Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Opinião Internacional

Opinião Internacional

Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

Apertem os cintos, turbulência à vista

Coluna foi publicada no domingo (21)

José Vicente de Sá Pimentel | 22/07/2024, 12:39 12:39 h | Atualizado em 22/07/2024, 12:39

Imagine um filme sobre as eleições presidenciais na nação mais poderosa do mundo. Um dos candidatos perdeu as eleições anteriores e insuflou uma multidão de apoiadores a atacar o prédio que abriga o Congresso, símbolo da democracia.

O mesmo candidato aguarda a sentença decorrente da sua condenação pelo crime de fraude contábil, que cometeu para ocultar o pagamento de 130 mil dólares a uma atriz pornô. No entanto, o seu partido mantém-se fiel a ele, que é idolatrado por metade dos eleitores do país.

Em campanha, ao discursar num comício, protegido por dezenas de policiais locais e por destacamento do Serviço Secreto, o candidato é atingido (na orelha, improbabilissimamente) por bala de um fuzil AR-15, disparada por um rapaz de 20 anos, sem antecedentes criminais ou filiação ideológica conhecida, instalado sobre a laje de um prédio localizado a cerca de 130 metros de distância.

Falha de segurança? Vaudeville encenado? As investigações prosseguem, uma aos cuidados do Serviço Secreto, outra, independente, solicitada pela Casa Branca.

Estranho? Pois fica mais estranho ainda. Cinco dias após o atentado, o candidato, com curativo na orelha e tom messiânico no discurso, é aclamado na convenção de seu partido por apoiadores, ou adoradores, com curativos de mentirinha nas orelhas.

No roteiro do filme, o outro candidato é o presidente do país, tem 81 anos e apresenta evidentes sinais de senilidade. Tem frequentes lapsos de memória e notória dificuldade de locomoção, sintoma talvez de alguma forma de Parkinson.

Contudo, por convicção, teimosia ou húbris, ele se recusa a abandonar a campanha, deixando seus correligionários perplexos e a opinião pública mundial assustada. Há pressão de líderes partidários para que o presidente abandone a disputa aumenta, mas o impasse subsiste, enquanto ele se retira para sua residência particular, a fim de curar uma segunda infecção por covid.

Esse roteiro seria rotulado de inverossímil, se o filme não retratasse a pura realidade. Pior, não é sequer original. Em 1968, Martin Luther King e Robert F. Kennedy sucumbiam a atentados mortais, em meio a uma campanha presidencial violenta.

O então presidente Lyndon Johnson, depois de muito relutar, retirou a sua candidatura perto da convenção, previsivelmente tumultuada, do Partido Democrata, em Chicago. Hubert Humphrey foi escolhido, sem muita convicção dos líderes partidários, o que resultou na vitória do Republicano Richard Nixon.

Hoje, a sociedade americana está mais polarizada do que nos anos 60. As relações entre democratas e republicanos estão no limite, cada um acreditando que a eleição do oponente é uma ameaça real a seus valores e à própria sobrevivência do país.

Basta ver que, na convenção encerrada na sexta-feira, várias lideranças republicanas responsabilizaram Biden pelo atentado, ao dizer que Trump é perigoso e que sua vitória em novembro coloca em risco a democracia americana.

A convenção nacional do partido está marcada para os dias 19 a 22 de agosto, por coincidência em Chicago. Tudo parece indicar que as próximas semanas serão decisivas para definir não só o pleito presidencial, mas também a composição da Câmara e do Senado.

Da convenção até 5 de novembro, restarão pouco mais de 70 dias para os democratas evitarem a goleada eleitoral que os republicanos prometem infligir- lhes. Se os republicanos ganharem, os Estados Unidos e o mundo vão ter de lidar com Trump. Se perderem, não será menos complicado. A crença na vitória diminui mais ainda a possibilidade de Trump e seus seguidores republicanos aceitarem um resultado eleitoral negativo. Um cenário potencialmente explosivo.

É conhecida a capacidade dos Estados Unidos para exportar suas ideias e tendências. O que é publicado, televisado ou postado por lá tende a repercutir em todos os continentes. A polarização política não é privilégio dos americanos, mas o acirramento dos ânimos entre eles deve estimular a intensificação dos embates entre esquerda e direita no Brasil e em nosso entorno. Apertem os cintos, turbulência à vista.

SUGERIMOS PARA VOCÊ: