Dólar fica abaixo de R$ 6 pelo terceiro dia seguido e fecha em R$ 5,91
Esse é o menor valor desde 27 de novembro do ano passado (R$ 5,913) e o maior recuo semanal (2,42%) desde 9 de agosto do ano passado
Escute essa reportagem
O dólar fechou a sessão desta sexta-feira (24) com queda de 0,12%, cotado a R$ 5,917, após o presidente dos EUA, Donald Trump, admitir que existe a possibilidade de um acordo comercial com a China e que preferia não criar tarifas de importação aos produtos chineses.
Esse é o menor valor desde 27 de novembro do ano passado (R$ 5,913) e o maior recuo semanal (2,42%) desde 9 de agosto do ano passado, quando cedeu 3,43% em cinco dias úteis.
Também é o quinto dia consecutivo que a divisa americana tem queda e terceiro dia seguido que fica abaixo do patamar de R$ 6, após uma trajetória ascendente desde o fim do ano passado, quando renovou o recorde histórico para R$ 6,267.
Já a Bolsa caía 0,05%, aos 122.413 pontos, às 17h09, sustentada pelo avanço de mais de 1% da Vale. Agentes financeiros também repercutiam o IPCA-15, que desacelerou em janeiro, mas ficou acima das projeções sob pressão dos alimentos.
Com a agenda doméstica esvaziada em razão do recesso parlamentar do Congresso Nacional, o que tem movido os mercados neste período são as perspectivas econômicas para o segundo mandato do presidente de Trump na Casa Branca.
Trump havia anunciado a possibilidade de tarifar produtos importados da China, União Europeia, Canadá e México. Entretanto, ele não impôs imediatamente as tarifas quando tomou posse, como havia prometido durante sua campanha eleitoral.
Até agora, Trump apenas orientou que as agências federais investiguem os déficits comerciais dos EUA e práticas comerciais "injustas" de países parceiros.
A leitura dos investidores é que a política tarifária do republicano tem sido menos agressiva do que se esperava para os primeiros dias de governo, e os analistas ponderam se as ameaças são bravatas políticas ou de fato planos concretos do presidente.
Diante da possibilidade de uma abordagem mais moderada no comércio global, investidores têm reduzido o preço da divisa dos EUA.
Segundo Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimento, um acordo comercial entre China e EUA pode segurar os temores de um governo de maior inflação.
Isso porque, com uma política de evitar bloqueios comerciais, a inflação pode continuar arrefecendo no país e isso evitaria taxas de juros mais altas.
"Esse cenário colocaria em xeque a questão de um dólar mais forte no mundo, ou seja, frearia a valorização do dólar que temos acompanhado desde o final de 2024. Se essas condições de fato se desencadearem, podemos ter um dólar mais enfraquecido no Brasil", afirma.
Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, um eventual acordo entre os países seria uma sinalização de crescimento da China e uma recuperação no preço das commodities, o que ajudaria o real a se valorizar.
"O Brasil seria beneficiado, especialmente no caso das commodities agrícolas, como grãos, proteínas e também na área de commodities metálicas, como o minério de ferro", diz.
"A sazonalidade favorável ao real no início do ano, impulsionada pelas exportações de grãos, reforçou o movimento de valorização da moeda brasileira", afirma Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
Na quinta-feira (23), o dólar caiu 0,36% e encerrou o dia cotada a R$ 5,925.
A tendência de queda permaneceu nesta sexta depois que Trump foi questionado, durante entrevista à emissora Fox News exibida na noite de quinta-feira, se pode fazer um acordo com a China para práticas mais justas. "Eu posso fazer isso", afirmou.
A porta-voz do ministério do exterior, Mao Ning, respondeu positivamente. "Apesar das diferenças, os dois países têm enormes interesses comuns e espaço para cooperação", disse ela.
Os mercados financeiros reagiram imediatamente nesta sexta-feira e o índice do dólar (DXY), que mede a força do dólar americano em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, caiu 0,59%.
Durante a entrevista, Trump relembrou ainda uma conversa que teve com Xi-Jinping em que debateram questões como TikTok, comércio e Taiwan. "Tudo correu bem. Foi uma conversa boa e amigável", disse o presidente dos EUA.
Mais cedo na quinta, em participação virtual no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Trump afirmou que exigirá uma redução imediata da taxa de juros e que outros países deveriam seguir o exemplo. Este foi seu primeiro ataque direto à política monetária do Fed (Federal Reserve) desde que reassumiu o cargo nesta semana.
"Com a queda dos preços do petróleo, exigirei que a taxa de juros caia imediatamente e, da mesma forma, elas deveriam cair no mundo todo", disse. Mais tarde, Trump afirmou que espera que a instituição o escute.
O Fed é o banco central dos EUA. Na próxima semana, seus dirigentes se reúnem para definir a política monetária. A expectativa do mercado é de que haja uma manutenção da taxa de referência, hoje entre 4,25% e 4,5% ao ano.
Apesar das ameaças de Trump, o Fed é uma instituição independente do governo da vez, assim como o Banco Central do Brasil o é desde 2021.
Tanto o aumento dos impostos para importações quanto a queda de juros no curto prazo nos EUA podem ser inflacionários, dizem economistas.
Isso ocorre porque, quando os EUA aumentam os impostos sobre produtos importados, esses itens ficam mais caros para os consumidores americanos. Como resultado, o custo de vida aumenta, já que muitos produtos importados fazem parte do consumo cotidiano.
Esse aumento nos preços pode gerar inflação, já que os consumidores precisarão gastar mais para adquirir os mesmos produtos.
Além disso, os produtores domésticos podem se sentir menos pressionados a competir com os preços internacionais mais baixos, o que também pode levar a aumentos nos preços dos produtos nacionais.
Quando os juros caem, o crédito fica mais barato, incentivando o consumo e os investimentos. Esse aumento na demanda pode pressionar a capacidade de oferta da economia, gerando um aumento nos preços -ou seja, inflação.
A combinação desses dois fatores -um custo de vida mais alto devido ao aumento das tarifas e uma demanda aquecida pela redução dos juros- cria um ambiente onde os preços podem subir rapidamente.
Caso essa inflação saia do controle, o Fed seria forçado a aumentar os juros novamente no futuro para desacelerar a economia e conter a alta dos preços.
E, quanto mais altos os juros por lá, melhor para o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano crescem.
Para os próximos dias, o mercado irá se voltar a uma série de decisões de bancos centrais. Na sexta-feira, o Banco do Japão inaugura a sequência de reuniões sobre juros, e a autoridade japonesa poderá voltar a subir sua taxa.
Na quarta-feira, será a vez do Fed e do BC (Banco Central) brasileiro. Da ponta norte-americana, as apostas majoritárias são em uma manutenção dos juros na banda atual de 4,25% e 4,5%. Já na ponta doméstica, o Copom (Comitê de Política Monetária) já havia antecipado que a taxa Selic, agora em 12,25% ao ano, terá aumentos de 1 ponto percentual neste mês e em março.
Na quinta, o BCE (Banco Central Europeu) encerra a bateria de decisões mais relevantes para o mercado. A expectativa é por uma redução nos juros.
Na cena doméstica, investidores repercutiam o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), divulgado nesta sexta pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O índice desacelerou a 0,11% em janeiro pressionado pelos alimentos, após marcar 0,34% em dezembro. A taxa é a menor para meses de janeiro na série histórica desde o início do Plano Real, mas ainda ficou bem acima da mediana das projeções do mercado financeiro.
Com o resultado de janeiro, o IPCA-15 desacelerou a 4,50% no acumulado de 12 meses.
É justamente o teto da meta perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2025. O centro da meta em 2025 é 3% no acumulado de 12 meses. O intervalo de tolerância varia de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil.
Para Cittadin, da Manchester Investimento, com os resultados do IPCA-15, tudo indica que o IPCA de janeiro pode vir mais alto que o esperado.
"Os dados do IPCA vão trazer mais clareza a respeito da inflação mais acelerada medida no IPCA-15. Parece ser isso que o mercado está avaliando, pois hoje a bolsa está com variação de apenas 0,01% até o momento", afirma.
"O comportamento da bolsa hoje reflete esse cenário de incerteza. Externamente, há dúvidas sobre a política tarifária dos EUA e, internamente, o IPCA-15 acima das expectativas gera preocupações sobre a inflação e os juros", diz Iarussi, da The Hill Capital.
As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) fecharam a sexta-feira em alta entre os contratos com prazos mais curtos.
No fim da tarde, a taxa do DI (para julho de 2025 -um dos mais líquidos no curtíssimo prazo- estava em 14,135%, ante o ajuste de 14,095% da sessão anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 15,13%, com alta de 10 pontos-base ante o ajuste de 15,031%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 15,12%, ante 15,123% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 15,04%, ante 15,067%.
Comentários