'A Verdadeira Dor' resgata o passado com emoção e humor
Jesse Eisenberg, diretor do longa, conta que o filme é inspirado na história de sua família
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Tom Jobim já dizia em Wave (Vou te Contar) que é "impossível ser feliz sozinho". Essa máxima parece ter se perpetuado no tempo até chegar ao centro das discussões de A Verdadeira Dor, longa em cartaz com direção de Jesse Eisenberg e a atuação premiada de Kieran Culkin, indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante e ganhador do Globo de Ouro 2025 na categoria.
Na história, Culkin é Benji Kaplan, um rapaz solitário, enfrentando um momento doloroso. Ele topa o convite do primo (Eisenberg) para visitar a Polônia e entender melhor a história da família - e um passado envolvendo o Holocausto e os campos de concentração.
Há questões no longa sobre passado, morte e memória. No entanto, o principal ponto é o já levantado por Tom Jobim em 1967: Benji, por mais que tente, não consegue ser feliz sozinho. Ele aceita o convite para se aproximar do primo enquanto é confrontado ao se relacionar com os outros integrantes do grupo de viagem do qual faz parte. Tudo aquilo vira um turbilhão de emoções e Benji, apesar do bom humor, sofre com o mundo à sua frente. A viagem pela Polônia, com suas memórias e fantasmas, vira um momento de autoanálise.
"Essa frase é muito apropriada para Benji. Para ele, estar sozinho é como estar em apuros", diz Culkin ao Estadão, sobre o verso de Jobim. "Ele se sente isolado, e a felicidade parece fora de alcance. Mas acho que isso não vale para todo mundo. No meu caso, achava a solidão uma oportunidade para estar comigo mesmo. Agora que tenho esposa e filhos, sinto que preciso deles o tempo todo. É algo que muda dependendo da pessoa e fase da vida."
O ator, conhecido principalmente pelo trabalho na série Succession (e como irmão de Macaulay Culkin), conta que se conectou rapidamente com a proposta do longa.
"Às vezes, leio algo e gosto muito da história e do personagem, mas sei que seria uma escolha péssima para o papel. Já aconteceu de eu recusar um projeto por saber que outra pessoa seria mais adequada", conta. "Aqui, foi diferente. Era uma combinação perfeita: eu ri alto enquanto lia, achei o roteiro muito engraçado, entendi o personagem profundamente e sabia que seria uma escolha apropriada. Além disso, gosto muito do trabalho de Jesse também como ator, e, ao terminar o roteiro, pensei: 'Isso é ótimo e quero fazer parte disso'."
INSPIRAÇÃO FAMILIAR
Ao Estadão, Eisenberg conta que o filme é inspirado na história de sua família. "Sempre me interessei pela trajetória deles na Europa, mas também sempre refleti muito sobre a minha própria angústia interior", conta. "Eu me pergunto como é possível me sentir tão miserável quando minha família sobreviveu a horrores inimagináveis. Por que não acordo todos os dias agradecendo por estar vivo? Essa desconexão entre o sofrimento deles e as minhas emoções me confunde. E, quando fico confuso, escrevo. Foi assim que a história surgiu."
Assim, muito da história, memórias e pesadelos de Eisenberg estão retratados ali, em tela. Não só boa parte dos sentimentos dos personagens nasce do que o ator e diretor sente, mas também até locações foram "emprestadas" de sua história: uma casinha que aparece mais no final do longa, por exemplo, é a residência de sua família da parte polonesa.
Eisenberg, porém, diz que conseguiu se manter afastado emocionalmente de toda a bagagem pessoal envolvida enquanto trabalhava no longa. "Foi estranho. Achei que teria emoções intensas ao voltar para a Polônia, especialmente porque filmamos na casa real da minha família", afirma. "Mas com o set cheio de pessoas, luzes, trailers e prazos apertados, parecia apenas mais um dia de filmagem. Liguei para o meu pai depois e disse que filmamos na casa. Ele me perguntou se foi difícil e só respondi que parecia que estava no set de um filme de super-herói. Enfim, era só um dia de trabalho." O ator, vale notar, tem experiência nos filmes do gênero: ele viveu Lex Luthor em Batman vs. Superman (2016).
Eisenberg diz estar genuinamente emocionado com o trabalho feito - e espera que as pessoas entendam o que ele queria dizer com a história desses dois primos tão complexos, para além das discussões sobre a solidão.
"Quanto mais penso na minha família, no Holocausto e nos traumas, mais sensível fico aos conflitos atuais. Precisamos aprender com o passado para evitar que esse tipo de violência se repita hoje", diz. "Minha esperança é que o filme faça as pessoas refletirem sobre sua própria história. O Brasil, como os Estados Unidos, é formado por muitos imigrantes: italianos, alemães, espanhóis, judeus. A história de muitos brasileiros, especialmente os de origem europeia, é similar à da minha família. Espero que o filme seja algo com que os brasileiros possam se identificar e que os inspire a explorar as próprias origens."
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