O que somos?
Confira a coluna de domingo (04)
Inicio a resposta à pergunta acima com uma figura: somos “máquinas de classificar”. Insistimos em conter a vida dentro de caixas, divisões, categorias etc., ignorando a verdade simples de que suas possibilidades são infinitas!
O ato de classificar é, em si, útil na medida em que tem um sentido. Deixa de sê-lo, porém, quando passa a ser um sentido. Quando começa a restringir o que a humanidade tem de mais importante: a liberdade de pensamento.
Vamos a um exemplo: eu sou a favor da livre-empresa. Em boa parte do século passado seria, assim, classificado como um capitalista. O problema é que também sou contra a exploração dos trabalhadores – e aí seria enquadrado como um comunista. Como não se pode ser um e outro ao mesmo tempo, restaria para mim um limbo! A discriminação, enfim.
Felizmente, o pensamento evoluiu e essa tão primária classificação, que tanto mal trouxe à humanidade, virou poeira histórica. Ou não?
Vou à janela. Contemplo o meu País. Vejo, com infinita tristeza, o que nele se promoveu nas últimas décadas – seja sob governos de “esquerda” ou de “direita”. Começo pelo processo de internacionalização da economia, ao arrepio de qualquer reciprocidade. Passo pela sensível desindustrialização que nos furtou a pujança da economia. Chego à criação de uma dívida pública impagável, que hoje nos consome quase 40% de todos os tributos que arrecadamos.
Contemplo, angustiado, a doação para alguns particulares, digo, a privatização de imensa parte do patrimônio do povo brasileiro. Vejo nossa economia insistindo no extrativismo mais tosco. Na exportação de riquezas não-renováveis a preço de banana seguida da importação de produtos e serviços a peso de ouro – produtos e serviços que bem poderiam ser brasileiros!
Tenho testemunhado, ao longo de décadas, as cenas tristes de nossos compatriotas sendo enxotados, digo, deportados, acorrentados publicamente, de países cujos nacionais aqui recebemos de braços abertos.
Fica a pergunta: este é um descalabro da “direita” ou da “esquerda”? Sinceramente...
Humildemente, fico a me perguntar quem tem se beneficiado dessa tão infantil divisão. Quem a estimula – ou mesmo quem a engendra. Serão os povos e as empresas que avançam mais e mais sobre nossas riquezas? Que ameaçam a nossa própria soberania?
Já às portas da “terceira idade”, olho para trás. Nunca vi nosso povo tão dividido! Nunca o vi tão oprimido e discriminado, inclusive em nível familiar – sim, conseguiram levar a cizânia para dentro de nossas casas.
Cegos e apegados a conceitos inaplicáveis ao mundo de hoje, já não percebemos que o mal, o atraso, a corrupção, a ineficiência e a falta de compaixão são conceitos absolutos – como o são o bem, o progresso, a decência, a eficiência e a solidariedade. Não são nem de “esquerda” nem de “direita”. Não são exclusivos a governos ou pessoas. São pontuais e morais. Deveriam regular nossas ações diante de cada fato do cotidiano.
Enquanto isso, e já que insistimos em viver sob classificações, declaro a minha: sou brasileiro.
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