A possibilidade de sermos tudo e mais um pouco!
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (24)
Passando o dedo pela tela do celular, gastando tempo nas redes sociais, me deparei com um post que dizia “Como explica para as pessoas que eu gosto de MPB e arte, mas também de trap e funk, de postar e ser low profile, de boteco com cadeira de plástico e de restaurantes superfaturados, de ir à festa socializar e, ao mesmo tempo, sou fã de ficar em casa assistindo série?”.
Vamos primeiro pela segunda parte. Eu sei que ficou horrível, mas é o que vamos fazer! Nós somos pessoas extremamente complexas e não estou aqui falando de maneira pejorativa. Somos sujeitos compostos por diversos “eus” que vamos criando durante a vida.
E essas criações, para algumas teorias, têm característica de adaptabilidade. O que isso quer dizer? Eu aprendo com a minha experienciação que devo agir “assim e assado” na situação X, pois quando assim o fiz “deu certo”, ou seja, consegui passar por aquilo regulando sentimentos como raiva, ansiedade, tristezas, etc.
A adaptação baseada no autoconhecimento faz com que saibamos qual é o papel ou comportamento que precisamos desempenhar no momento certo.
De verdade, as pessoas podem até aparentar ser dicotômicas ou contraditórias, mas apenas estão se adaptando.
Eu brinco que na vida estamos sempre recorrendo a um guarda-roupa (daqueles bem recheados). Quando eu vou dar aula, eu sigo para ele e pego a minha persona professora, constituída por vestes, características físicas e linguagens.
Já quando eu exerço meu papel de mãe, lá estou eu novamente buscando a roupa adequada àquela ocasião.
Todavia, o guarda-roupa não é usado apenas quando eu exerço papéis, mas também para manifestar as minhas emoções e sentimentos.
Quando eu estou feliz, por exemplo, uso roupas coloridas, falo mais alto, brinco e faço piadas de tudo. Enfim, todas estas roupas sou eu: na minha complexidade. E isso é maravilhoso!
Atenção para o aviso, hein! E uso roupas, não fantasias. Na fantasia, eu não admito quem eu sou e me visto do outro.
Vamos agora para a primeira parte. Por que é tão difícil explicarmos para alguém as nossas contradições? Vou dar uma resposta certeira, tá!
Porque o outro deseja estabilidade nas suas relações, e saber quem as pessoas são e como agem nos gera o sentimento de presunção e segurança. A nossa complexidade torna a relação falha e insegura.
Você com certeza já ouviu alguém dizendo por aí “essa pessoa é bipolar” só por que a pessoa no final de semana anterior estava pulando o Carnaval e neste quer ficar em casa debaixo do edredom bem quietinha.
Nem vou entrar no mérito de que a nossa insegurança nos leva a acreditar que sempre o outro tem problemas!
Contudo, veja, nós somos o outro de alguém! Então, se aceitamos a nossa complexidade, por que não aceitaríamos a do outro?
Portanto, todas as vezes que for criticar alguém ou falar que não o conhece devido à sua complexidade, pare e pense que aquela pessoa está vivendo o seu momento e que cada um de nós escolhe a roupa certa para seus eventos.