Empreendedorismo em casal: “Sexo não pode ser deixado de lado”
Especialistas apontam a importância de separar o lado profissional do pessoal
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“Beijos e sexo são partes essenciais de um relacionamento e precisam ser priorizados, mesmo com a correria do dia a dia”, destacou o doutor em psicologia e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Elizeu Borloti.
Ele, que também é terapeuta comportamental de casais e terapeuta sexual, ressaltou que o sucesso profissional não deve ser à custa da desconexão emocional ou sexual: “Lembre-se do motivo que uniu o casal”, aconselhou.
Ter momentos a dois, com encontros regulares, mesmo que seja um almoço rápido durante a semana ou um passeio no fim de semana e reservar tempo para relaxar e se reconectar também é essencial.
Um diálogo franco sobre desejos, insatisfações ou dificuldades é fundamental para manter a intimidade, segundo ele. “Fazer atividades diferentes juntos ou inovar na vida sexual com fantasias de mútuo consentimento pode trazer mais leveza e diversão”.
O respeito aos limites do outro também é essencial. O estresse, segundo ele, pode diminuir o desejo em alguns momentos, ou produzir disfunção sexual situacional, e isso é normal. “Tenham paciência e empatia, e busquem formas de se reconectar”.
A Especialista em psicologia analítica junguiana Elyni Borges detalhou que o beijo é cheio de simbolismo, já que na cerimônia do casamento, além das alianças, ele vem selando a união. E destacou os sentimentos envolvidos: "Quando tem aquele beijão, o cônjuge vai trabalhar até mais feliz", lembrou.
Além isso, esse contato é importante para ir para o sexo. Contudo, a relação sexual, muitas vezes, fica prejudicada pelo cansaço do trabalho ou por problemas na empresa. Por isso, Elyni destaca que é importante aprender a não ficar remoendo problemas e deixar para resolver no outro dia.
Atitudes simples, como levar uma surpresa como uma flor e dizer: “Lembrei de você quando vi”, podem fazer toda a diferença, segundo ela. Resgatar essas memórias, mostrar que não esqueceu aquele momento, mesmo com muitos anos de casamento.
Especialistas destacam ainda a importância da individualidade, mesmo com casamento, filhos, empresa, é preciso ter tempo para si e para os próprios amigos, sair para tomar café com os amigos, fazer programas sem o parceiro também é importante para os dois.
“Tem outras pessoas que também amam eles”, lembrou Elyni Borges.
Risco de fracasso no negócio e na relação
Uma empresária, que preferiu não se identificar, contou que seu casamento acabou de vez quando chamou o marido para trabalhar junto na empresa dela. Ela explica que sempre entendeu que o dono de uma empresa trabalha mais que os empregados, principalmente no início.
Contudo, o marido não tinha essa visão de dono. Ela avalia que ele tinha mais um perfil de quem trabalha de carteira assinada e não de empreendedor, como é o caso dela. Quando percebeu isso, alertou que seria melhor continuar sozinha.
Ela detalhou que enquanto se esforçava para economizar até mesmo nas coisas mais simples do dia a dia, ele queria gastar com diversão e estava em busca de ter mais folgas.
“Eu queria focar na empresa para ela crescer e depois de um tempo ter mais liberdade”, contou. Ao trabalhar mais, ela começou a se sentir sobrecarregada.
A situação foi complicando até que o casamento e a sociedade chegaram ao fim. “Era briga o dia inteiro e quando chegava à noite, eu não queria nem olhar para a cara da pessoa”, revelou.
Separar o dinheiro é essencial e é preciso ter objetivos em comum
É uma boa ideia?
Ceo do Grupo Kato, Roberta Kato explica que assim como no casamento, a sociedade precisa considerar se os dois possuem valores e objetivos em comum: “O estresse do trabalho pode evidenciar comportamentos negativos e aumentar ainda mais o desgaste por estarem mais tempo juntos”.
Ela explicou que empreender com o parceiro dá certo. O problema não é empreender ou não junto, mas com quem empreender junto. Como exemplo citou que se um pensa no futuro e outro no presente, um quer trabalhar no final de semana e o outro quer curtir, começa a ter desgaste.
O psicólogo e professor do Unesc Alexandre Vieira Brito destacou que além disso é necessário confiança e uma comunicação assertiva, já que um casal que não se comunica, pode ter dificuldades para lidar com os desafios, afetando não só os negócios, mas também a relação afetiva.
Contrato Social da Empresa
O advogado e presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRC-ES) Walterleno Noronha explicou é fundamental que, se o casal for empreender junto, o contrato social da empresa esteja bem elaborado. No caso de casais que optam pela comunhão total ou parcial de bens, é importante definir claramente quem são os sócios e qual a participação de cada um. Se ambos forem sócios, a divisão de lucros, responsabilidades e obrigações deve ser bem detalhada, segundo ele.
Acordo de Sócios
Para evitar conflitos no futuro, Walterleno Noronha orienta que é essencial que o casal redija um acordo de sócios, que pode estabelecer regras para a administração da empresa, distribuição de lucros e tratar de questões como o que acontecerá caso o casamento se desfaça.
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Para dar certo
Na visão da ceo do Grupo Kato, Roberta Kato, para dar certo o primeiro passo é identificar se estão empreendendo por propósito ou por necessidade. Empreendimentos por necessidade tendem a dar mais errado do que os por propósito, devido a pressão, por exemplo.
Outro ponto é o plano para o futuro: “Para quê esse dinheiro? Para nos aposentar? Vamos deixar empresa para os filhos como herança? Vamos esperar valorizar para vender? São questões que devem ser levantadas”, diz Roberta.
Ela apontou que é preciso combinar os valores e metas pessoais de cada um. “Se um não abre mão de trabalhar no final de semana e o outro quer bater perna, não vai dar certo”, exemplificou.
E apontou perguntas que precisam ser respondidas:” Quais são os valores? A gente está empreendendo pela mesma coisa? Como está pensando em gastar esse dinheiro? Se tiver que escolher entre o casamento e a empresa, o que vai escolher?”, diz.
Beijo na boca
O beijo indica afeto, estimula hormônios que fortalecem o vínculo do casal e ativam a libido pelo nível do contato corporal. É uma demonstração de carinho e desejo que não deve ser deixada de lado, destacou o doutor em psicologia Elizeu Borloti.
É claro que no ambiente de trabalho, é preciso ter cuidado com o excesso. Selinhos podem ser aceitáveis, dependendo do ambiente e da cultura da empresa, segundo ele.
”Toques sutis, como segurar as mãos ou um sorriso, podem manter a conexão sem prejudicar a imagem profissional do casal perante clientes e colaboradores”, explicou.
Em casa, é importante priorizar o beijo no dia a dia: ao acordar, ao se despedir ou ao chegar. São formas simples de reforçar a intimidade e manter a relação viva.
Sexo
O sexo é uma forma de conexão muito importante para o casal, que não pode ser deixada de lado. Para isso, é importante que o casal busque em tempo de qualidade juntos, de acordo com especialistas.
Análise
“Nem sempre empreender junto é essencial”
“Empreender como casal é sem dúvida um desafio, na busca do equilíbrio entre as relações pessoais e a vida profissional. Certamente dar certo juntos é uma fantástica vitória de ambos.
Além de progredir como empresários, ganham o bônus de um tempo maior de convívio.
Sim, casais inteligentes enriquecem juntos, mas nem sempre empreender junto é essencial. A primeira dica para o casal que deseja montar um negócio é estabelecer um pacto real de separação entre as atividades da empresa e sua relação amorosa. Problemas do trabalho ficam lá, e em casa é fundamental que esses temas não continuem a ocupar suas vidas e rotinas.
Também definir claramente os papéis de cada um na empresa é indispensável. Certamente o primeiro grande teste do casal é demonstrar capacidade de estruturar e documentar toda essa vida como sócios, em um contrato formal que estabelece todos aspectos quanto a poderes, divisão de lucros, e prejuízos, de destinação de bens.”
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