Complexo Portuário do Espírito Santo terá aumento na capacidade de cargas
Draga que vai ampliar profundidade já chegou ao Estado. Será 1º passo para mudar vocação em Aracruz e beneficiar ainda a Grande Vitória
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O complexo portuário do Espírito Santo — incluindo os portos de Vitória, Vila Velha e da Barra do Riacho, em Aracruz — terá um aumento na capacidade de cargas, fruto da ampliação na profundidade, serviço que será realizado por uma draga que chegou ontem ao Estado.
O projeto será concluído neste primeiro semestre e é parte dos investimentos da Vports, como contou o diretor-presidente da empresa, Gustavo Serrão, em entrevista ao jornalista Rafael Guzzo, no quadro Histórias Empresariais.
Será o primeiro passo para a transformação do terminal da Barra do Riacho em um modelo multipropósito, como é na Grande Vitória. E permitirá ao Porto de Vitória operar sem restrição com o calado (como é chamada a distância entre a quilha do navio e a superfície).
Serrão destacou ainda a ligação entre o Porto de Vitória e a malha nacional da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que possibilita ampliar o volume e os tipos de cargas, incluindo grãos do Centro-Oeste.
- A Tribuna — Vamos falar da melhoria da infraestrutura do complexo portuário do Estado. O que está em curso?
Falando de Aracruz, especificamente, tenho uma notícia de primeira mão. Depois de amanhã (na verdade, foi ontem, já que a entrevista ocorreu na quinta-feira), chega a draga para fazer o primeiro serviço de dragagem nos berços. Isso vai aumentar a capacidade, num projeto de R$ 30 milhões.
A gente fechou esse contrato da dragagem, e a embarcação vai começar os serviços. (Aracruz) é uma área em que a gente aposta muito. Então a gente vai fazer (em Aracruz) o mesmo modelo que a gente faz aqui (na Grande Vitória), que é multipropósito, para poder oferecer uma diversidade de serviços para nossos clientes.
Então, essa primeira dragagem é o primeiro movimento. Naturalmente, a gente fazendo licenciamento com terminal multipropósito, a gente cria uma diversidade de cargas potenciais.
- A Vports tem apresentado um aumento constante no volume de cargas, do café a veículos, passando pelo lítio. Há perspectivas de ampliar esse leque?
Perfeito. Essa é um característico importante do nosso porto, reforçando que é multipropósito. Então a gente consegue ter essa variedade de cargas. E os resultados do ano passado já foram muito importantes. Mesmo com toda essa transição, a gente, já no segundo ano, entregou resultados recordes.
Movimentamos cargas que nunca haviam sido feitas no Porto de Vitória. Por exemplo, crescemos 15% ano passado em relação ao anterior, enquanto a média do Brasil foi de aumento de 2%. E contêineres, por exemplo, crescemos 30% de um ano para o outro. Carga geral aumentou 54%.
São números muito fortes, garantindo uma movimentação recorde mensal, superando a casa das 900 mil toneladas. Então, nos principais produtos movimentados — café, por exemplo —, a gente registrou a maior movimentação da história do Porto de Vitória.
Lítio a gente começou a embarcar em 2023, e hoje é uma carga consolidada, um insumo fundamental para a eficiência energética, para a indústria da bateria. Então a gente tem, de fato, uma diversidade de cargas que operamos no Porto.
- No caso dos veículos, há perspectiva de aumento na movimentação? Chegou a faltar espaço para armazenar em 2024.
Houve, de fato, uma demanda mais alta que a prevista no ano passado, e a gente conseguiu, com velocidade, absorvê-la. Dobramos a quantidade de importação de carros no ano passado e conseguimos equacionar e garantir o atendimento ao cliente final. Do ano passado para este, a área destinada aos carros aumentou em 25%.
Há um projeto muito defendido pela indústria, que é o contorno da Serra do Tigre, que aumentaria a velocidade e possibilitaria o escoamento de cargas do Centro-Oeste aqui, pelo Espírito Santo. Isso é acompanhado?
A gente fez, ano passado, a ligação com essa ferrovia, ligando o porto na Grande Vitória à malha nacional da FCA. Isso se trata de uma discussão da renovação da Ferrovia Centro-Atlântica.
Mas o mais importante é que a gente consegue, independente da questão da Serra do Tigre, colocar em operação uma infraestrutura que a gente construiu. Então a Vports está focada, neste momento, em conseguir uma carga sistemática em ferrovia que a gente tem vias de começar a operar este ano.
A Vports movimentou 8 milhões e meio de toneladas ano passado, cresceu 15% em relação ao anterior e tem um espaço bacana no futuro para continuar crescendo.
- Há alguma carga que não é movimentada hoje e que é um mercado em potencial, desejada pela Vports, e que pode ser negociada futuramente?
A gente tem novos contratos sendo assinados, muito mais do que antes da gestão privada. Então a gente antes assinava um contrato a cada quatro anos. Nesses dois anos e meio, nós assinamos 13 novos contratos, dando toda uma nova dinâmica para o porto.
Então, recentemente, assinamos um contrato que aumenta em 60% a área para ser explorada por contêiner. Quando falo de novas cargas, a gente vê um potencial. Quando falo de 80% de crescimento, a gente tem crescimento em todos os segmentos.
Naturalmente, com ligação com a ferrovia, eu vejo potencial. A maior parte desse crescimento vem dali. Um produto, por exemplo, que a gente não opera hoje é o farelo de soja, que eu vejo como um produto potencial para cá. Milho, soja, farelo de soja. Então são produtos que eu acho que a gente pode operar muito mais com a parceria com a ferrovia (FCA).
PERFIL

Gustavo Serrão
> Natural do Rio, mas também tem forte conexão com São Paulo e Minas Gerais, onde morou. Seus dois filhos, inclusive, são mineiros.
> Marido da Luciana, pai do Matheus e da Marcela
> É formado em engenharia mecânica, tendo estudado no ITA. Também fez cursos na Columbia Business School, na Massachusetts Institute of Technology e na Fundação Dom Cabral.
> É diretor-presidente da Vports, cargo que ocupa desde maio do ano passado, segundo seu Linkedin.
> Antes disso, também atuou na VLI Logística e na Vale.
CURIOSIDADES
Nadar e correr
Em seu tempo livre, o diretor-presidente da Vports costuma nadar no mar e correr. Ele conta, inclusive, que, por ter passado um período da vida em Minas Gerais, estava com saudade do mar.
“Morei nos quatro estados do Sudeste, e meus filhos são mineiros. Estava com saudade do mar. Dar um mergulho e correr pelo calçadão são coisas energizantes para começar bem o dia”.
Terra, mar e ar
Formado em Engenharia Mecânica, Serrão conta que trabalhou com aviação militar no início da carreira.
“Eu não pilotava, no caso. Eu era engenheiro. Aprendi muita coisa na parte de manutenção. Aí depois migrei para a manutenção de ferrovia. Dá para dizer que fiz um pouco de tudo: terra, mar e ar. Avião, rodovias, ferrovias, portos, navios... É um acúmulo de conhecimento interessante”.
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