No Rio de Janeiro Cordão da Bola Preta recebe o frevo pernambucano
Tradicional bloco do Carnaval carioca desfila no sábado (1). A trombonista pernambucana Neris Rodrigues será uma das atrações
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O Cordão da Bola Preta, bloco de Carnaval mais antigo e tradicional do Rio de Janeiro, chega ao seu 106º desfile reverenciando a Cidade Maravilhosa – que completa 460 anos no dia da folia, no sábado (1º de março) – e celebrando a presença do frevo no carnaval do Rio. Neste ano, o bloco abre espaço para as filmagens do documentário (@joannaeamarcha) que trata dos “frevistas” cariocas, do Clube Vassourinhas do Recife e de Joanna Baptista Ramos.
As filmagens e homenagens acontecem em três momentos do desfile: na saída, no meio e no encerramento. A pernambucana Neris Rodrigues ( @neristrombonando ), trombonista de destaque na cena da música instrumental, estuda as origens africanas do frevo e se junta à banda do Cordão da Bola Preta, comandada pelo maestro Altamiro, para gravar as cenas do filme que fala de Joanna Baptista Ramos, mulher negra e periférica que, ao lado de Mathias da Rocha, tem a sua história ligada a Marcha nº 1 do Vassourinhas. Com o passar dos anos, a música ganhou novas versões e se transformou no Frevo Vassourinhas, o mais famoso do mundo, mas a contribuição de Joanna foi sendo apagada da história. O filme fala desse protocolo social de invisibilidade da mulher, das raízes do frevo, dos primórdios do carnaval de rua no Brasil e outros temas que se relacionam com a brasilidade.
O filme é uma realização do coletivo "Cinema é pra essas coisas" que reúne uma coletânea de curtas com imagens de época e depoimentos. A veterana cineasta Adélia Sampaio, primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, assina a parte do filme dedicada ao frevo carioca e também participam do longa-metragem, as diretoras Mannu Costa, Bruna Leite e Dandara de Moraes.
Joanna Baptista, Vassourinhas e o frevo no Rio
Joanna Baptista Ramos foi benemérita do Clube Vassourinhas do Recife e, segundo documentos históricos, vendeu os direitos da música ao clube. Fundado em 1889, o Vassourinhas do Recife teve um papel essencial na construção do Carnaval de rua brasileiro, influenciando a criação de clubes similares em diversas cidades, incluindo Olinda (1912), Rio de Janeiro (1934) e Brasília (1967).
Poucos sabem, mas o Rio já teve um cenário forte de frevo, com vários clubes desfilando principalmente entre as décadas de 1930 e 1950. O frevo era tão marcante que havia uma federação só das agremiações de frevo no Rio. Os concursos de frevo na cidade aconteceram até 1992. Em 1951, o Vassourinhas do Recife fez uma série de apresentações na então capital federal, incluindo performances na rua, no Teatro João Caetano e até para o presidente Getúlio Vargas. Esse capítulo da história será um dos quatro episódios do documentário que é produzido pela B52 Desenvolvimento Cultural, de Tactiana Braga.
O desfile do Bola Preta em 2025
Com o tema "Rio, eu te amo", o Cordão da Bola Preta leva para as ruas do Centro do Rio seu amor incondicional pela cidade. E, como quem ama cuida, o bloco mantém a iniciativa de compensação de carbono, repetindo a ação do último desfile. Em parceria com a Liga Amigos do Zé Pereira, será feita uma medição das emissões de gases poluentes dos geradores dos trios elétricos. A compensação será realizada com apoio do bloco Vagalume O Verde e do Parque Nacional da Tijuca/ICMBio, além da participação da cleantech Zello Ambiente, que fornecerá ao bloco um certificado de Carbono Zero pelo desfile de 2025.
Abrindo o Carnaval em grande estilo, o Bola Preta desfila com sua tradicional Corte Real, que brilha a cada ano. Entre os destaques, estão Neguinho da Beija-Flor (Padrinho), Maria Rita (Madrinha), Leandra Leal (Porta-Estandarte), Paolla Oliveira (Rainha), Emanuelle Araújo (Musa da Banda), Selminha Sorriso (Musa das Musas), Mirian Duarte (Musa do Centenário), Tia Surica (Embaixadora) e João Roberto Kelly (Embaixador).
O desfile deste ano também presta homenagem póstuma a Elizeth Cardoso, eterna foliã e Madrinha do Cordão da Bola Preta.
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