Mulheres trabalham até 4 vezes mais com isolamento

| 06/05/2020, 15:31 15:31 h | Atualizado em 06/05/2020, 15:52

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-05/372x236/a-advogada-ninive-santos-com-os-filhos-nina-e-heitor-d934d2c4b7b52ebb4670ae3481a8d221/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-05%2Fa-advogada-ninive-santos-com-os-filhos-nina-e-heitor-d934d2c4b7b52ebb4670ae3481a8d221.jpeg%3Fxid%3D120591&xid=120591 600w, A advogada Nínive Santos com os filhos Nina e Heitor. Ela divide o tempo entre os pequenos, a casa e o trabalho

Acordar cedo, preparar o café da manhã da família, lavar a louça, cuidar da casa, supervisionar as aulas online dos dois filhos pequenos e ainda ajudar o sogro, de 87 anos. A rotina é da dona de casa Rosimere Moreira, 39, que viu aumentar o número de atividades que tem de desenvolver com o isolamento social.

Mas a capixaba não está sozinha, quando o assunto são as tarefas diárias durante a pandemia do novo coronavírus: as mulheres estão trabalhando até quatro vezes mais, segundo uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Meu sogro já é de idade, precisa de cuidados e atenção. Antes, meus filhos iam para a escola e eu conseguia conciliar tudo. Agora é difícil demais, muita correria em casa, bagunça e não posso deixar as crianças o tempo todo na televisão. No fim do dia, estamos exaustas”, contou Rosimere Moreira.

Para quem precisa trabalhar de casa, a rotina se torna ainda mais cansativa. É o caso da advogada Nínive Santos, 40, que antes contava com a ajuda de uma pessoa para lidar com os afazeres de casa.

Durante o dia, ela precisa ajudar o filho Heitor Aloísio, 5, com as atividades online, cuidar da filha Nina Santos, 2 anos, e ainda precisa dar conta do seu trabalho e processos, além dos afazeres domésticos.

“Conto com a ajuda do meu marido, que é autônomo e, quando está em casa, me dá essa força. De fato não é uma missão fácil, mas quando pensamos que esse momento vai passar, isso ajuda”.

A psicóloga Débora Monteiro Coelho explica que, apesar de os homens estarem mais participativos nos afazeres domésticos e com os filhos, a maior parte do serviço fica com as mulheres. “Ainda precisam acumular com o profissional, tendo que trabalhar em home office, e esse peso fica maior”.

Pesquisa

A pesquisa ONU Mulheres, divulgada em abril, revelou que elas se queixam do aumento na jornada de trabalho, que chegou a quadruplicar, durante a pandemia. O estudo faz parte do relatório Mulheres no Centro da Luta Contra a Covid-19, e mostra que as mulheres vêm sofrendo com o aumento da violência doméstica, o trabalho em casa (home office) e os cuidados domésticos.

Elas ainda precisam lidar com a suspensão das aulas dos filhos e prestar assistência aos idosos da família.

“Rotina agora é outra”

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/prod/2020-05/372x236/a-designer-carla-ribeiro-77a80d2bbec8bc7661f39f53938a7072/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fprod%2F2020-05%2Fa-designer-carla-ribeiro-77a80d2bbec8bc7661f39f53938a7072.jpeg%3Fxid%3D120592&xid=120592 600w, A designer Carla Ribeiro, de 37 anos, precisa dividir seu tempo entre cuidar da filha Alice, de 1  ano
Trabalhando em casa desde que a quarentena foi imposta, a designer Carla Ribeiro, de 37 anos, precisa dividir seu tempo entre cuidar da filha Alice, de 1 ano, dos afazeres de casa e terminar as encomendas do seu ateliê.

Mesmo com a ajuda do marido, ela sente o aumento de trabalho.

“Antes, eu tinha uma pessoa que me ajudava, agora somos só eu e meu marido. Preciso fazer meu trabalho do ateliê, arrumar a casa, brincar com minha filha, cozinhar, lavar, passar, minha rotina agora é outra. Quando ela dorme, é quando consigo adiantar meu trabalho. Estou bem cansada”, disse Carla.

Análise

“Distribuição de tarefas entre todos e delimitação de horários”

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Rubia Passamai Navarro,
psicóloga e especialista em Saúde Coletiva

“O distanciamento social está evidenciando o esforço que muitas mulheres fazem, no dia a dia, para dar conta de tantas tarefas e responsabilidades. Na verdade, o tempo em casa acaba aumentando a sobrecarga sobre elas, se não houver bom senso entre toda a família.

Muitas mulheres precisam, mesmo que estejam em casa, dar conta das atividades profissionais, no entanto, o home office nem sempre é enxergado pela família como deveria. Ou seja, como período em que se está indisponível para outras atividades, que, geralmente, incluem tarefas domésticas e cuidados com marido e filhos.

As que não trabalhavam fora também estão se vendo com atividades redobradas, uma vez que, com a família em casa em período integral, as demandas aumentam.

Para que isso não gere um estresse extremo e acabe refletindo na saúde mental das mulheres e no bem-estar de toda a família, que também pode ser afetada com o isolamento, é fundamental que haja um consenso.

Faça a distribuição de tarefas entre todos e delimitação de horários, por exemplo. Também é importante respeitar o tempo que cada um precisa para dedicar a si e descansar.”

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