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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

O ministério de Trump

Confira a coluna

José Vicente de Sá Pimentel | 18/11/2024, 18:44 18:44 h | Atualizado em 18/11/2024, 18:44

Confirmada a vitória no voto popular e no Colégio Eleitoral, e certificada a maioria Republicana na Câmara de Deputados e no Senado, Trump começa agora a anunciar os componentes do seu Ministério, que deverão ser confirmados pelo Congresso, antes de assumir. Os primeiros anunciados são esquisitões, fora dos padrões históricos, mas nem por isso prevê-se maiores dificuldades para assumirem os cargos.

São os seguintes os indicados até agora:

Robert Kennedy Jr., sobrinho do ex-presidente John Kennedy, militante antivacina, indicado para o Ministério da Saúde;

Kristi Noem, governadora da Dakota do Sul, deverá chefiar o Departamento de Segurança Interna, encarregado do Serviço Secreto e da supervisão das fronteiras e alfândegas. Noem criou controvérsias ao revelar, num livro recentemente lançado, que matou a tiros um cachorro de sua família, que, segundo ela, seria “intreinável”;

Pete Hegseth, jornalista, âncora nos fins de semana da Fox News, escolhido para o cargo de Secretário da Defesa, principal conselheiro do presidente para assuntos de segurança, chefe direto das Forças Armadas do país;

Tulsi Gabbard, ex-deputada que abandonou o Partido Democrata e se filiou aos republicanos, indicada Diretora da Inteligência Nacional, que reúne a CIA, o FBI e a NSA, embora não tenha nenhuma experiência nessa área;

John Ratcliffe, indicado para Diretor da CIA. Quando diretor nacional de inteligência no primeiro mandato de Trump, Ratcliffe foi acusado de vazar informações de caráter secreto para o presidente, que as utilizou contra políticos e outras personalidades ligadas ao Partido Democrata;

Lee Zelden, deputado republicano pelo estado de Nova Iorque, indicado administrador da Agência de Proteção Ambiental. Nas palavras de Trump, sua principal tarefa será “tomar decisões para desregulamentar o mercado e liberar o poder das empresas americanas... e estabelecer novos padrões ambientais para que os Estados Unidos cresçam de forma saudável e bem estruturada”;

Michael Waltz, deputado da Florida que se tornou conhecido, nos últimos anos, ao se transformar num assíduo comentarista de política externa da Fox News e num dos mais ortodoxos críticos da Otan, da China e do Irã, será o assessor de Segurança Nacional, cargo que já foi exercido por Henry Kissinger, Zbigniew Brzezinski e Colin Powell, entre outros intelectuais importantes;

Marco Rubio, senador pela Florida, deverá ser o Secretário de Estado, equivalente ao nosso ministro das relações exteriores. Já declarou que sua doutrina consistirá em “promover a paz por meio da força”;

Por fim, Elon Musk, que deverá chefiar o novo Ministério da Eficiência do Governo, recompensa pelos 130 milhões de dólares que investiu na campanha presidencial de Trump.

Ainda que inusuais, as escolhas não chegam a gerar grandes controvérsias. O cenário político nos Estados Unidos ainda sente os efeitos da ressaca provocada pela dimensão da vitória eleitoral do Partido Republicano, que nenhuma pesquisa de opinião conseguiu prever. Fala-se na necessidade de uma renovação de alto a baixo no Partido Democrata. Por sua vez, os republicanos não teriam alternativa senão seguir as determinações do seu novo e absoluto senhor.

Os novos ministros assumirão achando que podem tudo. A realidade talvez os desaponte. No mundo, em geral, prevalece um certo ceticismo quanto à capacidade de Trump pôr em prática as suas promessas, em particular as de encerrar, em curtíssimo prazo, às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Putin e Netanyahu não são personagens fáceis de conduzir e os europeus não vão se apressar nem facilitar a desintegração da Otan.

Conhecendo a imensa vaidade de Trump, é possível que, ao lidarem com ele, Xi Jinping e muitos outros líderes mundiais caprichem na pompa e circunstância, façam concessões que resultem em vistosas manchetes, mas poucos resultados concretos, e repitam o cenário do primeiro mandato, em que os Estados Unidos na verdade ganharam muito pouco.

É o que o Brasil deverá fazer também. Em vez de contestar os representantes de Washington, trataremos de lidar pragmaticamente com o seu neoprotecionismo e seu revigorado negacionismo ambiental. Não será agradável, mas são os ossos do ofício.

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