Capixaba relata alto custo de vida na Argentina e decide se mudar do país
Em entrevista ao Estadão, a estudante de medicina Letícia Pancieri diz que alta da inflação fez com que ela decidisse seguir seus estudos no Paraguai
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A disparada dos preços na Argentina ao longo do último ano — o primeiro do governo de Javier Milei, no poder desde dezembro de 2023 — tem feito com que brasileiros optem por deixar o país vizinho, a fim de fugir do custo de vida cada vez mais alto, segundo reportagem publicada neste domingo (26) pelo Estadão.
É o caso da capixaba Letícia Pancieri, que nasceu em Vitória e morou três anos em Buenos Aires, onde estudava medicina. No ano passado, ela se mudou para Ciudad del Este, no Paraguai, onde tem dado sequência à faculdade.
Em entrevista ao Estadão, Letícia contou que decidiu deixar a Argentina ao perceber que o custo de vida estava ficando cada vez mais alto. Segundo ela, o primeiro aviso veio já em janeiro de 2024, quando voltou de um período de férias do Brasil.
“Fui tomar um suco que antes custava R$ 8 e paguei R$ 22. Aí acendeu um alerta e vi que as coisas estavam mudando”, disse ao Estadão.
De lá para cá, os preços na Argentina aumentaram consideravelmente, tornando-se um luxo para muitos brasileiros atraídos pelo baixo custo de vida para quem chegava ao país com moeda estrangeira e comprava uma moeda local desvalorizada.
Assim como a capixaba, muitos brasileiros transferiram o curso de medicina para o Paraguai, país mais em conta financeiramente para seguir com estudos.
“Muitas pessoas estão me procurando para pedir orientações para vir estudar aqui, dizendo que está impossível morar na Argentina”, conta ela, afirmando que a maioria dos alunos da faculdade em que estuda agora é brasileira.
O susto da estudante capixaba com o preço do suco ocorreu um mês após a posse de Milei. Logo que chegou ao poder, o economista libertário desvalorizou a cotação oficial do peso, congelada artificialmente, em 50%.
Naquele mês, a inflação chegou a 25,5%. Em janeiro, caiu para 20,6% e foi baixando até registrar 2,7% em dezembro.
Mas a redução ocorreu, em grande parte, pela desaceleração da economia, sobre um nível de preços altos e um poder de consumo que não acompanhou o aumento.
“Antes, toda semana eu conhecia um restaurante, ia a shows ou ia ver ópera. Nos meus últimos tempos em Buenos Aires eu já não estava conseguindo fazer nada disso”, relata.
Além de cortar os gastos de lazer, ela sentiu os reajustes na mensalidade da faculdade. Foi quando decidiu trancar o curso.
Para ela, a transferência para o Paraguai foi a decisão correta: o aluguel que dividia em Buenos Aires com uma amiga, antes de R$ 2 mil, passou para R$ 5 mil. Já a mensalidade da faculdade pulou de cerca de R$ 800, em novembro de 2023, para R$ 1.500.
Em novembro, dezenas de alunos da faculdade particular onde ela estudava, uma das que atraem mais brasileiros em Buenos Aires, protestaram diante de uma das sedes da instituição contra o aumento das mensalidades, segundo eles abusivo.
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