regular e fiscalizar as empresas, estimulando o investimento em controles voltados a reduzir as emissões atmosféricas. Esse processo foi sendo aprimorado ao longo dos anos.
Autoridades internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), passaram a recomendar o monitoramento de diferentes agentes poluidores e também o estabelecimento de legislações com limites cada vez mais baixos para a presença desses materiais no ar. Para atender às regulamentações determinadas por cada país ou região, as empresas passaram a investir mais para desenvolver e implantar melhores controles de emissões.
Hoje, a preservação da qualidade do ar pode ser feita a partir de uma boa gestão, focada em controlar a poluição atmosférica para garantir o desenvolvimento socioeconômico de forma equilibrada e ambientalmente sustentável.
O desenvolvimento científico e tecnológico é um aliado importante nesse processo. Ao longo dos últimos anos, estudos e pesquisas possibilitaram uma melhor compreensão do que é a qualidade do ar e da sua importância para as pessoas e o meio ambiente. Foram desenvolvidas novas formas de medição dos componentes do ar e houve um aprofundamento sobre os danos que a poluição pode causar nos seres humanos e no meio ambiente.
A partir de dados técnicos gerados por esse desenvolvimento científico, o poder público, as empresas e as organizações sociais puderam avançar com maior eficiência para garantir a melhoria contínua da qualidade do ar em cada região e no planeta como um todo.
Pesquisa da Ufes pode ajudar órgãos ambientais
Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão perto de concluir um estudo inédito que quantifica a influência dos diferentes poluentes do ar na saúde de crianças e adolescentes com asma. Chamada “AsmaVix”, a pesquisa teve início em 2018 e envolveu 226 moradores de Vitória.
Segundo José Geraldo Mill, professor da Ufes e um dos coordenadores do projeto, a pesquisa apontou que o poluente com maior impacto na função respiratória é a poeira invisível a olho nu. Isso acontece, pois quanto menor é o poluente mais fácil ele consegue entrar no trato respiratório, podendo desencadear uma crise.
Esses poluidores invisíveis vêm de diversas fontes: maresia, construção civil, carros, indústrias, portos e da poluição doméstica, encontrada em tapetes, cortinas e até na queima de gás do fogão.
“A poeira que a gente não vê chega até os alvéolos pulmonares e é ela que mais prejudica a respiração”, explica Mill.
Além de analisar os tipos de poluentes dentro e fora das casas, a pesquisa também avaliou a saúde dos participantes. Eschelle Vitória, de 12 anos, moradora do bairro Jesus de Nazareth, participou do estudo.
“Desde muito nova, ela sofria com crises de asma e bronquite. Com o projeto, Eschelle fez vários exames e usou um aparelho que mede a força da respiração. Graças ao acompanhamento, as crises de asma estão controladas e ela raramente precisa usar a bombinha”, comemora Devanir Rodrigues, mãe da menina.
Metas
O AsmaVix está na fase final de análise dos dados, com previsão de conclusão ainda neste mês. Segundo o professor Mill, o estudo será fundamental para ajudar os órgãos de regulação a estabelecerem metas por um ar mais limpo e métodos de enfrentamento das questões de saúde pública.
“Sempre vamos respirar ar com algum grau de poluição. Os órgãos ambientais precisam definir quais os limites toleráveis. Os resultados dessa pesquisa ajudarão na análise desses limites e na vigilância das fontes de poluição, na tentativa de se ter um ar com mais qualidade”.
Medidas para melhorar a condição do ar
Compreender para participar dos avanços
É fundamental que os cidadãos compreendam o que significa uma boa qualidade do ar e atuem, fazendo a sua parte e cobrando a ação do poder público e das empresas.
O mestre em Engenharia Ambiental Igor Baptista de Araújo, CEO da QualityAmb Consultoria Ambiental, explica os principais conceitos relacionados ao assunto.
A Tribuna – Como se define poluição do ar e o que é boa qualidade do ar?
Igor Baptista de Araújo – Poluição do ar é a contaminação da atmosfera por um agente químico, físico ou biológico que altera as características naturais. A qualidade do ar é considerada boa quando os níveis de concentração dos agentes poluentes estão dentro dos limites admitidos pela legislação.
Como se definem os agentes que devem ser medidos e os seus limites?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta sobre os poluentes a serem monitorados e as concentrações limites de cada um, com base em dados científicos que apontam quais agentes, quando presentes acima de um determinado nível, podem tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde das pessoas, danoso à fauna e flora ou prejudicial ao meio ambiente como um todo.
Quais são os principais efeitos da poluição do ar na saúde das pessoas?
Também com base em estudos, a OMS relaciona a poluição do ar à irritação dos olhos, nariz e garganta, chiado, tosse, aperto no peito e dificuldades respiratórias. Além disso, considera que piora problemas pulmonares e cardíacos existentes, aumentando a ocorrência de asma e o risco de ataque cardíaco.
E o que pode causar ao meio ambiente?
O ar poluído pode gerar muitos efeitos ambientais, como reduzir a visibilidade e bloquear a luz solar, causar chuva ácida, desequilibrar biomas, afetando a flora e a fauna. Além disso, a poluição por gases de efeito estufa é a principal causa das mudanças climáticas que afeta todo o planeta.
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