Dólar volta a subir e fecha em R$ 5,72 com ata do Fed e tarifas de Trump no radar
Em 2025, a divisa dos EUA acumula queda de 7,33%
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O dólar voltou a subir nesta quarta-feira (19), em linha com o exterior, em meio a novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e com a divulgação da ata da reunião de janeiro do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
A moeda americana fechou com forte alta de 0,65%, cotada a R$ 5,725, após encerrar com queda de 0,40%, a R$ 5,688 na véspera, menor cotação desde 7 de novembro. Em 2025, a divisa dos EUA acumula queda de 7,33%.
O dólar abriu o dia em alta, mas recuou ao fim da manhã e passou a rondar a estabilidade em seguida. No início da tarde, voltou a subir e permaneceu em forte alta até o fim do pregão.
Já a Bolsa fechou com queda de 0,95%, aos 127.308 pontos. As ações do Banco do Brasil estavam entre as maiores pressões de baixa. Na terça-feira (18), a Bolsa encerrou com estabilidade, variando 0,01% para baixo, aos 128.531 pontos.
Um operador ouvido pela agência de notícias Reuters disse que um dos motivos para a volatilidade do dólar ante o real foi uma grande operação realizada por um investidor estrangeiro no mercado futuro, comprando grande lote de moeda no início da sessão e vendendo posteriormente.
Na cena doméstica, o dia foi marcado pela repercussão da denúncia da PGR (Procuradoria Geral da República) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o acusa de liderar uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Agentes financeiros acreditam que a notícia não teve impacto significativo no pregão.
Diante do contexto nacional esvaziado, os investidores voltaram suas atenções para o exterior, em busca de notícias sobre o novo governo dos EUA e em relação à trajetória da taxa de juros do Fed.
Às 16h, foi divulgada a ata da reunião do banco central dos EUA realizada nos dias 28 e 29 de janeiro. Na ocasião, o Fed manteve a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, após três encontros consecutivos cortando os juros.
Segundo a ata, as políticas de Trump criam incerteza para as perspectivas econômicas do Fed e preocupações sobre uma inflação mais alta nos EUA. Além disso, dirigentes do Fed gostariam de ver novos progressos antes de novas quedas de juros.
A ata ajuda investidores a monitorar as próximas decisões de juros nos EUA e a mensurar o impacto que a medida pode ter no mercado brasileiro.
Empresas disseram ao banco central dos EUA que esperavam repassar aos consumidores os custos mais altos de insumos decorrentes de tarifas potenciais.
"Em particular, os participantes [da reunião do Fed] citaram os possíveis efeitos de potenciais mudanças na política de comércio e imigração, o potencial de desenvolvimentos geopolíticos para interromper as cadeias de suprimentos ou gastos domésticos mais fortes do que o esperado", informa a ata.
Na mais recente ameaça, Trump disse que pretende impor tarifas sobre automóveis de "em torno de 25%" e taxas de importações semelhantes sobre semicondutores e produtos farmacêuticos.
"A ata de hoje parece em linha com um comitê que prefere adotar uma pausa longa, em vista das elevadas incertezas, ainda mais diante de várias mudanças de política econômica à frente", afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
Na avaliação de Anderson Silva, head de renda variável e sócio da GT Capital, o mercado segue atento aos sinais de inflação nos EUA, pois uma eventual retomada do ciclo de alta de juros ou a manutenção de juros elevados por lá "poderia impactar diretamente os mercados emergentes", como o Brasil.
A tese principal dos analistas continua sendo de que as principais medidas de Trump -como tarifas de importação e deportações em massa- têm potencial inflacionário, o que pode forçar o Fed manter a taxa de juros em patamares elevados e dificultar ainda mais o retorno da inflação para a meta de 2%.
Diante das medidas e incertezas de Trump por lá, o governo brasileiro prevê alta de juros por aqui também. Isso porque, se o Fed mantiver a taxa de juros mais alta por mais tempo, o Banco Central do Brasil deve seguir o mesmo caminho a fim de assegurar um diferencial atrativo para investidores na economia brasileira.
"Falar sobre tarifas não é o mesmo que implementá-las, e acho que vimos muita conversa no último mês e pouca coisa sobre a implementação", disse Charlie Ripley, estrategista sênior de investimentos da Allianz Investment Management.
A percepção do mercado é de que as tarifas são mais uma tática de negociação do que planos concretos, e abrem espaço para acordos entre os países que estão na mira do presidente americano.
Desde que tomou posse, a única medida comercial de Trump ativada até o momento foi a tarifa de 10% sobre importações da China, com outras medidas sendo adiadas ou ainda distantes da data planejada para a entrada em vigor, o que abre espaço para negociações.
Com as ameaças tarifárias, a Bolsa europeia STOXX 600 teve sua maior queda diária desde o início do ano nesta quarta-feira, encerrando com baixa de 0,91%, a 552,10 pontos. Ainda assim, o índice tem alta de cerca de 8% até agora este ano.
Na véspera, o dólar encerrou na menor cotação em mais de três meses. O movimento de queda foi impulsionado por um leilão de US$ 3 bilhões do Banco Central e notícias sobre o cenário político nacional para 2026, que deixaram o mercado na expectativa por novos rumos econômicos.
Entre as notícias, o instituto Paraná Pesquisas divulgou um levantamento contratado pelo PL (Partido Liberal) simulando alguns cenários para as próximas eleições do Executivo Federal, em 2026.
Em um dos cenários, o presidente Lula (PT) empataria tecnicamente com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em outro, sem Lula e sem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível, Tarcísio estaria à frente, com 23,9% de favoritismo.
A pesquisa ecoou o último levantamento do Datafolha, que mostrou que a aprovação do governo Lula despencou de 35% para 24% -a pior de todos os seus mandatos. Os resultados foram acompanhados de perto pelo mercado e contribuíram para a queda do dólar na semana passada.
No início da tarde de terça, uma apuração da Folha de S.Paulo revelou que o governador de São Paulo tem dito a aliados que aceitará disputar as próximas eleições para a Presidência se esse for o desejo de Bolsonaro. Oficialmente, Tarcísio nega a possibilidade de concorrer.
Além disso, a jornalista Andreia Sadi, da GloboNews, noticiou em seu blog que, durante reunião no último domingo (16), ministros disseram ao presidente Lula que as medidas que mais desgastaram o governo foram as do Ministério da Fazenda.
O ministro Fernando Haddad, que comanda a pasta, não estava na reunião em razão de uma viagem ao Oriente Médio. Segundo a jornalista, há uma pressão nos bastidores pela saída de Haddad e de alguns dos auxiliares do ministro.
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