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A vida e a arte

Se um personagem de cinema ganhasse vida, talvez dissesse, rindo, que a realidade é o absurdo da ficção

Pedro Valls Feu Rosa | 12/06/2023, 13:59 13:59 h | Atualizado em 12/06/2023, 14:00

Imagem ilustrativa da imagem A vida e a arte
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo |  Foto: Arquivo AT

Dia desses conversava com um dileto amigo sobre o enredo de dado filme. Lá pelas tantas ouvi dele uma curiosa frase: “São dessas coisas que só acontecem no cinema”. Recordei-me de Eça de Queiroz, segundo quem “a arte é um resumo da natureza feito pela imaginação”. É verdade: a realidade supera, e em muito, os maiores delírios que a imaginação humana já colocou nas telas. 

Por exemplo: em Chicago, nos EUA, uma velhinha de 90 anos mantinha espalhados pela casa os corpos de seus três irmãos. A polícia estimou que um deles havia falecido há 28 anos. Diante disto como fica real e até insosso o filme Psicose! 

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Enquanto isso o prefeito de Sarpourenx, na França, proibiu por decreto a morte de pessoas que não tivessem um lote no cemitério. Algo similar foi editado em Lanjarón, na Espanha, devido ao atraso das obras de ampliação do cemitério local: “Está proibido morrer em Lanjarón. Os infratores responderão pelos seus atos”. 

Diante destas pérolas como diminuem de tamanho as peripécias de Odorico Paraguaçu, personagem imortal criado pela imaginação de Dias Gomes. 

Há também o caso dos dois ladrões que compareceram a um banco de Nova Iorque acompanhados de um morto tentando descontar um cheque deste. As câmeras de vigilância captaram a inacreditável cena dos dois larápios entrando na agência abraçados com o defunto. Eis aí algo que, ressalvadas as comédias, cineasta algum concebeu como possível. 

Não menos curiosa foi a tara de um ladrão canadense preso após furtar inacreditáveis 2.865 bicicletas. A Polícia de Toronto relatou que várias garagens foram alugadas para esconder tantas bicicletas. Imagine uma situação dessas retratada em algum filme – quem acreditaria que isso foi real? 

E as coincidências? Todo filme que se preze tem que ter alguma só para que o público tenha o prazer de dizer que “isto só acontece no cinema”. Será? Na Dinamarca registrou-se o caso de um cidadão que morreu atropelado ao tentar atravessar uma avenida – três horas depois seu irmão gêmeo morreu no mesmo lugar, também atropelado! 

Estrepolias no trânsito? Esqueça os filmes! A realidade é muito mais excitante, conforme provou um inglês que dirigiu centenas de quilômetros na contramão de uma das mais movimentadas estradas do Reino Unido a mais de 200 km/h. E que dizer do russo que, bêbado, furou uma blitz, atropelou um policial e dirigiu mais de um quilômetro com ele agarrado ao vidro dianteiro? 

Quem não se lembra de Al Pacino no filme Perfume de Mulher, dirigindo um carro apesar de ser cego? Fantástico demais? Que nada! Há poucos meses um francês foi parar na cadeia por ter dirigido um carro sendo cego e estando bêbado. E em 2007 a Polícia da Estônia surpreendeu duas vezes em um único mês um outro cego, embriagado, conduzindo um veículo em alta velocidade pelas estradas daquele país! 

Diante de todas estas loucuras que a raça humana produz, se um personagem de cinema ou de desenho animado ganhasse vida, talvez dissesse, rindo gostosamente, que a realidade é o absurdo da ficção.

Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo

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