Empresários preveem mais pedidos de demissão com novo consignado
Empresários veem a modalidade em que o FGTS garante crédito como “bomba-relógio” e preveem que ela vai aumentar informalidade
Escute essa reportagem

Com pouco mais de um mês em vigor, o programa federal Crédito do Trabalhador – o Consignado CLT – já é visto por empresários como uma “bomba-relógio”. Eles alertam que, com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia, o modelo pode elevar os pedidos de demissão e a informalidade.
Criado para oferecer crédito barato, o programa, dizem empresários, acabou desregulado, com juros que chegam a 15% ao mês em alguns locais, o que pode criar crise no mercado de trabalho, com mais demissões e inadimplência.
O setor teme uma saída em massa do emprego formal. Rodrigo Vervloet, presidente do Sindicato dos Restaurantes e Bares do Estado (Sindbares), destaca esse risco.
Segundo ele, se o crédito fosse usado para quitar dívidas mais caras, faria sentido. “Mas muitos usarão para despesas cotidianas, e já no mês seguinte os descontos reduzirão o salário. Vai virar uma bola de neve”, prevê.
Ele cita outro cenário: “Se a pessoa for demitida, os juros continuam e, ao retornar ao trabalho, a dívida estará maior, comprometendo o FGTS futuro”. Diante disso, ele é categórico: “É uma bomba-relógio. Pode destruir o mercado formal, que já enfrenta dificuldade para contratar com carteira assinada. Será catastrófico.”
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-ES), Fernando Otávio Campos, destaca também os impactos na saúde mental do trabalhador.
“Hoje a empresa já enfrenta baixa produtividade, e problemas mentais somados às dívidas afetam ainda mais o desempenho. O aumento de dinheiro disponível pressiona a inflação e os juros, mas depois vem o pagamento das parcelas, com menos dinheiro em circulação e queda nas vendas”.
Ele alerta: “Todo empréstimo tem o FGTS como garantia. Se o trabalhador não pagar, o fundo cobre — e isso reduz os recursos da construção civil e do crédito imobiliário.”
O presidente da Associação dos Empresários de Vila Velha, Thomaz Tommasi, alerta para o risco de falta de mão de obra formal em vários setores. “Isso pode piorar, já que muitos empregados estão recorrendo ao consignado, que deveria ter juros muito baixos”.
Segundo ele, com parcelas altas e salários comprometidos, esse tipo de crédito pode levar a pedidos de demissão. “O trabalhador, com pouco salário disponível, pode sair da empresa para fugir da dívida e ir para a informalidade. Perde a cadeia produtiva e o trabalhador”.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários