"Tenho medo da Covid, mas não temos escolha", diz garota de programa

| 10/06/2021, 10:40 10:40 h | Atualizado em 10/06/2021, 10:59

Afetadas por causa do isolamento social exigido na pandemia, várias garotas de programa da Grande Vitória ainda sentem medo de trabalhar. Sem outra fonte de renda, elas tiveram que voltar às ruas, mesmo com o alto risco de infecção.

Uma moradora de Vitória, de 32 anos, que preferiu não se identificar, viu os serviços despencarem durante a pandemia. Mãe de dois filhos, de 5 e 12 anos, ela perdeu quase metade dos clientes fixos.

“Sustento minha família com o dinheiro da prostituição, então foi um período difícil. Até diminuí o valor dos programas para ver se isso atraía a clientela. Claro que tenho medo da Covid, mas não temos escolha”, conta.

Mesmo com os perigos, agora, ela tenta retomar a vida profissional com o mínimo de segurança.

“Procuro saber como está o estado de saúde do cliente antes do programa. Coloco álcool em gel pelo quarto todo. Não compartilho copo, comida, nada”, relata.

Outra trabalhadora sexual aponta que, por causa do alto nível de desemprego, muitas pessoas passaram a se prostituir. “E quem já tinha saído desse mundo voltou, pois ficou sem dinheiro”, explica a mulher, que também preferiu não ter a identidade revelada.

Para ela, a maior dificuldade é convencer os clientes a seguirem os protocolos. No entanto, como explica, uma parcela dos homens também tem se preocupado com a própria saúde. “Alguns até fazem sexo de máscara”, cita.

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Uma garota de programa de 42 anos, que trabalha na área há quatro anos, foi infectada no ano passado e teme reinfecção. “Parte dos meus clientes são embarcados e fazem testes com frequência. O medo, porém, existe. Quero sair dessa vida”, diz.

Com o “boom” das redes sociais, uma transexual passou a investir em serviços virtuais (videochamadas e ligações) para complementar a renda. Do ano passado para cá, ela viu o lucro cair de R$ 4 mil para R$ 1,5 mil. “Por estar vacinada, fico um pouco mais tranquila. Contudo, não saio de casa e faço poucos trabalhos presenciais”, frisa.

“Há homens que usam até máscara na hora do sexo”

A Tribuna – Como você entrou para a prostituição?
garota de programa – Trabalhei durante anos como faxineira na noite, e lá começaram a me estimular para fazer programas. Já que estava precisando de dinheiro, topei. E deu certo.

Você tem medo da Covid?
Peguei a doença no ano passado, mas tive apenas sintomas leves. Morro de medo mesmo é da reinfecção. No momento, estou correndo atrás da vacina.

Como tem se protegido da doença?
Tenho um segurança que aborda os clientes, perguntando se eles têm sintomas, como estão de saúde, etc. Uso bastante álcool em gel e não abro mão da máscara.

Normalmente, quem te contrata também segue os protocolos de seguranças?
Alguns clientes tomam cuidado, mas uns 30% são um pouco relaxados. A maioria deles vem de máscara e até usa na hora H, enquanto outros pedem para tirar. Deixo eles escolherem.

O número de clientes caiu durante a pandemia?
Acho que caiu para todas as meninas. Várias precisaram abaixar o preço, senão ficariam sem clientes. Diversas vezes, eles (contratantes) quiseram pagar menos, alegando estarem sem renda.

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