Como a alta de juros influencia os setores?
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (10)
Sejamos claro: o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a Selic (10,50% > 10,75%) por conta do aumento da pressão inflacionária e da instabilidade fiscal. Esse é o tom do mercado.
Esse foi o tom do comunicado divulgado no dia 18 de setembro pelo Banco Central. Outro dado que ajudou a subida da Selic foi o número apresentado pelo PIB.
Surpreendentemente, o PIB cresceu 1,4% no 2º trimestre, avançando 3,3% em um ano, ampliando o “hiato do produto”, ou seja, a diferença entre o crescimento potencial e o real da economia.
Esse aquecimento da economia mantém em níveis baixos o desemprego, pressionando os salários. Consequentemente, eleva-se o risco de inflação no curto e médio prazo.
O mercado de trabalho está aquecido. Isso é fator de pressão inflacionária, especialmente nos setores mais sensíveis à atividade econômica, como o de serviços. Assim, esses vetores inflacionários têm exigido, por parte do Copom, uma postura mais rigorosa quanto aos juros.
Está claro, portanto, a postura mais “fiscalista” adotada pelo Banco Central. E nos parece que o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tem postura semelhante.
Por outro lado, em recente artigo, escrito por Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente da CVM, a maximização do ganho financeiro acontece em detrimento do setor industrial, afetando assim seu desempenho.
Segundo Teixeira, bem distantes dos padrões mundiais de países que conosco concorrem, a elevação dos juros inviabiliza economicamente projetos cuja rentabilidade é afetada pelo nosso custo de capital.
Em outras palavras, projetos inviabilizados geram impacto na política industrial e na produtividade. Os mais sensíveis seriam projetos na área de infraestrutura onde nossas necessidades são claras.
Nesse quadro se insere também a dívida pública que tem seus custos ampliados, pois o Estado, grande tomador de recursos, é obrigado a pagar taxas de mercado para poder ter acesso a esses recursos para financiar a dívida, que ao final é paga pela sociedade.
Dessa forma, sem que o País retome seus investimentos liderados pelo setor privado, continuaríamos marcando passo para sermos mundialmente competitivos.
Contraponto feito, a ata do Copom, divulgada no dia 25/9, reforça a visão sobre a responsabilidade fiscal, embasada em regras previsíveis e transparentes que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos. Não é o que temos visto, atualmente.
Esse pragmatismo é importante para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, impactando, por sua vez, uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.
Informação recente: a agência de classificação de risco, Moody's, elevou (1º/10) a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1.
Em outras palavras, o País está a um passo do chamado grau de investimento, ou seja, um selo de bom pagador concedido pelas agências, que assegura aos investidores um menor risco de calotes.
Como nem tudo são flores, a Moody’s abordou, como destaque, justamente o tópico anterior sobre política fiscal crível. A atual perspectiva positiva pode mudar para “estável” caso haja um “enfraquecimento do compromisso ou da capacidade do país de implementar a consolidação fiscal”, ou seja, o aumento contínuo nos custos de financiamento do governo também enfraqueceria a solvência do rating soberano.