Fique triste… só não vá para o abismo!
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (10)
Esta semana ouvi esta frase de uma das minhas melhores amigas (valeu, Tatá). Ela me fez refletir como a tristeza precisa ser acolhida no cotidiano e como precisamos tomar conta do quanto ELA toma conta da gente. É inevitável ficar triste. A vida é difícil demais sim!
Ela não é um mar de rosas e não é perfeita. E não adianta sair por aí fingindo que ela é… e dizer que precisamos ver o lado bom das coisas. Tem coisa que só tem lado ruim e ponto!
Nossa, Sátina! Está depressiva! Depressiva não, pois depressão é sintoma ou às vezes doença. Só triste. E acolho a minha tristeza. Me prostro na cama, como sorvete de flocos do pote, choro a dor, deixo o corpo ficar mole, ouço músicas melódicas, leio poesias melancólicas! Eu ouço o meu sentimento. E este ouvir me faz compreender o que eu sinto. De onde ele vem, como ele chegou até a mim, por que eu o estou sentindo e qual a minha participação nele (é necessário temos responsabilidade também).
Veja, quanto mais me aprofundo no conhecimento sobre o sentimento de dor, mais o compreendo e, logicamente, mais me compreendo dentro dele. E é compreendendo que o tal abismo dito por minha amiga fica evidente, e assim consigo dizer que não quero caminhar em sua direção.
Fingir que nada está acontecendo lhe faz analfabeto de você mesmo. Faz-lhe ser alienado sobre o que lhe afeta e, se você é alheio a isto, você está exposto a tudo e a todos. Nesta compreensão, você cria estratégias conscientes para blindar-se de outros episódios de dor. Aprende neste processo que muito do que está sentindo é devido às expectativas sobre si ou sobre o outro que você mesmo criou. Portanto, é momento de reformulá-las (afinal, não dá para viver sem elas).
Já ouviu falar que é na crise que as pessoas encontram novos caminhos? Pense nas grandes guerras! Muitos dos países destroçados por elas hoje são grandes potências. E, por quê? Porque precisavam ser!
Precisamos ser! Ser nós mesmos, ser o nosso melhor amigo, nosso melhor amor, nosso melhor lugar, nosso melhor abrigo. Ao entendermos isto, damos as costas para o abismo e seguimos o caminho contrário. Então chore, grite, sofra! Mas não permita que a dor seja o único caminho a ser seguido.
A psicóloga do meu filho fala que quem tem a direção da nossa vida somos nós. Então pegue o volante e dê meia volta. Aproveite e marque no seu mapa de viagem (ou da vida) um x naquele lugar que esteve no momento do sofrimento e diga a si “está viagem eu já fiz, não quero mais voltar lá”. E quando estiver vivendo, depois que esta maré passar, olhe o mapa e escolha caminhos diferentes.
E se forem necessários muitos X`s? Não tem problema, olhe para o mapa e veja como você foi forte e passou, compreenda as repetições (sugiro terapia para isto) e entenda que o mundo é gigante e sempre haverá novos e saudáveis caminhos a percorrer. Mude seus hábitos, mude os locais de (con)vivência, mude sua fala, mude você! Pegue o seu voltante e tome posse dos seus caminhos.