Mãe, eu não quero ser você
Confira a coluna desta quinta-feira
Meu mundo virou de cabeça para baixo quando o meu filho mais velho, adolescente, depois de um longo sermão munido de muitos exemplos da minha vida, me disse isto. Como não, gente?? Lutei tanto para ser quem eu sou.
Para ele ter orgulho de mim (e eu também ter, lógico)! Por que ele não quer ser igual a mim ou ao menos seguir aquilo que pensei para ele (afinal, eu só quero o seu bem!)!?
O negócio é que, ainda quando eu estava imaginando ser mãe, ainda antes de um feto pensar em existir em meu ventre, eu imaginei toda a vida do meu filho!
Isso mesmo, quando jovem, já desejante da maternidade, eu tinha expectativas sobre quem e como seria a vida do meu filho. O imaginava sendo um desbravador, conhecendo o mundo, um grande interessado pelo conhecimento, imaginava o seu corpo, seus gostos, seus ideais... Afinal, ele seria o meu filho!
Eu estudo Psicologia, eu sei! E deveria ser claro para mim que este dia fatídico chegaria. Afinal, nas teorias do desenvolvimento humano aprendemos que o certo é isto mesmo acontecer.
Eles inicialmente não compreendem a sua autonomia e, teoricamente, a relação entre mães e filhos é até simbiótica. Todavia, com o tempo, a autonomia sobre si, as opiniões próprias, as escolhas precisam ser deles.
O rompimento deste elo de significações precisa acontecer para que o filhinho da mamãe torne-se um ser humano completo, em sua individualidade e subjetividade.
E eles dão sinais disto desde a infância. Nós que negamos. A minha pequena, que tem dois anos, por exemplo, está passando pelo terrible two, ou no bom português, a adolescência dos bebês.
Ela coloca a mão na cintura, faz um bico (lindo, inclusive) e diz “não queio”! E não tem quem a convença do contrário! Birra, manha, falta de educação??
Não, apenas uma menina aprendendo o que gosta ou não gosta, quer ou não quer! E está tudo bem! Ao invés de eu ficar chateada com eles, ambos, eu deveria estar orgulhosa!
Afinal, eles estão em um processo de autoconhecimento que eu tanto prezo aqui para vocês! Que falo que é necessário inclusive para sabermos nossos limites e os limites que daremos aos outros, inclusive aos nossos pais!
Eu sei que parte disto é medo! “Não queria que eles passassem pelo que passei”, “enquanto eles estão indo, eu já fui e voltei” e um monte de outros ditados cotidianos de pais preocupados passam na minha cabeça!
Só que eles precisam caminhar a caminhada deles e, enquanto eu os mantiver na bolha da superproteção, eles não serão fortes como eu sou!
Ou seja, se eu os protejo demais, eu dou um tiro no meu próprio pé, porque eu não estarei aqui para sempre (ninguém estará) e eles vão sofrer, eu querendo ou não!
Então, por mais que seja doloroso não termos os nossos sonhos realizados por nossos filhos (estou sendo irônica), é fora deles que eles serão o que desejam ser.
SÁTINA PIMENTA é psicóloga clínica, advogada e professora universitária