Será sempre sorte?
Confira a coluna desta quarta-feira (05)
Na vida, encontramos pessoas que deixam algo que nos marca. No meu caso, um encontro de pouco mais de uma hora teve uma intima e importante repercussão, marcando-me para o resto da vida, que inesperadamente se transformou em uma importante lição de vida.
Eu costumava jogar golfe no campo situado no município da Serra. Naquele dia, estava sem um acompanhante para dar a volta de nove buracos daquele campo. Quando do nada, apareceu uma pessoa, que se identificou com Gerrard.
Ele era belga e tinha idade aparente de 70 anos ou um pouco mais. Depois das apresentações, fomos para o campo. Já no primeiro buraco, na minha segunda tacada, fazendo uma boa jogada, imediatamente comentei: “Tive sorte nessa tacada”.
Ele deixou de segurar o carrinho que carregava os seus tacos e as bolas de golfe, e disse num forte sotaque, em voz baixa e firme, olhando diretamente nos meus olhos: “Lembre-se sempre meu filho, quanto mais você treina, mais sorte tem”. Olhei sério para ele, que continuou: “Isso serve para tudo na vida, meu amigo”.
O jogo continuou por mais uma hora. Quando nos despedimos, prometemos futuramente novos encontros naquele local, que, infelizmente, nunca aconteceram. Como os pensamentos voam, naquele dia, voltei para casa refletindo somente a frase ouvida e as consequências daquele ensinamento.
Comecei a me lembrar que, quando estudante, quanto mais estudava uma matéria, mais “sorte” tinha nas questões que caíam na prova.
Fazia muito sentido a frase do meu companheiro de jogo e, no cotidiano, quanto mais livros diversos eu lia, mais “sorte” tinha nas conversas sociais, que abordavam assuntos que agora conhecia, e que na maioria das vezes ainda não dominava, mas sabia do que se tratava, dando, às vezes, algumas leves opiniões.
Em síntese, quanto mais me esforçasse em conhecer qualquer assunto ou atividade, mais “sorte” tinha. Preparar-se para a vida, é essencial para tudo que vier profissionalmente, esportivamente, e até no nosso relacionamento social e familiar.
Ocupando-se sempre em leituras, cursos, palestras, e até ouvindo com atenção as pessoas mais experientes, isso nada mais é que um treino para a vida e a certeza de que a “sorte” nos acompanhará.
Infelizmente, soube, alguns meses depois, que o Gerrard tinha falecido de um mal súbito, adiando infinitamente o nosso futuro encontro.
No golfe, as bolas que caíam no green mais perto do buraco, agora, não considerava sorte, mas treinamento. Na vida cotidiana, tudo que antecipadamente me preparava, se tornava mais fácil. No relacionamento pessoal e familiar, quanto mais me preparava para comentários ou opiniões, importantes ou não, mais efeito positivo produziam.
Com certeza, Gerrard queria dizer que preparação e treino são, para a vida cotidiana, os mais importantes requisitos. Ensinamentos simples, mas muito eficientes. Onde você estiver Gerrard, obrigado pela sábia lição, que será sempre lembrada.