Proibição do celular já melhora o aprendizado, dizem professores
Menos de dois meses desde o início do ano letivo, professores começam a notar que os estudantes estão focados e lendo mais
Escute essa reportagem

As rodas de conversas nos intervalos estão mais barulhentas, as risadas e brincadeiras voltaram a ser ouvidas nos recreios. Menos de dois meses desde o início do ano letivo, professores já começam a sentir os efeitos da proibição de celulares sem fins pedagógicos nas escolas.
Os reflexos, ainda que tímidos, já começam a se refletir até mesmo no aprendizado, com estudantes mais focados nas aulas, concentrados e lendo mais.
O psicopedagogo clínico Cláudio Miranda fez uma pesquisa com alguns profissionais de escolas privadas da Grande Vitória. Segundo ele, os relatos apontam que o impacto da medida tem sido positivo, com efeitos visíveis sobre o padrão comportamental dos alunos.
“Hoje, eles estão interagindo muito mais e se socializando melhor com os colegas”, destacou.
Ele também apontou que uma pedagoga relatou que a ausência do celular trouxe maior diálogo e participação efetiva na sala de aula.
“A impulsividade diminuiu e os alunos se olham, percebem e interagem mais nos momentos livres. Em sala, eles estão mais atentos. Por saberem que não podem mexer no celular, se concentram mais. Também têm frequentado mais a biblioteca da escola”.
A neuropsicopedagoga Geovana Mascarenhas também destaca que a proibição do uso de celulares nas escolas já traz alguns benefícios, como a redução de distrações, a melhoria do ambiente escolar e a proteção dos alunos.
“A redução de distrações pode ajudar os alunos a se concentrarem mais e a aproveitarem melhor o tempo de aula. Também ajuda a criar um ambiente mais seguro e menos propício a problemas de cyberbullying. E quando falamos de proteção, falamos também da proteção referente à saúde mental e física dos alunos”.
A neuropsicopedagoga Thais Cruz enfatizou que, mesmo com pouco tempo de aulas, a restrição do uso de celulares nos recreios e intervalos pode trazer reflexos positivos imediatos na atenção, socialização e até no descanso mental.
Leitura e jogos
Na Escola Estadual Mário Gurgel, em Vila Velha, os estudantes têm sido estimulados não só à prática da leitura – com a Biblioteca Viva –, como também a interagir entre si por meio de jogos de tabuleiro e esportes nas quadras.
O diretor da escola, Elias Carvalho Júnior, relatou que já é perceptível as mudanças. “Pais nos relataram que os filhos estão interagindo”.
Os alunos da 2ª série do ensino médio Paulo Leandro Souza, Maria Eduarda Bollis, Jhemiri Santana, e Rafael Miranda, de 16 anos, têm aproveitado os espaços. “Sem o celular a gente conversa mais com os colegas e estamos mais concentrados nas aulas”, revelou Maria Eduarda.
Os impactos da proibição do celular
1 Volta das brincadeiras
Sem os aparelhos celulares na hora do recreio e intervalos de aulas, algumas escolas têm notado aumento das brincadeiras e jogos entre os estudantes.
Isso promove maior interação entre eles, além de criar mais oportunidades de inclusão.
2 Maior interação social
As rodas de conversas também voltaram durante os momentos de intervalo e recreio, segundo pedagogos e professores.
Se antes os estudantes já iam para os “cantos” com os seus aparelhos, hoje os recreios estão mais “barulhentos”, o que também estimula a comunicação face a face.
Isso amplia as oportunidades para a prática de habilidades sociais, como iniciar e manter conversas, fazer amizades e, principalmente, a empatia e a expressividade emocional, tão afetadas pela comunicação virtual.
3 Mais leitura e criatividade
Alguns estudantes têm aproveitado os horários de recreio e intervalos na biblioteca ou ainda lendo livros.
Outros também passam o tempo desenhando ou pintando.
4 Melhor concentração e foco
Pedagogos e professores revelam que o tempo fora do celular tem se refletido em uma melhora na concentração dos estudantes em sala de aula, já que os aparelhos acabavam distraindo e prejudicando o foco deles.
5 Menos cyberbullying
O uso de celulares em sala de aula aumentava os riscos de cyberbullying (humilhações virtuais) e de problemas relacionados à segurança on-line dos alunos.
em um passado recente, algumas escolas tinham que lidar, por exemplo, com casos relacionados à criação de perfis falsos com a finalidade de difamar um aluno, compartilhamento de fotos constrangedoras ou mentiras nas redes sociais.
6 Melhora no aprendizado
O uso indiscriminado de celulares em sala de aula pode levar a distrações dos alunos.
No médio e longo prazo, especialistas apontam que a proibição do aparelho nas escolas e o uso mais consciente em casa podem ajudar no aprendizado e na participação nas atividades escolares.
7 Ferramenta educacional
Por outro lado, alguns especialistas apontam que as tecnologias não deixaram de ser ferramenta educacional valiosa. Por isso, continuam a ser usadas com propósito pedagógico.
Elas podem oferecer acesso rápido a informações, permitir o uso de aplicativos educacionais e promover a aprendizagem digital.
Fonte: Especialistas consultados e escolas .
Recreio monitorado
Cantinhos que antes não eram usados deram lugar a espaços de interação, leitura e jogos na escola municipal Manoel Vieira Lessa, em José de Anchieta II, na Serra. A diretora da unidade, Elandia Rodrigues, revelou que hoje a escola conta com o “recreio monitorado”, com brinquedos e livros disponíveis para os alunos.
“Fizemos este ano um cantinho da leitura, para incentivar ainda mais a interação e o acesso aos livros. Algumas crianças maiores têm até lido para aqueles que ainda não sabem ler”.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários